"República das bananas". Pfizer suspende entrega de vacinas a Israel por falta de pagamento

por Inês Moreira Santos - RTP
Stepanie Lecocq - EPA

A Pfizer suspendeu novas entregas da vacina contra a Covid-19 a Israel, após o Governo israelita não ter aprovado a transferência do pagamento das anteriores 2,5 milhões de doses que o país recebeu. Segundo o diretor-geral do Ministério da Saúde, Chezi Levys, as encomendas desta farmacêutica ficam suspensas até que sejam assinados novos acordos de compra.

"A entrega das vacinas incluídas nos acordos que não foram assinados foi suspensa", disse Levy à Rádio do Exército. "Prevê-se que a Pfizer renove o abastecimento só depois de o Governo convocar uma reunião e aprovar os novos contratos de aquisição".

A suspensão da entrega de mais vacinas da Pfizer foi anunciada no domingo e aconteceu depois de o ministro israelita da Defesa, Benny Gantz, se ter recusado, na semana passada, a convocar o gabinete responsável pelo combate à pandemia para uma reunião para aprovar um orçamento para a aquisição de novas doses de vacinas.

Segundo o Jerusalem Post, membros responsáveis da farmacêutica receiam que o Governo israelita em transição não pague e que, ao entregar doses adicionais de vacinas, a empresa seja "explorada". A Rádio do Exército, ao anunciar a suspensão das encomendas, afirmou ainda que a Pfizer referiu-se a Israel como uma "república das bananas".

Estava previsto que chegasse um carregamento de 700 mil doses a Israel no domingo, mas foi interrompido até novo aviso. A suspensão das novas encomendas à Pfizer foi anunciada pelo diretor-geral do Ministério da Saúde, que explicou que a recusa de Gantz em convocar a reunião para aprovar o orçamento se deve, essencialmente, a motivos políticos.

O ministro da Defesa estará em conflito com o primeiro-ministro depois de este ter recusado realizar uma eleição para a nomeação de um novo ministro da Justiça. O mandato de Benny Gantz como ministro interino da Justiça terminou na semana passada, mas o ministro pretendia que fosse nomeado - ele ou outro candidato ao cargo - um ministro interino temporário até à formação do novo Governo.

Embora tenha sido anunciada a suspensão, a Reuters avança que ao final do dia de domingo a Pfizer assegurou estar a preparar novo acordo para fornecer vacinas contra a Covid-19 a Israel.
Governo não aprova pedido de compra
Na semana passada, o Ministério da Saúde de Israel divulgou um edital sobre a compra de novas vacinas, alegando que havia necessidade de adquirir doses adicionais para preparar o país para "vários cenários".

"Queremos esclarecer que, ao mesmo tempo que mantemos os acordos de confidencialidade de Israel com as empresas farmacêuticas, Israel tem apenas doses suficientes para a atual fase de vacinação. É importante proceder à compra de milhões de vacinas adicionais para nos prepararmos para vários cenários, como a necessidade de doses de reforço, a vacinação de crianças com mais de 12 anos (após estudos e aprovação do FDA) e a possibilidade de variantes resistentes a vacinas".

Israel pagou os primeiros 10 milhões de doses de vacinas que recebeu para dar início à sua vacinação em massa. Mas quando o país do Medio Oriente começou a ver diminuída a sua disponibilidade financeira no início de 2021, a farmacêutica concordou em enviar doses adicionais. Contudo, o Governo nunca aprovou o pedido de compra de novas doses da vacina.

Até agora, Israel gastou 2,6 mil milhões de NIS (sigla da moeda nacional, novo shekel israelita) em vacinas contra o coronavírus, segundo anunciou a Comissão Financeira do Knesset no mês passado.

Mas, de acordo com a imprensa israelita, o Ministério da Saúde tem pressionado o Governo para aprovar os 3,5 mil milhões de NIS para a compra de doses adicionais - mais de 30 milhões de vacinas. No entanto, a reunião para a aprovação do orçamento foi adiada indefinidamente devido a um conflito entre Benjamin Netanyahu e Benny Gantz.

O Jerusalem Post avança ainda que o ministro da Saúde, Yuli Edelstein, tentou chegar a conversações com Gantz no domingo à noite no sentido de tentar persuadi-lo a prosseguir com o pagamento e a compra de mais vacinas.

Uma porta-voz de Gantz disse ao jornal que "embora o primeiro-ministro tenha feito muito para prejudicar o funcionamento do Governo", o ministro interino "não fará nada que afete a saúde do povo de Israel ao negar as vacinas".

Entretanto, fontes do gabinete de Gantz asseguraram que, se esta reunião é tão urgente, "tudo o que Edelstein tem de fazer é ligar para o primeiro-ministro e pedir-lhe que nomeie um ministro da Justiça". As mesmas fontes afirmaram ainda, segundo a publicação, que a compra dos 2,5 milhões de vacinas já foi aprovada e que o eventual atraso no pagamento é da responsabilidade do Ministério da Saúde.

O gabinete de Gantz revelou também que o país já adquiriu 27 milhões de vacinas - incluindo vacinas da Pfizer, da Moderna e da AstraZeneca - e que "isso deve bastar no futuro próximo". A aquisição de vacinas adicionais exige o devido processo e deliberação, esclarece também.
Autoridades de saúde receiam atraso na vacinação
No meio deste conflito político e do atraso no pagamento à Pfizer, as autoridades de saúde receiam que o programa de vacinação em massa seja afetado e fique atrasado, considerando a procura por vacinas no resto do mundo.

O comissário do gabinete responsável pelo combate à pandemia, Nachman Ash, disse ao Jerusalem Post que, se Israel não assinar rapidamente os contratos necessários, não vai conseguir vacinar os mais jovens ou fornecer aos cidadãos vacinas de reforço contra variantes resistentes à vacina, ou se a imunidade diminuir.

"Há uma competição real para comprar vacinas por países em todo mundo", disse Ash numa entrevista na semana passada. "Queremos reservar o nosso lugar no topo da lista e não ser empurrados para o fim e não conseguirmos obtê-las [vacinas] quando forem mais necessárias".

A Pfizer anunciou recentemente que a vacina era segura e eficaz contra a Covid-19 também em crianças e agora espera aprovação das agências de medicamento. Já o diretor-geral do Ministério da Saúde, Chezy Levy, afirmou no fim de semana que os adolescentes israelitas podiam ser vacinados em breve se a vacina fosse aprovada.

Recorde-se que em janeiro Netanyahu revelou que Israel tinha fechado um acordo com a Pfizer para obter 10 milhões de doses da vacina contra o novo coronavírus, incluindo uma promessa de entregas de 400 a 700 mil doses todas as semanas, garantindo a continuidade do processo de vacinação em massa. Embora a taxa de infeção no país tenha diminuído nas últimas semanas, as autoridades receiam que esta suspensão da entrega das novas remessas de vacinas afete todo o processo.

Prevê-se que ainda esta semana o Governo israelita convoque finalmente a reunião com o gabinete resposável pelo combate à pandemia para debater a aprovação do orçamento e comprar mais vacinas. No entanto, fontes do Ministério da Saúde dizem que receiam que seja "tarde demais".
Tópicos
pub