A poesia de Manuel Alegre "é clara e diamantina" - Lídia Jorge

por Lusa

A escritora Lídia Jorge disse que a poesia de Manuel Alegre, Prémio Camões 2017, "é clara e diamantina" e que é um escritor que merece a distinção hoje atribuída, "pelo simbolismo e por continuar a ser um resistente".

"Para mim, foi uma tão grande alegria, e só há momentos é que percebi que ele não tinha ainda recebido o Prémio Camões", afirmou a autora de "Os memoráveis", considerando que, "no caso dele, veio atrasado".

"Se um poeta português merece" o Prémio Camões, é Manuel Alegre, "pelo simbolismo, por ter sido e continuar a ser um resistente, pelo facto de ser um homem de aventura, um poeta direto, em que as palavras e a mensagem, entre uma coisa e a outra não há caminhos tortuosos", disse Lídia Jorge à Lusa.

"A poesia dele é clária, límpida, diamantina, diz-se a toda a gente, a poesia dele atravessa todas as camadas sociais, toda a gente a entende perfeitamente", afirmou a escritora que, quando soube da notícia, pensou que o Prémio Camões era atribuído pela segunda vez a Manuel Alegre, de 81 anos.

"Pensei que ele já o tinha recebido, de tal forma me pareceu óbvio, e já há muito tempo o devia ter recebido", disse à Lusa.

Manuel Alegre "é merecedor do prémio pela dimensão cívica, pela dimensão poética, por essa relação com o mundo, por essa relação direta com o mundo, pela relação com a mudança do nosso país, pela figura que é, por aliar a poesia, a poética, e também a ficção, aquilo que é o envolvimento com o povo. É um nome que já deveria ter sido".

O Prémio Camões foi hoje atribuído ao escritor português Manuel Alegre, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional brasileira, no Rio de Janeiro.

O escritor Manuel Alegre tem 81 anos e conta com uma carreira literária de mais de 50 anos, paralelamente a uma intervenção cívica e política.

Os livros "A Praça da Canção" e "O Canto e as Armas" marcaram, à partida, o seu percurso político e literário, de combate contra a censura, contra a guerra colonial e a ditadura do Estado Novo.

Num dos poemas que compõem "O Canto e as Armas", "Poemarma", Manuel Alegre escreveu: "Que o Poema seja microfone e fale/ uma noite destas de repente às três e tal/ para que a lua estoire e o sono estale/ e a gente acorde finalmente em Portugal", uma descrição que se aproxima do que foi o início do golpe militar que, a 25 de Abril de 1974, derrubou a ditadura.

Esta é a 29.ª edição do Prémio Camões e o júri foi constituído por Paula Morão, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria João Reynaud, professora associada jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Leyla Perrone-Moisés, professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, José Luís Jobim, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo e pelo poeta cabo-verdiano José Luís Tavares.

O Prémio Camões, instituído pelos Governos de Portugal e do Brasil, em 1988, foi atribuído pela primeira vez em 1989, ao escritor português Miguel Torga.

 

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