"A Guerra caiu-lhe literalmente aos pés"

“Aquilo fez um estoiro. Era um monstro. Saltaram faíscas por todo o lado. Cheirava a óleo e a fumo. Apanhámos um susto tão grande”. Jaime Nunes tem dificuldade em explicar o que viu e sentiu quando o enorme avião se desfez à sua frente, na noite de 30 de novembro de 1943. Estava a algumas milhas de Faro, no seu barco de pesca, quando a II Guerra Mundial, que sempre lhe parecera tão longe, "lhe caiu literalmente aos pés".

Sandra Salvado com Pedro A. Pina, RTP /
Foto: Junta de Freguesia Vila Chã

Este foi um dos primeiros testemunhos de um trabalho que começou há mais de 20 anos, pela mão do jornalista da RTP Carlos Guerreiro, um apaixonado pelos aviões e pelos temas da II Guerra Mundial, a mais abrangente da História.Os 70 anos do fim da II Guerra
No dia em que se comemoram os 70 anos do fim da II Guerra Mundial, o jornalista salientou ao online da RTP que “ainda existe uma pequena janela de oportunidades, para encontrar algumas pessoas que viveram esse momento. Testemunhos que não se podem perder”.





Carlos Guerreiro nasceu em 1970 perto de Hamburgo, na Alemanha. Aos nove anos de idade viajou para Portugal e instalou-se no Algarve. Foi aqui que começaram as histórias.

Com o objetivo de manter viva a História de Portugal, durante o período da II Guerra Mundial, o jornalista lançou o livro “Aterrem em Portugal!” e ainda um blogue com o mesmo nome.
Voo 777
"No dia 1 de Junho de 1943 era abatido sobre a baía da Biscaia, por aparelhos da Luftwaffe, o Voo 777, da companhia britânica BOAC. O avião descolara de Lisboa e destinava-se a Bristol. Todos os passageiros e tripulantes morreram", pode ler-se no blogue do jornalista.

Muitas foram as teorias sobre as razões que levaram à destruição do avião. "Em Julho de 2010 fui a Bristol assistir a uma cerimónia onde se juntaram familiares e amigos de tripulantes e passageiros", disse carlos Guerreiro.




O livro faz também o retrato de um país através dos olhos de jovens estrangeiros que, "envolvidos no tumulto de um conflito mundial, se viram, de repente, num Portugal atrasado, mas em paz".

"Centenas de pilotos beligerantes estiveram em Portugal durante a II Guerra Mundial depois dos seus aviões terem sofrido avarias ou danos em combate".



"Algumas dezenas chegaram mesmo a morrer em resultado de aterragens acidentadas ou combates que se desenrolaram no nosso espaço aéreo. O livro conta essas histórias", refere o autor.

Carlos Guerreiro entrevistou mais de uma dezena de pilotos aliados que, entre os anos de 1941 e 1945, terminaram voos em Portugal e acabaram por ser internados durante dias, semanas ou meses no país.



O blogue do jornalista aprofunda a discussão de temas relacionados com a II Guerra Mundial em Portugal, especialmente os que se prendem com a aviação desse período.

"É um ponto de encontro para falarmos sobre esta parte da História que, infelizmente, continua muito esquecida", sublinhou Carlos Guerreiro.




Madeira, refúgio para Gibraltinos
No princípio da II Guerra Mundial, cerca de dois mil gibraltinos foram deslocados para a Madeira. Muitos mantêm ainda hoje uma ligação com ilha.

Carlos Guerreiro entrevistou em 2012 dois gibraltinos, que recordaram os tempos passados na ilha portuguesa.



Ingleses apreendem navio Carvalho Araújo
No dia 9 de julho de 1942, o navio Carvalho Araújo foi abordado por uma patrulha britânica e desviado para Gibraltar, onde foi alvo de inspeções diversas com o objetivo de localizar contrabando.

No navio estava Gabriel Correia, que vinha encontrar-se com a família. Mas a viagem demorou mais do que esperava. O jornalista Carlos Guerreiro falou com ele.




"Enviaram-me originais de fotografias e de documentos. Recortes de jornais. É parte desse imenso tesouro, que me chegou, que quero partilhar", pode ler-se no livro "Aterrem em Portugal!".

"Sempre fui um apaixonado pela aviação da II Guerra Mundial, mas este não é um livro sobre essas máquinas, de que há muitos em todas as línguas. Este é um livro sobre pessoas", conclui Carlos Guerreiro.
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