Cultura
75 anos depois, nem tudo o vento levou
A 15 de dezembro de 1939, estreava na cidade de Atlanta, na Geórgia, uma película que perdurou no imaginário comum norte-americano até aos dias de hoje, e simultaneamente um dos maiores sucessos de sempre na história do cinema. Nomeado para 13 Óscares da Academia, venceu oito, incluindo o de melhor filme.
Nicholas Barber, da BBC, descreve o filme "E Tudo o Vento Levou" como “um dia dos Namorados para o Sul esclavagista, e uma carta escrita com veneno para o Norte anti-escravidão”.
Baseado num longo romance de 1936 (também ele um bestseller) de Margaret Mitchell, a produção do filme foi desde o início polémica.
David Selznick comprou os direitos do livro por 50 mil dólares mas o processo de transformar um livro com mais de mil páginas num guião para um filme de quatro horas foi moroso, mesmo com a ajuda de F. Scott Fitzgerald. Para a realização, Selznick chamou o polémico George Cukor, que foi substituído pouco depois por Victor Fleming.
Com um ajuste da inflação, este continua a ser o maior sucesso de sempre nas bilheteiras. No top 250 do IMDB (Internet Movie Database), o filme aparece em 157º lugar, à frente dos históricos “It’s a Wonderful Life”, “The Godfather”, “Fight Club” ou “Schindler’s List”
Centrado essencialmente no enredo amoroso protagonizado por Vivien Leigh (Scarlett O’Hara), Leslie Howard (Ashley Wilkes), Olivia de Havilland (Melanie) e Rhett Butler (Gable), o filme é envolvido na realidade da Guerra Civil Norte-Americana e o subtexto remete para os temas pesados da escravatura e a segregação racial.
“Deves ser firme com os inferiores” Esta é uma das deixas do pai de Scarlett quando se refere aos negros que servem na famosa Tara, uma das muitas referências diretas e indiretas às questões raciais do contexto histórico da guerra civil, mas também do contexto histórico e soclal em que o filme é recebido.
Fora da grande tela, a segregação era ainda bem real na cidade de Atlanta. Hattie McDaniel, que interpreta o papel da criada “Mommy”, foi a primeira afro-americana a vencer um Óscar, o de atriz secundária, mas foi impedida pelas autoridades de estar na premiere do filme, há precisamente 75 anos. Na própria cerimónia de entrega dos prémios da Academia, em 1940, a atriz foi obrigada a senta-se em mesas separadas.
À Associated Press, o professor de cinema Matthew Bernstein, da Universidade de Emory, explica que David Selznick ficou revoltado com a discriminação do elenco e só presenciou a estreia do próprio filme devido à insistência dos atores negros, impedidos de participar no evento. O estudioso explica que o produtor era judeu e via na marginalização dos negros no sul dos EUA como um simulacro da perseguição dos nazis durante a II Guerra Mundial. Bernstein descobriu nos arquivos da Universidade do Texas uma curiosidade: a comunidade negra de Atlanta recebeu em festa os elementos do elenco discriminados. Martin Luther King, Jr, natural de Atlanta, na altura com dez anos, participou num desses eventos paralelos, vestido como um dos escravos do Tara.
Stephen Marche, colunista da Esquire, faz a retrospetiva de um filme que eleva ao debate público as questões raciais num ano sensível: “Gostamos de pensar em 1939 como se tratasse de um mundo completamente diferente. Infelizmente, 75 anos não foram suficientes para matar preconceitos duradouros”, completa.
David Selznick comprou os direitos do livro por 50 mil dólares mas o processo de transformar um livro com mais de mil páginas num guião para um filme de quatro horas foi moroso, mesmo com a ajuda de F. Scott Fitzgerald. Para a realização, Selznick chamou o polémico George Cukor, que foi substituído pouco depois por Victor Fleming.
Com um ajuste da inflação, este continua a ser o maior sucesso de sempre nas bilheteiras. No top 250 do IMDB (Internet Movie Database), o filme aparece em 157º lugar, à frente dos históricos “It’s a Wonderful Life”, “The Godfather”, “Fight Club” ou “Schindler’s List”
Centrado essencialmente no enredo amoroso protagonizado por Vivien Leigh (Scarlett O’Hara), Leslie Howard (Ashley Wilkes), Olivia de Havilland (Melanie) e Rhett Butler (Gable), o filme é envolvido na realidade da Guerra Civil Norte-Americana e o subtexto remete para os temas pesados da escravatura e a segregação racial.
“Deves ser firme com os inferiores” Esta é uma das deixas do pai de Scarlett quando se refere aos negros que servem na famosa Tara, uma das muitas referências diretas e indiretas às questões raciais do contexto histórico da guerra civil, mas também do contexto histórico e soclal em que o filme é recebido.
Fora da grande tela, a segregação era ainda bem real na cidade de Atlanta. Hattie McDaniel, que interpreta o papel da criada “Mommy”, foi a primeira afro-americana a vencer um Óscar, o de atriz secundária, mas foi impedida pelas autoridades de estar na premiere do filme, há precisamente 75 anos. Na própria cerimónia de entrega dos prémios da Academia, em 1940, a atriz foi obrigada a senta-se em mesas separadas.
À Associated Press, o professor de cinema Matthew Bernstein, da Universidade de Emory, explica que David Selznick ficou revoltado com a discriminação do elenco e só presenciou a estreia do próprio filme devido à insistência dos atores negros, impedidos de participar no evento. O estudioso explica que o produtor era judeu e via na marginalização dos negros no sul dos EUA como um simulacro da perseguição dos nazis durante a II Guerra Mundial. Bernstein descobriu nos arquivos da Universidade do Texas uma curiosidade: a comunidade negra de Atlanta recebeu em festa os elementos do elenco discriminados. Martin Luther King, Jr, natural de Atlanta, na altura com dez anos, participou num desses eventos paralelos, vestido como um dos escravos do Tara.
Stephen Marche, colunista da Esquire, faz a retrospetiva de um filme que eleva ao debate público as questões raciais num ano sensível: “Gostamos de pensar em 1939 como se tratasse de um mundo completamente diferente. Infelizmente, 75 anos não foram suficientes para matar preconceitos duradouros”, completa.