Covid-19. Vacinas vão perdendo eficácia mas impedem casos severos ou morte, dizem especialistas

por Carla Quirino - RTP
Amr Abdallah Dalsh - Reuters

A partir dos dados disponíveis mundialmente, é possível verificar que a variante delta é a dominante em muitos países e que as vacinas podem perder eficácia a prevenir infeções depois de oito meses da inoculação. Mas, da análise desses mesmos dados, também se afere que a vacina tem um papel fundamental anti-covid porque reduz os internamentos em 29 vezes e o número de vítimas mortais também é menor.

Ainda a primeira dose da vacina não chegou a toda a população mundial e já se debate a inoculação da terceira dose em alguns países.

Israel apresenta estudos, embora ainda não revistos de forma independente, que demonstram que as pessoas vacinadas com a terceira dose têm 11 vezes mais proteção contra a doença. Acrescentam esses estudos que a eficácia da vacina diminuíu para 64 por cento, enquanto que os ensaios clínicos, antes da variante delta, registavam uma eficácia de 94 por cento.

O processo científico implica uma constante investigação e atualização e os especialistas tentam desmontar estes dados preocupantes vindos de Israel.

Os Estados Unidos apresentam uma proteção de 86% e, depois da variante delta, regista 84% . As pessoas imunodeprimidas apresentam  63% de proteção. Os dados estatísticos americanos são fornecidos pelo Centro de Controlo de Doenças.

Do Reino Unido, outro estudo demonstra que em mais de 700 mil pessoas a incidência de infeções graves que exigiram hospitalização foi tão baixa que a investigação não detetou qualquer alteração na eficácia das vacinas antes e depois da Delta.

"Os dados de Israel são verdadeiros, mas dizer que eles provam que as vacinas perderam eficácia é falso e tendencioso" diz Jefrey Morris, bioestatístico da Universidade americana da Pensilvânia citado no diário espanhol El País.

E alerta: "Os estudos podem ter muitos fatores de confusão que fazem com que uma percentagem simples seja mal interpretada. A situação da vacinação em Israel traz-nos uma tempestade perfeita desses fatores".

Morris avaliou os dados de Israel analisando ao detalhe os diferentes grupos etários e encontrou outra interpretação.

A vacina tem eficácia de 85% nas pessoas com mais de 50 anos, aproximando os dados aos observados noutros países.

O enquadramento dos dados israelitas também é revisto pelos especialistas internacionais tento em conta o acordo entre Israel e a Pfizer para receber a vacina mais cedo em troca de partilha de dados de saúde. Israel tornou-se o maior defensor da terceira dose de reforço.
Amir Cohen- Reuters

O objetivo das vacinas é prevenir a infeção e embora a proteção possa diminuir com o tempo, permanecem eficazes.

Os especialistas relembram o impacto positivo da vacinação, na generalidade, em todo o mundo porque continua a salvar vidas.

"A vacina ainda é a melhor forma de evitar a Covid-19 grave. Os imunizados têm 29 vezes menos risco de hospitalização do que os que ainda não foram inoculados", destaca Morris.

A equipa britânica de Koen Pouwels, investigador da Universidade de Oxford, apresenta um estudo que analisa a vulnerabilidade das pessoas vacinadas perante a variante Delta.

Uma pessoas vacinada que é infetada com Delta apresenta uma carga viral semelhante às das pessoas infetadas não vacinadas.

A questão dos investigadores é que não se sabe se essa carga viral os torna mais vulneráveis à Covid-19 ou se podem disseminar mais o vírus. "É possível que os vacinados tenham mais cópias do vírus que não sejam contagiosas e é possível que a quantidade de vírus no corpo diminua muito mais rápido", dizem os autores do estudo britânico.

E acrescentam: "Como as vacinas continuam a proteger contra hospitalização e morte por covid, é possível que as doses de reforço não sejam necessárias, especialmente porque as infeções em pessoas vacinadas proporcionam um aumento natural dos anticorpos. É uma espécie de terceira dose natural graças a um contágio que na maioria dos casos dificilmente terá sintomas".

O epidemiologista Miguel Hernán e professor na Universidade de Harvard alerta. "Sem vacinar o resto do mundo, corremos o risco de que novas variantes continuem a aparecer até que o alfabeto grego acabe. Se uma dessas variantes escapar da proteção da vacina, teremos um problema sério apesar das três doses".

No início deste ano um estudo baseado em modelos epidemiológicos estimou que a Covid-19 se transforme numa leve constipação dentro de 10 anos.

Embora não se sabendo ao certo a evolução do vírus, a lógica conhecida permite acreditar que novas variantes serão mais transmissíveis mas terão menor carga viral, diz Morris.
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