"Anna Karenina" influencia personagens de "Como ela morre" no palco do D. Maria II

A influência que o romance "Anna Karenina", de Tolstoi, tem na vida de dois casais é o tema central da peça "Como ela morre", que se estreia na quinta-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

Lusa /

"Não é uma adaptação de `Anna Karenina`, mas é a história de dois casais separados no tempo e no espaço. Um casal, em Lisboa, em 1967, interpretado por Pedro Gil e Isabel Abreu, e um outro casal, em 2017, em Antuérpia, na Bélgica, interpretado por Jolente de Keersmaeker e Frank Vercruyssen, da companhia belga tg Stan", explicou à imprensa o diretor do D. Maria II e um dos criadores da peça, Tiago Rodrigues.

Estes dos casais estão a viver "um momento crucial da sua história íntima e, em ambos os casos, há um leitor de `Anna Karenina`. Em Portugal, Isabel Abreu está, em 1967, a ler o livro, e, em 2017, Frank Vercruyssen, ou a sua personagem, está a ler o livro", acrescentou Tiago Rodrigues.

Para o encenador, a relação que existe entre estes dois casais, por via daquele romance de Tolstoi, não é apenas uma relação "que atravessa o espaço e o tempo".

Porque aquele romance de um dos grandes mestres da literatura russa do século XIX irá influenciar também a história de vida dos dois casais e a forma como eles vão viver a "encruzilhada amorosa, íntima e pessoal", naquele momento, acrescentou.

Tiago Rodrigues explicou ainda que esta peça fala igualmente do "poder ou do potencial que a leitura dum determinado romance pode ter em decisões", quer em decisões de pormenor das nossas vidas, quer em decisões cruciais "que podem ser influenciadas por um livro, um conselho de um amigo, um acontecimento histórico".

"De alguma forma, o espetáculo faz essa apologia do poder da literatura e também de alguma forma tenta dissecar onde está esse poder e daí o nome `como ela morre`", observou Tiago Rodrigues, acrescentando que mais importante do que saber se Anna Karenina morre ou não no livro, importa saber como ela morre.

"Como é que o detalhe, esse pormenor da decisão desta palavra e não aquela, faz com que a literatura tenha ou possa ter a influência que tem nas nossas vidas", indicou.

Produzida pelo D. Maria II com a companhia belga tg Stan, "Como ela morre" é a primeira peça que Tiago Rodrigues escreve para a companhia belga tg Stan, com quem trabalhou pela primeira vez há mais de de 20 anos.

A peça é uma criação conjunta de Tiago Rodrigues e dos quatro atores que a interpretam e foi escrita à medida que foi sendo ensaiada à mesa, o que, segundo o encenador, acarreta sempre a possibilidade de alterações.

"E é isto que também lhe dá um lado de liberdade e de surpresa que é saboroso", observou Isabel Abreu.

"Como ela morre" tem figurinos de Na D`Huys e de Britt Angé e coprodução do Théâtre Garonne e do Kaaitheater.

A peça é falada em português, flamenco e em francês -- adotada como língua franca como o francês o era para os russos no século XIX, segundo Tiago Rodrigues --, e é legendada em português e inglês.

Em cena na sala Garrett até 19 de março, "Como ela morre" pode ser vista às quartas-feiras, às 19:00, de quinta-feira a sábado, às 21:00 e, aos domingos, às 16:00.

 

 

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