Arte dos Barcos Moliceiros de Aveiro inscrita em Lista de Salvaguarda Urgente da UNESCO

A arte da carpintaria naval da região de Aveiro, traduzida nos barcos moliceiros, foi inscrita esta terça-feira na lista de património imaterial em necessidade de salvaguarda urgente da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

RTP /
Foto: Marco Simoni | Robert Harding Premium via AFP

A decisão foi tomada durante a 20.ª sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a decorrer até sábado em Nova Deli, na Índia.

De acordo com a documentação disponível no site da UNESCO, além dos moliceiros para a lista de salvaguarda urgente, Portugal não tinha qualquer nomeação a votação para a lista de Património Cultural Imaterial da Humanidade nesta sessão do comité.

O Barco Moliceiro havia já sido inscrito em 2022 no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por iniciativa da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).

A decisão tomada advém da necessidade de medidas de proteção da arte de carpintaria naval da região de Aveiro, uma vez que, de acordo com a UNESCO, existem apenas cinco mestres construtores ainda no ativo- quatro deles com mais de 60 anos - o que coloca em risco a continuidade desta arte.

Algumas das estratégias apresentadas para inverter o declínio desta prática incluem ações dirigidas às escolas para aproximar as novas gerações deste saber tradicional e propostas como a instalação de motores elétricos nas embarcações usadas para turismo, adaptando a tradição às exigências atuais.

Os moliceiros, outrora essenciais para a recolha de moliço na Ria de Aveiro, são hoje reconhecidos pela sua singularidade estética. A proa destaca-se pelas pinturas únicas, descritas pelo autor Jaime Vilar como exclusivas e sem paralelo na navegação mundial, abrangendo temas satíricos, humorísticos, eróticos, religiosos, românticos ou históricos.

Em média, um moliceiro mede 15 metros, desloca cinco toneladas e possui fundo plano, permitindo a navegação em águas pouco profundas.

Na década de 1970, existiam cerca de três mil moliceiros registados na Ria de Aveiro. Atualmente, estima-se que subsistam pouco mais de 50, dos quais metade opera sobretudo em circuitos turísticos nos canais urbanos.

Com esta inscrição, Portugal passa a contar com três patrimónios na lista da UNESCO que requerem salvaguarda urgente — juntando-se ao barro negro de Bisalhães e à manufatura de chocalhos — além de oito manifestações classificadas como Património Cultural Imaterial da Humanidade e um registo de Boas Práticas de Salvaguarda. 

com Lusa
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