António Júlio é o novo diretor artístico da companhia Seiva Trupe

O ator e encenador António Júlio assume hoje a direção artística da companhia de teatro do Porto Seiva Trupe, explicando à Lusa que foi convidado para dirigir a "nova fase" do histórico grupo fundado há 52 anos.

Lusa /

"A atual direção propôs-me este desafio de fazer a direção artística para esta nova fase da Seiva Trupe. Pessoalmente, é um enorme desafio poder contribuir, pensar, procurar caminhos para uma companhia que tem uma história, um legado, já bastante antigo e enraizado na cidade do Porto, com público fiel há muitos anos. Sinto-me desafiado, da melhor maneira, para me aproximar da Seiva, da experiência destes anos, e de pensar o que podemos fazer juntos daqui para a frente, cruzando um percurso e o outro", explicou, em entrevista à agência Lusa.

No dia em que a Seiva Trupe celebra 52 anos de existência, anuncia a nomeação do novo diretor artístico, nascido em Vila Nova de Gaia, em 1977, tendo trabalhado como ator e encenador.

O percurso artístico, iniciado em 1999, atravessa as áreas do teatro, da dança e da performance, tendo trabalhado também como curador na VAGA -- Mostra de Artes e Ideias, e como professor na ACE -- Escola de Artes.

O criador de espetáculos como "Festa para um" (2017), "O dia da matança na história de Hamlet" (2019) e "Fico em silêncio sempre que posso" (2025) frisa, à Lusa, várias vezes, o quanto está "entusiasmado" pelo novo cargo, até porque nunca trabalhou com aquela companhia, esperando agora poder cruzar "duas formas de fazer diferentes" num novo "encontro e construção de futuro".

"É a ideia que tem a Seiva ao convidar-me. É, talvez, pensar numa nova forma de fazer, pensar, gerar encontros entre pessoas e comunidade local próxima da sede atual. É essa vontade, e é com isso que me comprometo, também", explica.

Esse compromisso de olhar para o entorno da sala Estúdio Perpétuo, junto ao Marquês, no Porto, responde a algumas inquietações que o novo diretor artístico traz.

"Como trazer esta vizinhança para dentro? Como chegar a elas? Como trabalhar a partir dessas pessoas? Conhecer o território, que não conheço bem, mas é um prazer que tenho, relacionado com caminhar e trabalhar com o caminhar", explica.

Ao `pegar` num dos grupos históricos do teatro português, tem como objetivo diversificar linguagens cénicas e abordagens artísticas, aliando o público "fiel" que a companhia tem mantido à captação de novos nomes.

"Faz parte do desafio. Mas o público mais tradicional da Seiva, com muitas aspas, consome teatro, vê teatro. Está permeável a essa linguagem. Se for diferente do que tem visto, verá alguma coisa com que se relacionar. Terá cultura teatral, hábito e prática de ver teatro. Estou muito curioso", admite.

Dentro desse esforço de "renovar o repertório, potenciar a dramaturgia original e explorar formatos diversos de espetáculo, dentro e fora de palco", como pode ler-se na apresentação que foi enviada às redações, António Júlio vai manter-se como criador.

"Há esse espaço aberto todo, que é maravilhoso mas também pode ser assustador. É mais um encontro, de trazer outras pessoas para, comigo, construírem esses novos projetos da Seiva. Há alguma coias que hei de levar, sempre, de forma de fazer, uma certa estética, temas que me têm interessado, e uma forma de construir, de pensar o espaço e os corpos, a dramaturgia, e isso interessa-me continuar", revela à Lusa.

Ao mesmo tempo, pensar "para a Seiva Trupe" também o aproxima de "outras coisas, potencialmente temáticas", para novos projetos, ainda que nada tenha em cima da mesa para já.

"Entro mesmo no começo de alguma coisa, não tenho parcerias construídas nem equipas. Tenho as primeiras ideias", afirma.

Atualmente, a Seiva Trupe tem em digressão, por cidades como Gondomar, Póvoa de Varzim e Viana do Castelo, o espetáculo "Coro das Águas", com texto e encenação de Castro Guedes, até aqui diretor do grupo que tem atravessado dificuldades nos últimos anos.

A Seiva Trupe -- Teatro Vivo é uma cooperativa fundada em 11 de setembro de 1973, no Porto, pelos atores António Reis, Estrela Novais e Júlio Cardoso, tendo lutado por melhores condições financeiras nos últimos anos, em que passou a estar sediada no Estúdio Perpétuo, desde finais de 2021.

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