António Mateus, autor de livro sobre Angola, critica falta de democracia 50 anos depois
O jornalista António Mateus, autor de um livro sobre Angola a apresentar em outubro, disse que a antiga colónia continua longe do "sonho democrático", 50 anos depois da independência de Portugal.
"Há 50 anos que se adia o sonho de Angola ser verdadeiramente democrática, de Angola ter uma governação virada para o povo angolano", declarou António Mateus à agência Lusa.
O jornalista falava a propósito do lançamento da obra "Angola -- Vidas Quebradas", que o próprio apresenta, na capa, como "relato impressionante da fuga de milhares de portugueses das suas terras após o devastador impacto do 25 de Abril nas colónias".
"Uma Angola não para colonizadores, não para brancos, nem para negros. Eu gostava que os partidos metessem uma mão na consciência e vissem os erros que cometeram", preconizou, ao comentar o meio século de emancipação política da antiga colónia africana, que se completa em 11 de novembro.
Para António Mateus, as três organizações que há 50 anos, cada uma por si, proclamaram a independência -- Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder em Luanda desde 1975, União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) -- deveriam "pedir desculpa ao povo angolano pelo que fizeram e começar do zero".
"E que se abraçassem ao pedir desculpa aos outros que também atropelaram. Essa era a única base de Angola quebrar a espiral de naufrágio em que tem vindo a descer", sublinhou, ao ser questionado pela Lusa sobre o que espera das celebrações do cinquentenário da independência do país.
Defendeu que "não seja o mesmo dislate que o Presidente [angolano], João Lourenço, teve em Lisboa", durante a sua última visita a Portugal, em julho, "quando disse que os angolanos fizeram mais pelo país dele nos últimos 50 anos do que Portugal em 500 anos".
"Só por demagogia populista, que é vergonhosa, é que algum líder político em Angola, seja de que partido for, pode dizer uma coisa destas", desde logo João Lourenço, presidente da União Africana e do MPLA, "um dos três partidos que destruíram completamente Angola", criticou.
Cada um desses movimentos, "obviamente, culpa sempre o outro, mas eles foram parte ativa disso", lamentou António Mateus, autor de sete livros, especialista em assuntos militares e africanos.
"Arrasaram um país que era um dos países em maior crescimento em África. Eu gostaria muito, na esteira daquilo que vi Mandela fazer [na África do Sul], que eles se preocupassem mais em unificar o povo", recomendou.
Em "Angola -- Vidas Quebradas", o jornalista relata "a fuga de mais de meio milhão de pessoas de Angola após a revolução de Abril", em 1975.
"Através de depoimentos diretos e crus, este livro reúne testemunhos de uma rota de sobrevivência seguida por 10 famílias que pretendiam permanecer em Angola, de onde eram naturais, mas que acabaram por integrar a mesma caravana de milhares de carros, em fuga de Nova Lisboa [atual Huambo] para as chamadas Terras do Fim do Mundo", escreve.
Sobre esses refugiados, António Mateus define o livro como "tributo à sua tenacidade e paixão pelas terras africanas".
Editada pelo Clube do Autor, a obra "Angola -- Vidas Quebradas" vai ser apresentada na FNAC Colombo, em Lisboa, no dia 15 de outubro, às 18:30.