Imunidade à Covid-19 pode desaparecer em meses, revela novo estudo

por Inês Moreira Santos - RTP
Alkis Konstantinidis - Reuters

A procura por uma vacina eficaz contra o novo coronavírus continua, mas os investigadores receiam que não seja suficiente para garantir a imunidade à Covid-19. Um estudo recente revelou que doentes que recuperaram da infeção não têm quase anticorpos alguns meses após terem sido contaminados.

As pessoas que foram infetadas e já recuperaram da Covid-19 podem deixar de ser imunes apenas alguns meses depois e, assim, voltar a contrair o vírus, como acontece nas gripes e constipações comuns. A conclusão é de uma equipa de investigadores do King's College London, que descobriu que os níveis de anticorpos contra o novo coronavírus tendem a diminuir no organismo.

Os investigadores analisaram a resposta imune de mais de 90 pacientes e profissionais de saúde do hospital St. Thomas, que foram infetados pelo vírus, e concluíram que o nível de anticorpos capazes de combater o coronavírus diminuiu na maioria dos indivíduos.

O estudo mostrou que 60 por cento das pessoas analisadas mantinham o nível "potente" de anticorpos necessários para resistir a infeções futuras nas duas semanas a seguir a surgirem os primeiros sintomas - ou seja, no pico da infeção. No entanto, após três meses de serem infetados menos de 17 por cento mantém valores suficientes de anticorpos.

Isto é, os níveis de anticorpos podem descer até 23 vezes e, em alguns casos, até tornar-se indetetáveis, num período de apenas três meses.

"As pessoas estão a produzir uma resposta razoável de anticorpos ao vírus, mas está a diminuir num curto período de tempo e, dependendo do quão alto são os valores no pico, isso determina quanto tempo os anticorpos permanecem no organismo", explicou ao Guardian Katie Doores, principal autora do estudo.
Nuno Carvalho - Antena 1

Esta investigação britânica é a primeira a considerar os níveis de anticorpos em doentes recuperados, após três meses destes serem infetados e os resultados podem ser úteis para o desenvolvimento de uma vacina.
Vacina garante imunidade por mais tempo?

Este estudo sobre a imunidade e os níveis de anticorpos no organismo de doentes recuperados pode contribuir para o desenvolvimento de uma vacina e na investigação de uma potencial "imunidade de rebanho".

O sistema imunitário pode encontrar várias formas para combater o coronavírus, mas se os anticorpos forem o principal agente de defesa, as pessoas podem ser infetadas mais do que uma vez, sazonalmente, e as vacinas podem perder a eficácia em pouco tempo.

"As respostas dos anticorpos (Ab) à SARS-CoV-2 podem ser detetadas na maioria dos indivíduos infetados dez a 15 dias após o início dos sintomas da Covid-19. No entanto, devido ao recente aparecimento deste vírus na população humana, ainda não se sabe por quanto tempo essas respostas imunitária serão mantidas ou se fornecerão proteção contra uma reinfecção", escreveram os autores da investigação.

Para a investigadora Katie Doores, este é o "momento" para estudar a imunidade, até perceber a eficácia das potenciais vacinas em desenvolvimento.

"Se a infeção está a potenciar níveis de anticorpos que diminuem em dois ou três meses, a vacina provávelmente fará a mesma coisa", adiantou Doores.

"As pessoas podem precisar de um reforço e uma injeção pode não ser suficiente".

A equipa descobriu ainda que os níveis de anticorpos foram superiores mais e duraram mais no organismo de pacientes cuja infeção provocou sintomas graves. - o que é fácilmente explicado considerando a necessidade maior do organismo em produzir anticorpos como resposta aos sintomas mais severos.

Sabe-se que antes do Sars-Cov-2, os seres humanos já tinham tido contacto com outros coronavírus, o que pode ajudar os investigadores a comparar a resposta imunitária do corpo humano.

"Uma coisa que sabemos sobre esses coronavírus é que as pessoas podem ser reinfectadas com bastante frequência", afirmou ao jornal britânico o professor Stuart Neil, co-autor do estudo. "O que isso pode significar que a imunidade protetora gerada pelas pessoas não dura muito tempo. Parece que o Sars-Cov-2, o vírus que causa o Covid-19, também pode ter este padrão".

Para os autores é claro que os resultados de uma imunidade pouco duradora, já anteriormente referida por outras equipas de investigação, põe em causa a teoria da "imunidade de rebanho".

Os cientistas começam a recear que os anticorpos neutralizantes diminuam também e que, no caso de uma reinfeção, não funcionem como "proteção natural". E, mesmo sendo novamente infetados e com sintomas mais ligeiros, os indivíduos continuam a ser uma fonte de transmissão do coronavírus.

É necessário, portanto, que as vacinas consigam ser mais eficazes do que a proteção natural do sistema imunitário, prevenindo novas infeções - o que pode exigir vacinação de reforço sazonal, principalmente nos grupos de risco.

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