Covid-19. Novos casos na China apresentam sintomas diferentes

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Aly Song - Reuters

Os médicos alertaram que os recentes casos de infeção por Covid-19 no nordeste da China apresentam sintomas distintos dos que têm sido observados até agora. O período de incubação e de recuperação é mais prolongado, mas parece deixar menos doentes em estado grave.

Há duas semanas foi detetado um novo foco de infeção por Covid-19 no nordeste da China, com cerca de 50 casos registados. Este novo surto está a surpreender os médicos que examinaram os casos iniciais em Wuhan, o epicentro da pandemia, na medida em que apresentam sintomas diferentes.

O vírus nestes novos doentes tem um período mais longo de incubação, ou seja, demora mais tempo a manifestar-se e a testar positivo, afeta os órgãos de maneira distinta e os pacientes necessitam de mais tempo para recuperar.

Esta nova descoberta foi anunciada pelo médico Qiu Haibo, da Comissão Nacional de Saúde da China, à televisão estatal chinesa CCTV. Qiu, que agora se encontra no nordeste do país, explicou que os casos de infeção nesta zona demoram mais de duas semanas a desenvolver sintomas a partir do momento em que se infetam. Este período mais longo em que os doentes ainda se encontram assintomáticos “criou focos de infeção entre famílias”, explicou o médico.Na província de Jilin, que faz fronteira com a Rússia e a Coreia do Norte, foram diagnosticados dezenas de casos nas últimas semanas, o que levou as autoridades chinesas a restringir as deslocações para fora da província.

Qiu Haibo anunciou ainda que os pacientes deste novo surto nas cidades de Shulan, Jilin y Shenyang não têm tanta febre, mas têm fortes dores de garganta. As consequências nos órgãos internos também aparentam ser diferentes. No foco inicial do novo coronavírus, em Wuhan, os infetados sofreram danos nos rins, intestinos e coração, para além dos pulmões. No caso do nordeste do país, os doentes apresentam consequências mais graves nos pulmões e os restantes órgãos raramente são afetados.

Para além disso, os médicos chamam a atenção para um outro dado interessante: apesar de o período de incubação e de recuperação ser mais lento, a virulência parece ser menor na medida em que apenas dez por cento dos doentes atinge uma situação crítica. Segundo El País, cerca de metade destes pacientes tiveram de ser hospitalizados.
Mutação ou uma maior atenção?
Estas novas características observadas levantam a hipótese de que o vírus esteja a mudar. Um estudo publicado em abril sugere mesmo que o novo coronavírus se transformou em pelo menos 30 variações genéticas diferentes.

“Fornecemos evidências diretas de que o SARS-CoV-2 adquiriu mutações capazes de alterar substancialmente a sua patogenicidade”, diz o estudo, sublinhando que “o desenvolvimento de um medicamento e vacina, embora urgente, precisa de ter em consideração o impacto destas mutações para evitar possíveis armadilhas”.

No entanto, alguns especialistas mostram-se céticos em relação a esta possibilidade de mutação. “Em teoria, algumas mudanças na construção genética podem levar a mudanças na estrutura do vírus ou no seu comportamento”, revelou à agência Bloomberg Keiji Fukuda, diretor e professor clínico da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong. “No entanto, muitas mutações não levam a nenhuma mudança discernível”, explicou.

Os dados divulgados por Qiu Haibo são preliminares e ainda não foram revisto por investigadores independentes, pelo que os especialistas defendem que ainda não permitem retirar conclusões.

Fukuda considera que o mais provável é que estas diferenças observadas neste novo surto na China não tenham uma correlação clara com a mutação do vírus e sublinha que são precisas “provas muito claras” antes de se concluir que o vírus está a mudar.

Os especialistas consideram que estes sintomas diferentes observados no nordeste da China podem explicar-se pelo facto de os médicos agora disporem de mais tempo e meios para observar os doentes. Quando a pandemia surgiu na cidade de Wuhan, os hospitais estavam sobrelotados e havia falta de material, pelo que os médicos apenas conseguiam tratar os casos mais graves de infeção. Neste momento, a China tem a pandemia praticamente sob controlo e surtos como este no nordeste do país são muito mais reduzidos do que o de Wuhan.

Esta sexta-feira, as autoridades chinesas anunciaram um aumento de quatro novos casos de Covid-19 nas últimas 24 horas. Seis pacientes receberam alta, pelo que o número de pessoas infetadas ativas no país se fixou em 82, incluindo oito em estado grave.

Segundo dados oficiais, desde o início da pandemia, a China registou 82.971 infetados e 4.634 mortos devido à Covid-19. Até ao momento, 78.255 pessoas tiveram alta.

A nível global, a pandemia provocou quase 330 mil mortos e o número de infetados é já superior a cinco milhões.
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