Adiada apresentação do livro de Luandino Vieira

A cerimónia de lançamento da mais recente obra do escritor angolano Luandino Vieira, intitulada `O Livro dos Rios`, prevista para sábado em Luanda, foi adiada para terça-feira, informou hoje Arlindo Isabel, da editora Nzila.

Agência LUSA /

O escritor chegou quinta-feira a Luanda, cidade onde esteve pela última vez em 1992, mas a editora decidiu adiar o lançamento da obra "devido a inúmeros pedidos" que lhe foram apresentados nesse sentido.

"Há muitas pessoas que queriam estar presentes na cerimónia de lançamento mas não tinham possibilidade porque no sábado estão previstas muitas actividades no âmbito das comemorações do aniversário da independência de Angola", salientou Arlindo Isabel, em declarações à Lusa.

Desta forma, para permitir que os interessados possam participar na cerimónia, a editora Nzila decidiu adiar o lançamento do `Livro dos Rios` para terça-feira, ao final da tarde, na sede da União dos Escritores Angolanos.

Segundo Arlindo Isabel, mantém-se, no entanto, a sessão de autógrafos prevista para a manhã de domingo, nas instalações da Rádio Nacional de Angola (RNA).

O Livro dos Rios é o primeiro volume de uma trilogia que o escritor está a preparar, denominada `De Velhos Rios e Guerrilheiros`.

José Vieira Mateus da Graça, conhecido por Luandino Vieira, centralizou as atenções do mundo cultural lusófono em finais de Maio, quando recusou receber o Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, o maior galardão literário de língua portuguesa.

O escritor invocou "razões pessoais, íntimas" para esta recusa, que foi entendida pelo escultor José Rodrigues, seu amigo, como reflexo do estilo de vida que optou por seguir desde que se encontra em Portugal.

Em declarações à Lusa, José Rodrigues, proprietário do convento onde Luandino Vieira reside, frisou que o escritor "vive como um franciscano, totalmente despojado dos bens materiais".

O escritor vive há mais de uma década no Convento de S. Payo, propriedade do escultor, situado no alto do monte com o mesmo nome em Vila Nova de Cerveira, norte de Portugal.

Luandino Vieira nasceu a 4 de Maio de 1935 em Vila Nova de Ourém, Portugal, tendo-se mudado para Angola aos três anos de idade na companhia dos pais.

Fez os estudos primários e liceais em Luanda, onde foi preso pela primeira vez em 1959, no âmbito do denominado `Processo dos 50`, por ligações políticas ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Em 1961 voltou a ser preso pela PIDE, tendo sido condenado a 14 anos de prisão, o que originou a sua transferência, em 1964, para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde passou oito anos, antes de ser libertado, passando a viver em Lisboa em regime de residência vigiada.

A partir dessa altura, em 1972, iniciou a publicação da sua obra, uma grande parte da qual foi escrita na prisão.

Luandino Vieira regressou a Angola em 1975, tendo exercido vários cargos directivos no MPLA e ocupado a presidência da Televisão Popular de Angola (TPA).

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu as funções de secretário-geral desde a sua fundação, a 10 de Dezembro de 1975, até 1992.

Cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional, escolheu o nome de Luandino em homenagem a Luanda.

Entre a sua vasta obra publicada figuram títulos como "Nosso Musseque", "A Vida Verdadeira de Domingos Xavier", "Nós, os do Makulusu", "Luuanda", "Macandumba", "Velhas estórias", "A cidade e a infância" e "Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto e Eu".

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