Trump usa máscara pela primeira vez em público, após meses de recusa

por Joana Raposo Santos - RTP
A mudança no discurso de Trump acontece numa altura em que os EUA alcançaram um novo recorde no número de novos casos diários. Foto: Tasos Katopodis - Reuters

O Presidente norte-americano utilizou máscara pela primeira vez em público desde que a pandemia de Covid-19 teve início, após meses de recusa em fazê-lo, durante uma visita ao hospital militar Walter Reed.

“Nunca fui contra as máscaras, mas acredito que há um lugar e uma altura para elas”, justificou Donald Trump ao sair da Casa Branca para se dirigir ao hospital militar. “Penso que quando se está num hospital, especialmente neste cenário em particular, no qual se vai falar com muitos soldados e pessoas que, em alguns casos, acabaram de sair do bloco operatório, penso que usar máscara é algo óptimo”.

Já na semana passada, o líder da Casa Branca tinha dito em declarações ao canal Fox Business que estava de acordo com a utilização deste equipamento de proteção individual. “Apoio totalmente as máscaras”, assegurou, acrescentando que “até gosta” de se ver com uma colocada. A mudança no discurso de Trump acontece numa altura em que os EUA alcançaram um novo recorde no número de novos casos diários, registando no sábado 66528 novas infeções em apenas 24 horas.

Quando o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA começou, em abril, a recomendar a utilização geral de máscaras em público para impedir a propagação do novo coronavírus, o Presidente disse aos jornalistas que não iria seguir essa prática.

“Acho que não vou fazer isso”, declarou na altura. “Usar uma máscara enquanto cumprimento presidentes, primeiros-ministros, ditadores, reis, rainhas – não me imagino a fazê-lo”.

Na mesma ocasião, Trump deu ainda aos cidadãos a opção de não utilizarem esse equipamento de proteção, em vez de os encorajar: “Vai ser uma coisa muito voluntária. Podem fazê-lo, mas não têm de o fazer. Eu escolho não o fazer”.
Recusa em usar máscara dura há quatro meses
Assim, contra as recomendações dos próprios especialistas de saúde da Casa Branca, Trump passou meses sem utilizar máscara em qualquer ocasião pública. Ainda na sexta-feira, o líder aterrou em Miami, um dos sítios mais atingidos pelo novo coronavírus nos Estados Unidos, sem máscara colocada.

Miami tem em vigor, inclusivamente, a obrigação de utilização de máscara em espaços públicos para impedir a propagação do vírus. No entanto, um porta-voz do aeroporto da região explicou que o Presidente estava dispensado da medida, uma vez que iria diretamente do avião para a limusine. Mas tal não se verificou.

Antes de entrar na limusine, Trump conversou com o presidente da Câmara do condado de Miami-Dade e com outros dois autarcas. Todos, à exceção do Presidente, utilizavam máscaras, mas no final do encontro um deles retirou-a para falar mais um pouco com Trump. Os três homens disseram ter sido testados antes de se encontrarem com o líder.

No início deste mês, em entrevista à Fox News, o Presidente tinha insistido que a utilização de máscara não precisa de ser obrigatória, uma vez que “em muitos sítios do país as pessoas ficam a uma grande distância umas das outras”, e previu que a infeção vai acabar por “desaparecer” em algum momento. Usou ainda como argumento o facto de “não estar habitualmente numa posição” em que possa ser contagiado, uma vez que “toda a gente é testada” à Covid-19 antes de se encontrar com ele. Trump não utilizou máscara em nenhum dos vários comícios em Estados norte-americanos nos quais discursou perante multidões de milhares de pessoas, muitas delas também sem qualquer proteção.

Um dia depois dessa entrevista, na qual disse que estaria aberto à utilização de máscaras em ambientes onde tal se justificasse, como entre multidões, o Presidente apareceu numa conferência de imprensa na Casa Branca sem utilizar qualquer equipamento de proteção individual.

Após o discurso de Trump, o secretário do Tesouro afirmou aos jornalistas que o Presidente “apoia o uso de máscaras”, mas que não precisa de as utilizar pois “como é o Presidente dos Estados Unidos as pessoas não se aproximam muito dele, e quem o faz é testado”. “Mas o resto de nós deve absolutamente fazê-lo”, defendeu Steven Mnuchin.

Também recentemente, nas celebrações do 4 de Julho no Monte Rushmore, Trump e a maioria dos seus convidados foram de cara destapada.

Outra ocasião polémica foi a visita de Trump a uma fábrica da Ford no Michigan, em maio, na qual o presidente da fabricante de automóveis encorajou o Presidente norte-americano a utilizar máscara e o mesmo aceitou, mas apenas durante alguns instantes. Quando chegou a altura de falar aos jornalistas, Trump retirou o equipamento, dizendo não querer ceder à pressão e às críticas da comunicação social. “Não quero dar à imprensa esse prazer”, justificou.
Biden criticado por usar máscara
Para além de se recusar consistentemente a usar máscara, Trump chegou mesmo a fazer pouco do rival democrata Joe Biden por este o fazer. “É como se todo o rosto dele estivesse tapado. É como se tivesse colocado uma mochila sobre o rosto”, disse o Presidente ao Wall Street Journal.

No Twitter, partilhou no final de maio um tweet do jornalista Brit Hume no qual uma fotografia de Biden a utilizar uma máscara preta é acompanhada da frase “isto pode ajudar a explicar por que razão Trump não gosta de utilizar máscara em público”.


A campanha de Biden já reagiu ao facto de o Presidente ter utilizado máscara na recente visita ao hospital militar, com o porta-voz Andrew Bates a considerar que Trump “desperdiçou” quatro meses a desencorajar pessoas de usarem máscara enquanto Biden “deu o exemplo desde o início”.

A relutância de Trump em usar máscara parece refletir-se na atitude dos seus apoiantes. Uma sondagem recente da empresa de pesquisa Pew revelou que 52 por cento dos apoiantes do Partido Republicano defenderam a utilização de máscara, em contraste com 86 por cento dos apoiantes do Partido Democrático.

Os Estados Unidos continuam a ser o país mais afetado pela Covid-19, tanto a nível de casos de infeção (3,2 milhões) como de mortes (mais de 134 mil).

c/ agências
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