Covid-19. Rússia redobra esforços para conseguir vacina em agosto

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ivan Alvarado - Reuters

Apesar de ainda não ter concluído os ensaios clínicos, Moscovo acredita que terá uma vacina contra a Covid-19 aprovada em menos de duas semanas. A rapidez do processo levanta questões relativamente à segurança e eficácia.

Autoridades russas admitiram à CNN que estão focadas em aprovar uma vacina contra o SARS-CoV-2 a 10 de agosto ou mais cedo. Criada pelo Instituto Gamaleya, com sede em Moscovo, a vacina será aprovada para uso público, com prioridade para os profissionais de saúde.

Segundo a agência Reuters, o Instituto Gamaleya concluiu os primeiros testes clínicos realizados em humanos e espera iniciar testes em larga escala em agosto.

“A aprovação acontecerá nas primeiras duas semanas de agosto”, disse fonte próxima à Reuters. “10 de agosto é a data esperada, mas definitivamente será antes de 15 de agosto. Todos os resultados [experimentais] se revelam até agora altamente positivos”, assegurou.

“É um momento Sputnik”, disse à CNN Kirill Dmitriev, líder do Fundo de Investimento Direto Russo, que financia a investigação da vacina, referindo-se ao primeiro satélite lançado com sucesso pela União Soviética, em 1957, na corrida espacial contra os Estados Unidos.

“Os americanos ficaram surpreendidos quando ouviram o sinal do Sputnik. Acontecerá o mesmo com esta vacina. A Rússia chegará lá primeiro”, acrescentou Dmitriev.

No entanto, a CNN sublinha que a Rússia não divulgou dados científicos sobre os testes da vacina, pelo que não consegue assegurar a sua segurança e eficácia. A pressa russa de se tornar o primeiro país no mundo a aprovar uma vacina contra a Covid-19 está a merecer muitas críticas, com acusações a Moscovo de estar a colocar o prestígio nacional à frente da ciência e da segurança da população.

Dmitriev recusa no entanto que o país esteja a comprometer a segurança nacional, argumentando que “o Ministério da Saúde está a seguir todos os procedimentos rigorosos necessários”. “Os nossos cientistas concentraram-se não em serem os primeiros, mas em proteger as pessoas”, garantiu o líder do Fundo de Investimento Direto Russo.
“Temos de garantir que estas vacinas são seguras e eficazes”
Mais de 100 possíveis vacinas estão a ser desenvolvidas em todo o mundo para travar a pandemia e pelo menos quatro projetos estão na fase III de testes em humanos, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo três desenvolvidos na China e outro na Grã-Bretanha.

A vacina da Rússia, por seu lado, ainda não completou a fase II. O plano é completar essa fase a 3 de agosto e de seguida iniciar o ensaio clínico em larga escala, em paralelo com a vacinação dos profissionais de saúde. A vacina utiliza vetores de adenovírus do tipo SARS-CoV-2 que foram enfraquecidos para não se replicarem no organismo. Ao contrário da maioria das vacinas em desenvolvimento, esta baseia-se em dois vetores, não um, e a administração será feita em duas doses.

Cientistas russos justificam a celeridade no desenvolvimento da vacina no facto de ser uma versão modificada de uma vacina já existente para combater outras doenças. No entanto, esta é a mesma abordagem que está a ser adotada por outros países.

Mesmo entre os projetos que já entraram na última fase de testes, os cientistas defendem que existe ainda muito trabalho a fazer antes de as vacinas serem aprovadas. A própria OMS já anunciou que nenhuma vacina estará pronta antes de 2021, sublinhando que, “por muito que nos esforcemos, temos de garantir que estas vacinas são seguras e eficazes”.

“Em termos realistas, só na primeira metade do próximo ano é que veremos pessoas a serem vacinadas”, disse Mike Ryan, diretor-executivo da OMS.

Embora ainda não tenham sido divulgados dados científicos sobre os ensaios clínicos, as autoridades russas já garantiram que essa informação está a ser compilada e deverá ser disponibilizada para revisão e publicação no início de agosto.

No início deste mês, o Reino Unido, EUA e Canadá acusaram Moscovo de tentar roubar informações sobre vacinas e tratamentos contra a Covid-19 de instituições académicas e farmacêuticas de todo o mundo. O Kremlin negou estas acusações.

A Covid-19 já infetou mais de 16 milhões de pessoas em todo o mundo e há já mais de 661 mil mortos. A Rússia é o quarto país mais afetado pela pandemia, com mais de 827 mil infetados e 13.642 mortos.
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