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Amigos e Museu do Fado recordam Berta Cardoso

A fadista Berta Cardoso, considerada pela imprensa da década de 1930 "a loucura dos fadistas", é recordada domingo pelos Amigos do Fado e quinta-feira será inaugurada uma exposição sobre a sua carreira no Museu do Fado.

Agência LUSA /

Ofélia Pereira, editora do "site" sobre a fadista - www.bertacardoso.com - disse à Lusa ser "um justo tributo a uma das principais fadistas do século X X".

"Na cidade de Lisboa não há uma rua com o seu nome, e este é um tributo da casa de todos os fadistas", disse.

Berta Cardoso, falecida em 1997, começou a cantar aos 16 anos e logo no s anos 1930 alcança assinaláveis êxitos no teatro de revista, tanto em Portugal como no Brasil.

O diário carioca A Tarde anuncia-a, em 1939, como "a famosa fadista que tem lágrimas na voz".

A imprensa portuguesa da época não poupa elogios à criadora de "Tia Mac heta", qualificando-a como "voz de cristal", "maga da canção nacional" e "a mais bela voz do fado".

O investigador Vítor Duarte Marceneiro que apresentará domingo, num enc ontro da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), em Lisboa, o primeiro diaporama sobre a fadista, disse à Lusa que Berta Cardoso "teve uma carreira gra nde que podia ter sido maior, mas que a sacrificou em prol da família, tendo-se tornado muito requisitada pelas casa de fado de Lisboa".

"Recusou por exemplo, um contrato para cantar nos Estados Unidos, para não estar longe da família", disse.

Todavia Berta Cardoso actuou no Brasil, Angola e até em Espanha.

"Era uma fadista tradicional, nunca cantou outra coisa que não fosse fa do, e para o seu meio artístico era muito culta", sublinhou Ofélia Pereira.

Carlos do Carmo disse à Lusa que a memória que guarda da fadista é "sen tada num canto sempre a ler livros".

"A Berta Cardoso devorava livros, e tinha muito cuidado na forma de pro nunciar as palavras, e dar-lhes a intencionalidade", acrescentou.

A exposição patente até Outubro no Museu do Fado, no bairro lisboeta de Alfama, é constituída por fotografias, discos, cartazes, jornais, letras do seu repertório e até alguns objectos de uso pessoal como brincos, explicou à Lusa f onte da instituição.

Ofélia Pereira afirmou que a exposição para a qual cedeu "a maioria do espólio" apresentará alguns materiais inéditos sobre a fadista.

Além de "Tia Macheta", Berta Cardoso tornou-se célebre pela interpretaç ão de "A Cruz de Guerra", "Fado Faia", "Feitiço", "Fado dos marinheiros", "Fado da azenha", "Rosa enjeitada", "Belos tempos" ou "Cinta vermelha".

"Foi uma fadista característica de Lisboa, única na sua forma interpret ativa e que teve sempre fãs que corriam para a ouvir", disse o poeta José Luís G ordo, que a conheceu.

A última casa típica onde Berta Cardoso cantou e a cujo elenco pertenci a foi "O Poeta", uma casa de Lisboa entretanto desaparecida, disse Ofélia Pereir a.

Em 1943 o jornal Canção do Sul anunciou que ia deixar de cantar pois ti nha terminado o curso de enfermeira-parteira e ia dedicar-se à nova profissão, o que nunca aconteceu.

Berta Cardoso só deixaria de cantar definitivamente em 1982.

Ofélia Pereira acompanhou a fadista nos seus últimos tempos e recordou à Lusa "o seu fino sentido de humor, inteligência, uma pessoa divertida, afável e generosa com os seus amigos".

A APAF inaugura com Berta Cardoso um ciclo denominado "Memórias de Fado " onde se procurará através de meios multimédia e pelo canto "evocar nomes incon tornáveis da canção de Lisboa desde fadistas a poetas, letristas ou músicos".

Berta Cardoso nasceu em Lisboa a 21 de Outubro de 1911, vindo a falecer no Barreiro a 12 de Julho de 1997.

Interpretou fados de João Linhares Barbosa, principalmente, e também de Armando Neves, Frederico de Brito, Gabriel de Oliveira, Amadeu do Vale, Luís da Silva Gouveia, Júlio de Sousa, João Nobre, Carlos Conde, Fernando Teles e Jorge Rosa.


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