A relação do sexo feminino com os livros

O acesso do sexo feminino à leitura, captado na tela dos pintores ou pela lente dos fotógrafos, deu origem ao álbum "Mulheres que lêem são perigosas", organizado por Stefan Bollmann e que a editora Quetzal publica na quarta-feira.

Agência LUSA /
Leitura pelo sexo feminino DR

O volume propõe uma viagem por pinturas, fotografias e desenhos que, do século XIII ao XXI, reflectem a relação das mulheres com os livros, através dos quais elas se apropriaram de "conhecimentos e experiências que não lhes eram destinados", como se lê na obra.

Stefan Bollmann revisita pintores como Rembrandt, Vermeer, Fragonard, Van Gogh, Manet, Matisse e Hopper, e recorda a fotografia que Eve Arnold fez de Marilyn Monroe a ler o romance "Ulisses" de James Joyce, tentando chegar à verdade sobre esta imagem.

O livro está dividido em seis capítulos, o primeiro dos quais retrata as "leitoras abençoadas", seguindo-se as "leitoras fascinadas", as "autoconfiantes", as "sentimentais", as "apaixonadas" e as "solitárias".

Ao longo de cerca de 150 páginas, o álbum mostra mulheres de várias épocas e estratos sociais concentradas na leitura ou no instante imediato em que fecham o livro, lendo no recolhimento do quarto ou no espaço aberto de um jardim, sozinhas ou acompanhadas.

"Desde há vários anos que colecciono imagens de mulheres que lêem, uma delas está pendurada em cima do sofá onde eu própria me sento a ler: é uma pintura de Harald Metzkes e mostra o que, quanto a mim, é uma jovem mulher que lê como se disso dependesse a sua vida", escreve a jornalista e escritora alemã Elke Heidenreich no prefácio.

Além do texto introdutório de Heidenreich, o escritor e editor Stefan Bollmann, que coligiu as imagens, contextualiza cada pintura, desenho ou fotografia através de breves comentários em que explora o provável significado da leitura para cada uma das mulheres representadas e se interroga acerca do livro que as absorve.

O livro surge aqui como sinal de fé, como objecto proibido e espaço de privacidade na vida da mulher, como conquista da sua liberdade de pensamento ou como forma de esta escapar à vida doméstica para alcançar os conhecimentos do mundo dominado pelos homens.

"Uma mulher que lê em silêncio cria um vínculo com o livro e foge ao controlo da sociedade e da comunidade que a rodeia", pois "começa a criar a sua própria visão do mundo que não corresponde necessariamente à da tradição", salienta a editora.

A Quetzal descreve "Mulheres que lêem são perigosas" como "uma homenagem ao poder libertador da leitura e uma reflexão acerca do papel que esta tem assumido ao longo dos tempos".

Stefan Bollmann, o organizador do volume, nasceu em 1958, estudou Germânicas, Teatro, História e Filosofia e é especialista em Thomas Mann, dedicando-se actualmente à escrita e à edição de livros em Munique.

A autora do prefácio, Elke Heidenreich, nasceu em 1943, vive em Colónia, trabalha como autora e moderadora de conteúdos para rádio e televisão e é escritora e crítica literária, tendo assinado vários best-sellers e publicado antologias de contos.

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