A Portuguesa de Nápoles

por RTP Multimédia
Uma portuguesa jornalista na Europa Bertrand

A «Portuguesa de Nápoles», como ficou conhecida Leonor da Fonseca Pimentel, foi poetisa, escritora, pedagoga, bióloga e uma das primeiras jornalistas europeias. O livro de Enzo Striano será apresentado amanhã, 12 de Outubro, no Instituto Italiano de Cultura, em Lisboa.

Amiga íntima de intelectuais e revolucionários, desempenhou um papel de relevo na revolução jacobina de Nápoles de 1797, inspirada pelo ideário social e político da Revolução Francesa.

Leonor fundou o jornal oficial da república então instalada - O Monitore Napolitano - considerado o primeiro jornal político napolitano - que teve profunda influência na moderação das decisões do governo revolucionário.

Este livro reconstrói a sua vida: o empenho político, o casamento infeliz, a morte do único filho, os amores, a fé, a amizade, a paixão e o fim trágico, na forca, em 1799.

A Portuguesa de Nápole (Il Resto di Nienteno original) vendeu perto de meio milhão de exemplares em Itália e tem sido considerado o melhor romance histórico italiano desde «O Leopardo» de Lampedusa.

Enzo Striano (1927-1987), jornalista e escritor italiano a quem foram atribuídos vários prémios literários, já é considerado um clássico contemporâneo.

Leonor da Fonseca Pimentel, que se considerava "filha de Portugal", cultivou a língua pátria e manteve correspondência com intelectuais portugueses.

Em 1777, chegou a escrever uma peça de teatro de homenagem ao Marquês de Pombal: Il Trionfo della Virtù. Em Nápoles, o seu nome foi dado a uma Escola do Magistério Primário em homenagem à forma denodada como defendeu o primado da educação.

A portuguesa de Nápoles, como ficou conhecida, figura no Pantéon di Martiri dela Libertà, tornando-se, portanto, uma referência do pensamento político italiano. Embora multifacetada, distribuindo os seus esforços pelo jornalismo, a luta política, a biologia, a poesia e a pedagogia, Leonor ficou na História por ter defendido os ideais liberais que conduziram à Revolução jacobina de Nápoles e à instauração da malograda República Napolitana (1797-1799).

Em 1799, Leonor foi acusada de crime contra o Estado e enforcada na Praça do Mercado de Nápoles.

Desde 1997 que a cidade de Nápoles homenageia a vida cultural multifacetada de Eleonora, daí resultando estudos, teses, colóquios e exposições dedicados à sua vida e obra. Em Portugal, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Secção de Pedagogia e Filosofia da Universidade de Évora, em colaboração com o Instituto Italiano per Gli Studi Filosofici de Nápoles, a Embaixada de Itália e o Instituto Italiano da Cultura em Lisboa comemorou, em 1999, o bicentenário da acção política, prisão e execução de Leonor da Fonseca Pimentel.

As celebrações contaram com a colaboração de António Tabuchi, Anna Rao, da Universitá di Napoli Frederico II, Elena Urignani, da Universitá di Milano, Clementina Reda, do Istituto Universitário Suor Orsella Benicasa di Napoli, Maria de Jesus Barroso, Manuel Ferreira Patrício, da Universidade de Évora e Fernando Marques da Costa, entre outras individualidades italianas e portuguesas. Neste ciclo comemorativo, foi projectado o filme A Portuguesa de Nápoles (1931), de Henrique Costa.

Enzo Striano nasceu em Nápoles em 1927 e morreu em 1987. Formou-se em Literatura e Filosofia na Universidade Federico II, em Nápoles. Aqui, fez parte do grupo de estudo «Antonio Gramsci», um laboratório fundado pelo professor Nino Cortese que tinha o objectivo de estudar os primeiros 20 anos da história de Itália no século XX .

No âmbito deste grupo de estudo, Striano desenvolveu uma investigação centrada na vida literária e artística daquele período. Também se envolveu profundamente nos encontros culturais e políticos organizados pelo professor de matemática Renato Caccioppoli, em sua casa, onde a intelectualidade da época debatiam assuntos de foro literário, político e filosófico.

No início dos anos 50, Enzo Striano filiou-se no Partido Comunista. Em 1951, escreveu «Gioventù nuova», uma revista mensal da juventude italiana comunista. Mais tarde, tornou-se jornalista do jornal comunista «L'Unità», onde trabalhou até 1957.

Em 1954 recebeu o terceiro prémio do concurso literário «Pozzale» com a história «La carriera di Sassòne».

Em 1956 outra história de Striano, «La prima notte» foi seleccionada para o prémio Pozzale.

Em 1957, venceu o prémio «Castellammare» com o texto autobiográfico La linea gótica. Este texto nunca chegou a ser publicado.

Entre 1968 e 1969 escreveu Un'etica per Narciso. Appunti per un'ideologia della società dei consumi, um longo ensaio acerca da evolução da sociedade pós-moderna. Em 1973 escreveu Cattiva coscienza. Falsi miti e romanzo su Napoli , publicado postumamente por Francesco D'Episcopo (Napoli, Oxiana, 1998).

No ano 2000, a Mondadori publicou Giornale di adolescenza, um texto autobiográfico em que exorcisa os sentimentos contraditórios que nutre pelo seu pai e pela sua família.

A acção decorre na cidade de Nápoles durante o Fascismo.
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