Grupos armados no Sahel estão a aproveitar pandemia para intensificar ataques diz ONU

Os grupos armados no Sahel estão a aproveitar a pandemia de covid-19 para intensificarem os seus ataques, considerou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, num documento em que pede "maior cooperação" entre as forças estrangeiras que os combatem.

Lusa /

De acordo com um documento apresentado esta semana ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), citado pela agência France-Presse, o desafio colocado às autoridades é particularmente premente na zona do triângulo Liptako-Gourma, uma zona em que Níger, Mali e Burkina Faso partilham fronteiras.

"Há também indícios de uma maior coordenação e cooperação entre alguns dos grupos terroristas que operam no Sahel, desde a Mauritânia até à bacia do Lago Chade", afirmou o secretário-geral da ONU.

Para Guterres, "a situação desastrosa na região do Sahel é ainda agravada pela propagação da pandemia de covid-19 em África, com grupos terroristas a explorá-la para propaganda e ações, com um impacto potencialmente grave".

Devido à pandemia, a fronteira entre Mali e Mauritânia foi encerrada e as operações da força conjunta G5-Sahel foi suspensa.

"O impacto da pandemia na capacidade da força conjunta e das tropas internacionais para realizar operações nos próximos meses é difícil de determinar nesta fase e terá de ser cuidadosamente estudado", afirmou António Guterres.

Segundo a agência noticiosa, o relatório assinala a evolução da situação no Sahel desde novembro, registando que "as mortes em atentados terroristas" quintuplicaram desde 2016 no Burkina Faso, Mali e Níger, com mais de quatro mil mortos em 2019, face aos 770 de 2016.

De acordo com Guterres, a situação de segurança no Mali e na região "deteriorou-se" desde novembro, com "ataques terroristas cada vez mais complexos contra as forças de segurança".

Nesse sentido, o secretário-geral das Nações Unidas defendeu que "há necessidade de uma maior coordenação entre as diferentes forças e de clareza sobre quem está no comando e quem está no controlo".

De acordo com a ONU, mais de quatro mil pessoas foram mortas em ataques terroristas em 2019 no Mali, Burkina Faso e Níger, tendo o número de pessoas deslocadas aumentado 10 vezes, ficando próximo de um milhão.

Além de uma força conjunta do G5 Sahel - composta por militares de Mali, Burkina Faso, Níger, Chade e Mauritânia -, a região conta também com a operação Barkhane, uma missão das Forças Armadas francesas no Mali, e da Minusma, a missão da ONU no Mali.

Em janeiro, o ministro da Defesa português, João Gomes Cravinho, anunciou o reforço do contingente na Minusma com mais cerca de 70 militares da Força Aérea Portuguesa e uma aeronave C-295, entre maio e outubro.

No final de fevereiro, a União Africana anunciou que está a preparar o destacamento de uma força de três mil soldados para o Sahel, de forma a tentar travar a propagação de grupos `jihadistas` e da insegurança na região.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 269 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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