Arouca musealiza minas de volfrâmio que alemães e ingleses partilharam na 2.ª Guerra

por Lusa

Arouca, 24 fev (Lusa) - A Câmara de Arouca quer transformar em museu as minas de volfrâmio de Rio de Frades, onde, na II Grande Guerra, os inimigos ingleses e alemães exploravam minério e chegaram a partilhar as despesas de uma estrada comum.

A história foi recordada à Lusa pelo presidente da autarquia, José Artur Neves, que declara que a candidatura agora apresentada à Comissão Europeia para reconhecimento do valor patrimonial das minas se deve precisamente ao trabalho aí desenvolvido em meados do século XX, em termos industriais e humanos.

"Isto era um complexo enorme, com casas para os mineiros, refeitório, lavandaria, laboratório, farmácia, tudo", conta o autarca. "Chegaram a trabalhar aqui 3000 pessoas em simultâneo, com o volfrâmio a ser todo exportado para satisfazer as necessidades de armamento militar da guerra".

A exploração de Rio de Frades estava entregue aos alemães da Companhia Mineira do Norte de Portugal - por isso é que na freguesia de Cabreiros "ainda há gente com olhos bem azuis", observa José Artur Neves - e a poucos quilómetros de distância encontravam-se também as minas de Regoufe, concessionadas aos ingleses da Companhia Portuguesa de Minas.

"No campo de batalha essas duas nações eram inimigas", explica o presidente da Câmara, "mas, como aqui uma grande porção da estrada até às minas era a mesma, alemães e ingleses dividiram as despesas relativas ao troço comum e depois, a partir do ponto onde o caminho se separava para Rio de Frades ou para Regoufe, cada um pagou a sua parte".

Entretanto, a II Guerra Mundial acabou, as minas que foram pela primeira vez demarcadas em 1914 perderam utilidade e a exploração de Rio de Frades foi encerrada em 1956. Cerca de 10 famílias descendentes de mineiros continuam a viver na aldeia até hoje, mas, após décadas de abandono, os principais edifícios do complexo já estavam em ruínas quando em 2009 a Câmara Municipal adquiriu os seus cerca de 237.000 metros quadrados.

A compra abrangeu os terrenos, os túneis e todos os imóveis afetos às minas, com exceção de alguns lotes atribuídos a um investidor de Estarreja. Primeiro, a autarquia tratou de vender às famílias de Rio de Frades as habitações que elas vinham ocupando - "a Companhia nunca as despejou", revela o autarca - e agora a prioridade é preservar a memória do local e o património que ainda persiste.

"O projeto, nesta fase, não implica grande investimento, porque se trata principalmente de identificar os diferentes locais do complexo, instalar passadiços e reabilitar um túnel para que possa depois receber visitas", diz o presidente da Câmara.

"A candidatura também envolve trabalhos de investigação e de valorização paisagística e ambiental, porque há resíduos que têm que ser eliminados e zonas de segurança que têm que ser criadas", acrescenta Carminda Gonçalves, a técnica que gere o projeto.

Os registos documentais da época áurea de exploração das minas são, contudo, escassos, dependendo em grande parte de "um achado" recente que foi um filme dos anos 40 realizado no local por António Pinto Freire.

Este ex-comandante da GNR de Aveiro estava então responsável pelo posto de Rio de Frades e registou a sua vivência em película e quando o seu neto herdou a obra vendeu-a à Cinemateca Portuguesa, tendo a Câmara de Arouca comprado uma cópia.

Para José Artur Neves, essas são "imagens poderosíssimas, muito marcantes, que fornecem informação valiosa sobre a época de produção mais intensa das minas e permitem reinterpretar a história da aldeia".

O metal na origem de todo esse património era o volfrâmio, mais conhecido atualmente como tungsténio e identificado pelo símbolo químico W.

De cor branco-cinza sob condições padrão, tem uma densidade comparável à do ouro e à do urânio, sendo que, entre todos os metais na forma pura, é o que atinge o seu ponto de fusão à temperatura mais elevada, aos 3422 graus.

Dado o seu valor comercial, o presidente da Câmara Municipal de Arouca não rejeita a hipótese de devolver as minas de Rio de Frades à exploração industrial.

"Estamos disponíveis para alternativas", garante. "Se aparecessem interessados, daríamos primazia a um recurso económico com evidentes vantagens para o país e para a criação de emprego".

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