Alice Pires celebra 35 anos de carreira e recorda Herminia Silva

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Lisboa, 25 Mar (Lusa) - Um espectáculo da fadista Alice Pires, que celebra 35 anos de carreira, escrito por Mário Raínho, recorda Hermínia Silva, dias 02 e 03 de Abril, no Cinema S. Jorge, em Lisboa.

"Houve sempre uma grande tendência em compararem-me com a grande Hermínia. O Filipe la Féria até me apelidou de `Hermínia dos anos 90` e este espectáculo é uma forma de a homenagear, porque me parece estar um pouco esquecida", disse à Lusa a fadista Alice Pires.

Mário Raínho, autor dos textos que servem de ligação aos diferentes fados que Alice Pires irá interpretar, considera também que "Hermínia Silva está injustamente esquecida".

"Além de enorme fadista, queridíssima do público, Hermínia Silva foi uma estrondosa actriz. Mesmo quando as críticas eram piores para as revistas em que entrava, os críticos realçavam sempre o desempenho de Hermínia", disse Raínho.

No espectáculo que conta ainda com as participações dos actores Carla Ribeiro, Victor de Sousa e Flávio Gil, serão recordadas as famosas rábulas e figuras criadas por Hermínia, mas com textos originais.

"Este é um espectáculo que estreia em Lisboa, mas que contamos vá percorrer o país, além de estar previsto gravar um CD, e sonho até com um DVD", disse Alice Pires.

Um poema de Mário Raínho, "Hermínia", dito por Vítor de Sousa, abre o espectáculo que recordará temas como "Fado da Sina", "Lisboa antiga" ou "Marinheiro americano".

"Pesquisei os fados, escolhi os que melhor me senti a cantar e que são representativos da sua carreira como `Sou miúda`", disse Alice Pires.

O espectáculo, intitulado "Reviver Hermínia", coincide com a celebração dos 35 anos de carreira de Alice Pires que "desde sempre" se recorda de cantar.

"Cantava ainda pequena, subia para uma cadeira e cantava, mas com audiência foi aos 12 anos no Caramão da Ajuda [em Lisboa]", disse à Lusa.

Alice Pires venceu na década de 1980 venceu o concurso "Canção de Lisboa". Beatriz Costa, um dos membros do júri, apelidou-a de "Edith Piaf do fado".

Tendo começado como fadista, passou por várias casas de fado, entre elas O Faia onde esteve 12 anos e que lhe deixou "as melhores recordações", actualmente é também actriz.

"A Rita Ribeiro convidou-me a certa altura a fazer umas pontas num espectáculo de café-concerto e descobri-me actriz", recordou.

Integra o elenco de "Fados e violadas" com Rita Ribeiro, Alexandra Solnado e António Semedo. Segue-se a revista, pela mão de Mário Raínho.

Com Maria Portugal, Paulo Vasco, José Manuel de Castro e Raínho integra o elenco da última revista representada no Teatro Laura Alves, "O nosso amor é Lisboa", de Paco Gonzalez.

Integra várias revistas, o programa televisivo "Cabaret" de Filipe la Feria e "Herman Enciclopédia" de Herman José.

Há dois anos encarnou a personagem Hermínia Silva num quadro da revista "Arre Potter que é demais", no Teatro Maria Vitória.

Mário Raínho considera Alice Pires "uma fadista castiça que pela maneira de cantar se insere na antiga tradição fadista das cantadeiras".

Do seu repertório Alice Pires salientou à Lusa "Fado oração" (Mário Raínho/João Vasconcelos", enquanto o poeta Mário Raínho referiu "Lisboa não tem juízo" de sua autoria e música de Casal Ribeiro.

Hermínia Silva, nascida em 1907, destacou-se como fadista, e muito cedo foi convidada para actuar na revista onde se tornou "um raro caso de sucesso", disse à Lusa o investigador Vítor Duarte Marceneiro, autor da única biografia da artista.

Hermínia estreou-se em 1929 na opereta "Ouro sobre Azul", participou em dezenas de revistas e operetas, a sua última actuação deu-se em 1976 na revista "Cada Cor, seu Paladar, no Teatro ABC.

A 13 de Junho de 1993 morreu em Lisboa.

Entre os vários fados que Hermínia popularizou refira-se "Rosa enjeitada", "Gonçalo Velho", "Mãos sujas", "Velha tendinha", "É tão fresca a melancia", "Cigana", "Lisboa antiga", "Mariquinhas", "Fado da Golegã" e "Cavaleiro tauromáquico".

Em 1946 recebeu o Prémio do SNI (Secretariado Nacional de Informação) para Melhor Actriz de Comédia pela sua interpretação de "Nova Antígona", onde "parodiava" a actriz Mariana Rey Monteiro, que no Teatro Nacional protagonizava a tragédia de Sófocles.

A fadista participou também em várias películas como "Aldeia da Roupa Branca", de Chianca Garcia (1938), "O Costa do Castelo", de Artur Duarte (1943), nos filmes de Henrique de Campos "Um Homem do Ribatejo" e "Ribatejo", respectivamente de 1946 e 1949 e, em 1969, em "O Diabo era Outro", de Constantino Esteves.

Em 1985 a fadista foi agraciada com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa, recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique e a Grã-Cruz da mesma Ordem honorífica.

NL.

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