Covid-19. Locais de culto e eventos religiosos são fonte de contágio nos EUA

por RTP
Jim Urquhart/Reuters

Depois de semanas de confinamento e restrições impostas a quase todas as atividades devido à pandemia, a maioria das igrejas e dos espaços de culto reabriram nos Estados Unidos. Mas desde o início do desconfinament, começaram a surgir surtos associados a celebrações religiosas em todo o país.

Muitas igrejas abriram com todo o cuidado, respeitando as orientações das autoridades de saúde, mantendo o distanciamento social e obrigando os participantes das cerimónias a usar máscara. Muitas outras quiseram retomar a normalidade, ignorando as recomendações de saúde pública. Tanto numas como noutras, têm surgido novos casos de transmissão de Covid-19.

Já foram identificados mais de 650 casos de infeção pelo novo coronavírus, associados a quase 40 igrejas e eventos religiosos nos Estados Unidos desde o início da pandemia, mas grande parte surgiu em junho, depois do alívio das restrições, avança o New York Times.

"O vírus infiltrou-se nos sermões de domingo" e nos "campos de jovens cristãos no Colorado e no Missouri", lê-se na publicação.

No Texas, um pastor afirmou, durante uma celebração em maio, que os participantes se podiam abraçar novamente, como antes da pandemia. Uns dias depois, 50 pessoas, algumas que tinham estado nessa celebração, testaram positivo à Covid-19.

Já na Flórida, o caso foi pior quando uma adolescente de 17 anos morreu com a infeção, no mês passado, depois de participar numa festa de jovens na sua igreja, onde ninguém era obrigado a usar máscara ou a manter distancimento social.

Outro exemplo é o dos membros da Igreja Batista Graystone, em Ronceverte, que começaram a adoecer 10 dias após as cerimónias de domingo terem sido retomadas, no final de maio. O uso de máscara era opcional, e foram confirmados pelo menos 51 casos e três mortes associadas a essa igreja, segundo as autoridades locais.

"Existe uma linha muito ténue entre proteger a saúde e a segurança das pessoas e garantir o direito de ser devoto", disse ao jornal George Murdock, um pastor pentecostal do condado do nordeste de Oregon.
Devoção é questão política?
O problema, como refere o NYT, tornou-se não apenas uma questão de devoção, mas uma questão política.

Enquanto muitas igrejas, mesquitas, sinagogas e outros espaços religiosos tentavam fazer as suas celebrações ou reuniões através da Internet ou em espaços abertos, garantindo a segurança de todos, a reabertura destes locais e a permissão para reuniões passou a ser um tema de discussão política.

Ainda em maio, Donald Trump afirmou que os locais de culto eram um "serviço essencial" e ameaçou anular as ordens de qualquer governador que mantivesse espaços religiosos fechados por causa da pandemia.

Mas atualmente os casos não param de aumentar e as reuniões religiosas começam a ser apontadas como potenciais fontes de transmissão do novo coronavírus. Agora, muitas das igrejas que exigiram permissão para reabrir, estão a ver-se forçadas a fechar novamente as portas aos fieis e a optar por formas alternativas para realizar as cerimónias.

"As nossas igrejas seguiram os protocolos - uso de máscara, entrar por uma porta e sair pela outra, distanciamento social. E mesmo assim as pessoas testaram positivo", disse Cynthia Fierro Harvey, bispa da Igreja Episcopal na Louisiana, onde três igrejas foram obrigadas a fechar novamente.

Mas nem todas as congregações são adeptas das novas regras de segurança, e recusam-se a fechar novamente. Mesmo com os aumentos de infeções a atingirem diariamente recordes, muitas organizações religiosas consideram que as regras estaduais e as orientações das autoridades limitam os "serviços", a quantidade de pessoas nas cerimónias e privam os fieis do direito constitucional ao culto religioso.

Recordando que muitos Estados estão a impor regras e limites de lotação a espaços de culto mas que reabriram espaços como casinos ou ginásios sem qualquer restrição, as organizações consideram que
os governadores estão a desvalorizar o papel da religião.

"Estão a subestimar o papel que a religião desempenha na vida dos norte-americanos e a sugerir que é mais importante ir ao ginásio do que ir à igreja", disse Kristen K. Waggoner, conselheira geral de uma organização religiosa conservadora, no Nevada.

Nas últimas semanas surgiram novos casos associados a grupos religiosos, na Florida, no Kansas e no Havai, mas os especialistas dizem agora que o distancimento social pode não ser suficiente.

Reforçando a descoberta recente que revelou que o coronavírus pode ser transmitido através do ar, os especialistas alertam para o risco de contágio durante as celebrações em espaços fechados.

Embora as principais igrejas, sinagogas e mesquitas de todo o país se tenham esforçado por reabrir e impor novas regras de segurança, alguns dos casos recentes parecem ter ocorrido em cerimónias e espaços de culto em que não era obrigatório o uso de máscara ou a distânca entre os participantes.

Com mais de 3,1 milhões de pessoas infetadas, os EUA continuam a ser o país mais afetado pela pandemia. A verdade é que, desde que a maioria dos Estados norte-americanos reabriu as atividades, incluindo de cariz religioso, os números têm atingindo recordes quase diariamente.
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