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Covid-19. Número de mortos no Japão está a aumentar

por Cristina Sambado - RTP
Reuters

A baixa imunidade contra a covid-19, hospitais sobrelotados e uma população envelhecida está a provocar um elevado número de óbitos por SARS-CoV-2 no Japão que, durante muito tempo, manteve um dos confinamentos mais rigorosos.

O país era um dos que registava uma das taxas mais baixas de mortalidade por covid-19. No entanto, desde o final de 2022 que o número está a subir.

A 20 de janeiro de 2023 atingiu um máximo histórico, ultrapassando o Reino Unido, EUA e Coreia do Sul segundo os dados da Universidade de Oxford.

Com as restrições atenuadas e a baixa imunidade contra a doença da população o país pode estar a passar por um novo pico de infeções, afirmaram à BBC especialistas locais. Durante mais de dois anos, as crianças em idade escolar comiam as refeições em silêncio e algumas escolas chegaram a proibir as conversas à hora de almoço.

A maioria das últimas vítimas mortais são pessoas idosas com várias comorbilidades associadas, acrescentaram os peritos.


“Também é difícil evitar estas mortes com tratamentos”, afirmou Hitoshi Oshitani, um dos principais virologistas do país, que acrescentou que a covid-19 foi apenas a origem para o elevado número de óbitos de idosos.

Segundo o virologista, “devido ao surgimento de variantes e sub-variantes imunitárias e à diminuição da imunidade, está a tornar-se difícil prevenir infeções”.

“A fuga imunitária surge quando o sistema imunitário se torna incapaz de responder contra o agente infecioso. Sabe-se que as novas linhagens da variante Ómicron são especialistas de fuga imunitária”, acrescentou Hitoshi Oshitani.

Antes de a variante Ómicron chegar ao país, os óbitos por covid ocorreram principalmente nas grandes cidades como Tóquio e Osaka. Entretanto alastrou-se a todo o país.

“Em pequenas localidades e zonas rurais, a proporção da população idosa é mais elevada que no resto do país. Este padrão geográfico em mudança pode também contribuir para a tendência crescente de mortes”, explicou Hitoshi Oshitani, que foi conselheiro regional da OMS para a vigilância e resposta a doenças. O Japão é a sociedade mais antiga do mundo e a percentagem de idosos tem vindo a aumentar todos os anos desde 1950.

Os idosos que estão a ser infetados principalmente em lares e grupos comunitários não estão a receber o tratamento imediato, acusa o epidemiologista Kenji Shibuya.

“Um tratamento mais rápido pode ajudar, mas devido à classificação de covid como uma doença da classe 2 ou ‘muito perigosa’, e apenas os hospitais designados podem tratar os infetados. O aumento do número de casos está a sobrecarregar algumas unidades hospitalares”, esclareceu.

Kenji Shibuya apela ainda a que a covid-19 fosse desclassificada e tratada apenas como uma gripe, para permitir que todos os hospitais e clínicas possam tratar os doentes com SARS-CoV-2.

Os dois especialistas afirmaram ainda à BBC que a taxa de mortalidade poderá ter sido inflacionada pela subnotificação de casos de covid devido a infeções assintomáticas e ajustes aos requisitos de notificação por parte dos médicos. O Japão é dos poucos países do mundo que ainda fornece relatórios diários de covid.

A imunidade natural da população japonesa – adquirida através da infeção – era muito baixa até meados do ano passado.


Segundo Yasuharu Tokuda, do Health and Global Policy Institute, “a imunidade natural é maior e mais forte do que a obtida através da infeção. Por isso as baixas taxas de infeção levaram a uma baixa imunidade”.

Hitoshi Oshitani dá o exemplo da Austrália, onde a taxa de mortalidade por covid-19 está a aumentar desde que o país reabriu as fronteiras no início de 2022, depois do país ter estado isolado durante dois anos.
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