Portugal entre os países europeus com maior queda no turismo

por RTP
Rafael Marchante - Reuters

Portugal é o terceiro país europeu com uma maior queda a nível do turismo internacional este ano devido à pandemia da Covid-19. Um estudo da Oxford Economics revela que a queda será de 40 por cento, ultrapassada apenas por Espanha e Itália. A European Travel Comission (ETC) prevê mesmo que o próximo verão na Europa será como “regressar aos anos 1970 ou 1980”.

De acordo com o estudo da Oxford Economics, a consultora britânica sobre os impactos da Covid-19 no turismo europeu, este ano Portugal deverá registar menos sete milhões de entradas internacionais, o equivalente a uma queda de 40 por cento em comparação com 2019.

Em termos percentuais, Portugal é apenas superado na redução dos visitantes por Itália e Espanha, os países europeus mais afetados pela pandemia. Segundo o estudo ao qual a agência Lusa teve acesso, Itália é o país europeu com uma maior queda no turismo, com um recuo de 49 por cento, menos 31 milhões de visitantes. Na vizinha Espanha, o recuo será de 42 por cento, traduzido numa queda no número de visitantes de 34 milhões face ao ano anterior. Há hotéis portugueses que perderam praticamente 100 por cento das receitas de abril e maio. Hotéis no Algarve preveem uma ocupação de 10 a 15 por cento na chamada época alta.

Já em termos de volume, o Estado-membro com maior recuo nas chegadas turísticas internacionais é França, com uma queda também de 40 por cento, o equivalente a menos 38 milhões de visitantes face a 2019.

França, que também está a ser bastante afetada pela Covid-19, é responsável por cerca de 13 por cento das entradas internacionais em toda a Europa.

O sul da Europa é a região mais afetada pelo recuo do turismo internacional, caindo ao todo 40 por cento em 2020, após um crescimento de cinco por cento em 2019.
Portugal dependente do turismo
Juntamente com Itália e Espanha, Portugal é um dos países onde o Produto Interno Bruto (PIB) mais depende do turismo, num total de 16,5 por cento, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. Na semana passada, o ministro da Economia também admitiu “cenários pesados para o turismo”. Pedro Siza Vieira considera que o setor vai ter a retoma mais lenta de todos, apesar de estar convencido de que comece a acontecer já no próximo ano.

Grécia é outro Estado-membro europeu muito dependente do turismo. Neste país, de acordo com a Oxford Economics, a queda no número de chegadas é de 36 por cento, equivalente a menos 11 milhões de turistas.

A Grécia, por exemplo, não é dos países mais afetados pela Covid-19. O país conta com 2.506 infetados e apenas 130 mortos, no entanto, a queda no turismo é acentuada. Nestes casos, a consultora britânica explica que “mesmo nos casos em que o número de casos [de Covid-19] num país é relativamente baixo, tendem a existir restrições semelhantes em matéria de viagens e de movimentos", o que justifica estas quedas acentuadas.
Recuo a 1970
A nível europeu, a Oxford Economics prevê uma queda de 39 por cento nas viagens de turismo em 2020. Assumindo que a Covid-19 afeta o turismo europeu durante oito meses (fevereiro a setembro), entre alturas de confinamento e de levantamentos faseados das restrições, a entidade estima menos 287 milhões de chegadas internacionais na europa.

Ainda assim, a consultora britânica nota que "a duração potencial das proibições de viagem é ainda bastante incerta", pelo que os números poderão alterar-se e até piorar, caso "as restrições de viagens continuem e atinjam o pico da época" turística, isto é, julho e agosto.

A European Travel Comission (ETC) prevê mesmo que o próximo verão na Europa será como “regressar aos anos 1970 ou 1980”, com os europeus a optarem pelo turismo de proximidade.

Dadas as fortes restrições para tentar conter a propagação do surto, entre as quais limitações às viagens, Eduardo Santander, diretor executivo da ETC, antecipa que "o espaço Schengen continue fechado a viajantes de mercados terceiros até final do ano", razão pela qual "o destino [europeu] estará focado maioritariamente nos turistas domésticos [...], que procurarão `resorts` próximos ou locais para férias perto de casa".

"Todos temos de começar a pensar em alternativas e neste verão, provavelmente, viajaremos de forma diferente, não indo para longe, não apanhando voos longos, talvez optando por viagens curtas, de comboio ou de carro, como os nossos pais faziam há 40 ou 50 anos", afirma em entrevista à agência Lusa Eduardo Santander.

O responsável espanhol considera que “a única solução” é mesmo a de “reinventar o setor”,
nomeadamente na temporada alta:

"Penso que há uma oportunidade na crise: o turismo estava a atingir uma capacidade limite devido ao seu aumento exponencial, que já era quase insustentável em alguns locais, [...] e agora podemos reajustar a forma de fazer turismo, para que seja mais educativo, para se tornar mais competitivo e seguir práticas sustentáveis".

A curto prazo, serão, então, privilegiadas "viagens conscientes, percebendo melhor o que se quer fazer em férias, não apenas tendo em conta os preços baixos, e optando antes por gastar em produtos ou comunidades locais, para que o dinheiro seja gasto onde é mais necessário", prevê Santander.

O primeiro-ministro António Costa também apelou aos portugueses que passem férias em Portugal durante este verão.

375 mil milhões de euros para recuperar
Tendo em conta a crise no setor do turismo provocada pela pandemia, a ETC estima que o turismo europeu necessite de 375 mil milhões de euros para recuperar e para restabelecer as suas operações.

"As estimativas da União Europeia [UE] são à volta de 255 mil milhões de euros para ajudar os Estados-membros a recuperar a indústria e mais cerca de 120 mil milhões de euros para investimento extra, para ajudar os empreendedores e operadores a restabelecerem as suas operações", afirma Eduardo Santander.

Com o turismo europeu estagnado, o responsável assinala que "o turismo passou de [uma atividade] de 100 por cento para zero" e está hoje "reduzido a praticamente 10 por cento do que era", dadas as perdas totais.

"Desde as empresas de cruzeiros, passando por outros operadores e, em particular, pelas companhias aéreas, todos têm enormes perdas, com quedas entre 45% para as transportadoras aéreas -- que fazem alguns outros serviços além de passageiros -- e os 70% para hotéis e restaurantes", precisa o responsável espanhol.

Notando que em países como Portugal e Espanha "há agregados familiares que dependem do turismo, de forma direta ou indireta", Eduardo Santander estima que esta crise "se reflita num elevado desemprego" no setor a nível europeu.

Eduardo Santander apela, por isso, a “medidas extraordinárias” para financiar o setor, inclusive por parte da Comissão Europeia. O diretor executivo da ETC sublinha que um outro apoio a conceder a estas empresas consiste em garantias estatais em casos de cancelamento de férias ou de viagens com os Estados-membros a assumirem o risco perante a emissão de `vouchers` aos consumidores visando adiamentos ou futuros reembolsos.

"Sem liquidez, nenhuma empresa irá sobreviver, é uma questão de proteger o mercado", justifica, saudando as "medidas certas" que estão já a ser adotadas neste âmbito em Portugal.

Ainda assim, Eduardo Santander diz à Lusa que o setor começa a "ver alguma luz ao fundo do túnel", perante o levantamento faseado das restrições nas viagens dentro da Europa, argumentando que é preciso agora "lutar para recuperar a imagem" do turismo europeu, "para não só restabelecer a procura, como também para restabelecer a confiança entre futuros visitantes".

c/Lusa
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