Artistas e comunidade da Feira evocam arquiteto Fernando Távora em instalação luminosa

por Lusa

Santa Maria da Feira, Aveiro, 12 dez (Lusa) - O Mercado Fernando Távora exibe, até 31 de janeiro, uma instalação luminosa que, envolvendo artistas de três países e 70 cidadãos de Santa Maria da Feira, evoca o trabalho desse arquiteto e propõe novas dinâmicas para o seu edifício.

A obra em causa designa-se "LUCity!" e replica o nome do programa internacional de mobilidade artística que, promovido pela plataforma de inovação social portuguesa 4iS e financiado pelo programa Creative Europe, conta com a parceria do Imaginarius Centro de Criação e três outras organizações culturais estrangeiras: a italiana Bass Culture, a eslovaca House! - Society for People and Places e o britânico Kirklees Theatre Fund - The Lawrence Batley Theatre.

João Rosa é o coordenador-geral do projeto enquanto diretor da 4iS, e explicou hoje à Lusa que o objetivo da iniciativa é questionar a relação entre comunidade, arte e espaço público, concretizando, através da cenografia e da iluminação, novas abordagens à relação entre a luz, o mercado municipal da Feira e a própria cidade.

"Começámos por fazer um mapeamento emocional do território com os cidadãos que se associaram ao projeto e esse foi o nosso ponto de partida", revela. "Depois usámos as histórias desses participantes para desenvolver uma instalação em cocriação com o artista local Monsenhor enVide neFelibata, diretor artístico do Teatro e Marionetas de Mandrágora, e com o coletivo internacional Entropikalab, que, reunindo a arquiteta grega Artemis Papageorgiou e a designer italiana Gabriella Mastrangelo, vem desenvolvendo a sua atividade sobretudo em Matera, a Capital Europeia da Cultura em 2019", acrescenta.

A instalação LUCity foi-se assim definindo ao longo de duas semanas de trabalho com a comunidade local, motivando uma colaboração "intergeracional" que já levou cerca de 70 cidadãos de diferentes idades às oficinas de preparação do projeto e que ainda deverá contabilizar mais participantes noutras iniciativas idênticas, previstas até final de janeiro.

No Mercado Municipal Fernando Távora, o resultado desse trabalho pode apreciar-se gratuitamente, agora no ambiente próprio do mercado natalício que o edifício acolhe até final de dezembro e, a partir daí, no contexto isolado da arquitetura original do recinto.

"Numa única instalação, há duas linguagens identificadas: a das artistas do Entropikalab, que trabalharam os elementos de luz suspensos, evocando as formas geométricas da arquitetura de Fernando Távora, e a do Monsenhor enVide neFelibata, que tratou a componente das sombras, para fazer sobressair, em contraste, as linhas do próprio edifício", revela João Rosa.

Pedro Santos foi um dos voluntários que participou no projeto ao longo de duas semanas porque, como designer gráfico, ilustrador e `street artist`, achou que podia beneficiar da experiência dos outros criadores envolvidos no LUCity. Não se arrepende: "Estas duas semanas de trabalho permitiram-me estabelecer novos contactos na minha área, o que é perfeito, e lidei com materiais que nunca tinha experimentado antes, como as cofragens com que cobrimos parte do mercado".

Mesmo deixando de lado a perspetiva profissional e avaliando apenas o seu envolvimento no projeto enquanto habitante do concelho, Pedro Santos também se diz enriquecido. "Reforcei a opinião que tinha sobre o edifício do Fernando Távora, que é uma obra notável da arquitetura portuguesa, e concordo com os outros artistas quando dizem que se podia fazer mais coisas naquele espaço", defende.

Duas ideias parecem-lhe já viáveis: "Realizar ali mais eventos, para dar ao espaço outra dinâmica, e investir em mais restauração, para o mercado ter procura todos os dias".

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