Agustina era "pesquisadora da alma humana" dotada de perspicácia extraordinária - M.ª Helena Santana

Coimbra, 03 mai 2019 (Lusa) - Agustina Bessa-Luís era uma "pesquisadora da alma humana", dotada de uma perspicácia extraordinária para lidar com temas e personagens, afirmou hoje Maria Helena Santana, coordenadora do Grupo de Investigação "Património Literário" do Centro de Literatura Portuguesa.

Lusa /

"Não encontro outro escritor português no século XX com a mesma perspicácia da Agustina", disse à Lusa a professora da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, autora de diversos trabalhos académicos sobre a obra da escritora Agustina Bessa-Luís, que morreu hoje, aos 96 anos, no Porto.

Maria Helena Santana lamenta que Agustina não tivesse tido, nos últimos anos de vida, "o destaque que a sua obra merece" no panorama da literatura nacional. Uma situação que a professora atribui, em grande parte, à personalidade esquiva da autora de "A Sibila".

"Não era propriamente uma pessoa simpática, talvez por ter uma faceta um bocadinho politicamente incorreta", refere, adiantando que o valor da sua obra coloca todas essas questões em segundo plano: "Quem gostava de Agustina, gostava mesmo muito".

Um dos méritos da escritora, segundo Maria Helena Santana, era "a capacidade de encontrar no panorama do país e na vida pública portuguesa histórias e personagens que soube romancear de uma maneira notável".

A professora de Coimbra destaca ainda a enorme qualidade das crónicas que Agustina publicava regularmente na imprensa portuguesa e que refletiam a visão que tinha do país e das pessoas. "A sua visão vai fazer-nos falta", reconhece.

A escritora Agustina Bessa-Luís morreu hoje, aos 96 anos, no Porto, disse à Lusa fonte da família.

Nasceu em 15 de outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas.

O nome de Agustina Bessa-Luís destacou-se em 1954, com a publicação do romance "A Sibila", que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz.

Recebeu igualmente o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, em 1983, pela obra "Os Meninos de Ouro", e em 2001, com "O Princípio da Incerteza I - Joia de Família".

Foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Sobre Agustina, o ensaísta Eduardo Lourenço disse, em declarações à Lusa, no final da cerimónia da entrega do prémio com o seu nome, que é uma autora "incomparável", a "grande senhora das letras portuguesas".

Em 2004, Agustina recebeu os Prémios Camões e Vergílio Ferreira.

Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant`Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988.

Questionada sobre o que escrevia, a autora disse, num encontro na Póvoa de Varzim: "É uma confissão espontânea que coloco no papel".

A cerimónia fúnebre da escritora Agustina Bessa-Luís decorrerá na terça-feira, na Sé Catedral do Porto, seguindo depois para o cemitério do Peso da Régua, Vila Real, onde será sepultada "na intimidade da família", revelou hoje o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís.

O Governo decretou um dia de luto nacional, na terça-feira, pela morte da escritora.

Tópicos
PUB