As autoridades russas aprovaram esta quinta-feira a exibição do controverso filme “Matilda”, que conta a história do romance entre Nicolau II e a bailarina Matilda Kschessinska. Mas não é certo que a obra chegue a todas as salas.
Apesar de aprovar o lançamento do filme em todo o território russo, o Ministério da Cultura deu autonomia para que cada região escolha se vai exibir o filme nos seus cinemas: “As autoridades locais, tendo em conta as tradições e costumes, têm independência para decidir”, pode ler-se no comunicado difundido esta manhã."Matilda" deve estrear nos cinemas em 26 de outubro deste ano.
Os líderes religiosos ortodoxos acusam a produção de blasfémia e chegaram a ameaçar queimar os cinemas que venham a transmitir o filme.
Para Natalia Poklonskaya, líder do movimento que se opõe à exibição da obra, “os santos são intocáveis. Não se pode mostrá-los a ter relações sexuais porque isso ofende os fiéis”. Natalia diz ainda não acreditar que se trate aqui de um caso de censura, mas de “violação de direito”. Ou seja, a “liberdade artística não é ilimitada e não pode impedir os direitos do outro”.
O diretor do filme, Alexei Uchitel, nega que o filme seja ofensivo e argumenta que embora aceitando que “Nicolau II e sua família são santos”, discorda que isso seja razão suficiente para que “não possamos escrever sobre as suas vidas”.
A classe artística russa temia nova proibição, que se constituiria como novo precedente à sua liberdade criativa, já que em 2015 o Ministério da Cultura havia impedido o lançamento do thriller americano “Child 44”, baseado na história de um assassino em série da antiga União Sovíética.
Santo ou não?
O romance entre Nicolau II e Matilda aconteceu entre 1982 e 1984. Logo após terminar o relacionamento com Matilda Kschessinska, o czar casou-se com Alexandra Feodrovna, de quem teve cinco filhos. A família acabaria por ser assassinada em julho de 1918, durante a Revolução Bolchevique, que ditou uma mudança de poder na Rússia.
Após a tragédia, o czar e todos os membros da família real foram canonizados. De acordo com as altas autoridades da Igreja ortodoxa, eles receberam a honra por terem sido pessoas que “aspiraram encarnar em suas vidas os comandos do Evangelho (…) com humildade, paciência e submissão”.
A consagração foi controversa e gerou alguns diferendos entre os vários grupos da Igreja Ortodoxa. Alguns consideravam Nicolau II um governador fraco e acreditavam terem sido as suas falhas como líder a provocar miséria e sofrimento junto do povo. Outros, porém, viam no caráter do czar e na sua genuína preocupação com a Rússia a redenção das suas falhas.