Aos 66 anos. Morreu a poetisa Ana Luísa Amaral

por RTP
Ana Luísa Amaral era professora universitária na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora na área dos estudos feministas e queer Facebook

Morreu na sexta-feira, aos 66 anos, Ana Luísa Amaral. A poetisa portuguesa lutava contra um cancro. A cerimónia fúnebre está marcada para domingo no Tanatório de Matosinhos. O velório realiza-se este sábado na Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira.

Autora de mais de três dezenas de livros, entre poesia, teatro, ficção, infantis e ensaios, traduziu também obras de vários autores. Ana Luísa Amaral era professora universitária na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora na área dos estudos feministas e queer.

Havia sido escolhida como figura homenageada da edição deste ano Feira do Livro do Porto.

Ana Luísa Amaral foi autora, juntamente com Ana Gabriela Macedo, do Dicionário de Crítica Feminista e preparou a edição anotada de Novas Cartas Portuguesas, da autoria de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

A par de Marinela Freitas, organizaria as obras Novas Cartas Portuguesas 40 Anos Depois, lançada em 2014, e New Portuguese Letters to the World.
Fez leituras de poemas da sua autoria países como Brasil, França, Estados Unidos, Alemanha, Irlanda, Espanha, Rússia, Roménia, Polónia, Suécia, Holanda, China, México, Itália, Colômbia e Argentina.
Carreira premiada

A poetisa recebeu a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Matosinhos e a Medalha de Ouro da Câmara Municipal do Porto, por serviços à literatura e a Medaille de la Ville de Paris.

Foi ainda distinguida com o Prémio Literário Correntes d’Escritas, o Premio di Poesia Giuseppe Acerbi, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, o Prémio António Gedeão, o Prémio Internazionale Fondazione Roma, Ritratti di Poesia, o Prémio PEN, de Ficção, o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho, da Associação Portuguesa de Críticos Literários, o Prémio Literário Guerra Junqueiro, o Prémio Leteo (Espanha), o Prémio de Melhor Livro do Ano dos Livreiros de Madrid, o Prémio Vergílio Ferreira, o Prémio Literário Francisco Sá de Miranda e o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana.
"Autora extraordinária"
A Universidade do Porto lembra Ana Luísa Amaral como "uma autora extraordinária, uma académica distinta e uma cidadã empenhada".

"A sua obra literária irá certamente garantir que o nome de Ana Luísa Amaral perdurará para todo o sempre, mas quem teve o privilégio de a conhecer de perto terá a memória de uma pessoa generosa e uma ativista dedicada às causas da igualdade e da solidariedade social", enfatiza o reitor António de Sousa Pereira, citado numa nota de pesar.
"Profundo pesar"
O ministro da Cultura exprimiu, por sua vez, "profundo pesar pela morte de Ana Luísa Amaral, autora de uma obra de grande valor literário, mas, também, de grande significado social e político, que celebrou, deu espaço e destaque ao património cultural construído no feminino".

"Foi também uma das vozes mais lúcidas e inteligentes da nossa literatura. Alguém com um percurso que, com a poesia no centro, servirá sempre de inspiração e exemplo", lê-se numa nota do gabinete de Pedro Adão e Silva.
Marcelo Rebelo de Sousa presta homenagem a Ana Luísa Amaral

Também o presidente da República já reagiu à notícia da morte de Ana Luísa Amaral.

Marcelo Rebelo de Sousa, lê-se numa mensagem publicada no portal da Presidência da República, "lamenta com grande pesar o falecimento de Ana Luísa Amaral, escritora, tradutora e professora de Literatura e Cultura Inglesa e Americana na Faculdade de Letras da Universidade do Porto".

"Tendo-se estreado em livro em 1990 com Minha senhora de quê, uma década e meia depois, entre a primeira poesia reunida, publicada em 2005, e a segunda, em 2010, tornou-se claro que nenhum roteiro da poesia portuguesa das últimas décadas ficava completo sem Ana Luísa Amaral, não pelas semelhanças com outros, mas pelas singularidades: determinada temática, determinada imagética, e uma certa toada, melódica e dissonante, tocante e irónica", prossegue o texto.

"Seguiram-se anos especialmente prolíficos: novos livros, versões de Emily Dickinson, de Louise Glück, de Margaret Atwood, dos sonetos de Shakespeare, traduções de livros seus na Europa e nas Américas. Prolíficos também em prémios, uns nacionais (APE de Poesia, PEN de Narrativa, Jacinto do Prado Coelho de ensaio, Vergílio Ferreira), outros internacionais (de que se destaca em 2021 o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana)".

"Mais recentemente, em abril deste ano, o presidente da República condecorou a poetisa com o grau de Comendador da Ordem de Sant’Iago da Espada e a entrega das insígnias estava prevista para a abertura da Feira do Livro do Porto, no final deste mês, onde seria, e será, homenageada", assinala ainda Belém.
"Deixou-nos demasiado cedo"

Por sua vez, no Twitter, o primeiro-ministro escreveu que Ana Luísa Amaral, "uma das maiores vozes da poeisa portuguesa contemporânia", partiu "demasiado cedo".


"Tradutora, professora de literatura e uma referência dos estudos feministas em Portugal, deixa uma extensa obra poética, onde concilia o trivial com uma elevada erudição", aponta António Costa.
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