Artur Pizarro e a sua "primeiríssima aluna" Vita Panomariovaite tocam a quatro mãos Rimsky-Korsakov.
Lisboa, 27 Nov (Lusa) - O pianista Artur Pizarro e a sua "primeiríssima aluna" Vita Panomariovaite apresentam-se quarta-feira no Teatro S. Luiz, em Lisboa, para interpretar a quatro mãos obras de Nikolay Rimsky-Korsakov.
"É como se fosse um só corpo e duas cabeças", disse à Lusa Artur Pizarro, na opinião do qual tocar a quatro mãos "exige uma grande confiança" entre os dois intérpretes, mas é essencial deixar fluir a música".
Para o pianista, radicado há oito anos em Brighton (Inglaterra), "é muito mais difícil tocar a quatro mãos do que sozinho".
"Quando tocamos juntos é já pelo subconsciente, quase não falamos, como que adivinhamos o que o outro vai fazer, temos reacções muito semelhantes", explicou, acrescentando a rir: "Ela [Vita Panomariovaite] já conhece todas as minhas maniazinhas".
Relativamente à aluna com quem vai partilhar o piano quarta-feira, descreve-a como a sua "primeiríssima aluna" a quem limou "arestas" e, "de certa forma", moldou.
Mas Vita Panomariovaite tinha já "uma formação idêntica, na velha escola alemã" o que os aproximou mais.
"Disciplina e rigor, sem exageros, até porque ninguém consegue estar verdadeiramente concentrado mais do que quatro horas", atestou.
Pizarro e Panomariovaite vêm apresentar o álbum que gravaram o ano passado nesta mesma sala lisboeta que é, para o pianista português, emblemática.
Foi no S. Luiz que tocou pela primeira vez em público, tinha então 11 anos, que ouviu Sequeira Costa, o seu professor durante 16 anos e com quem tocou também nesta sala pela primeira vez a quatro mãos.
"É uma sala com boa acústica - avaliou - Depois das obras, para mim, ficou mais transparente, ouve-se tudo o que se passa fora da sala, no foyer, na rua, por outro lado ganhou reverberação, era uma sala muito seca".
Para gravar o álbum garante ter sido "um suplício" só ultrapassável "pela boa vontade da impecável equipa do S. Luiz".
"Nós queríamos aquele som, e gravámos às três da manhã, sem eléctricos a passar, metropolitano, e conseguimos", rematou.
Ao S. Luiz ligam-no laços de afecto e está agora empenhado, com o seu director, Jorge Salavisa, na recuperação de um piano Steinway.
"É um piano formidável- disse - mas em péssimo estado, não só por uma questão de manutenção como por uma questão de idade. É um bom instrumento, mas está completamente gasto e vamos recuperá-lo".
Falando do S.Luiz, não poupa elogios: "Esta é uma casa que me agrada, a equipa é determinada e tem a mesma ética profissional que eu: fazer a 110 por cento. Dou sempre 10 por cento de margem para, no caso de falhar, nunca estar abaixo do exigido".
Depois de Lisboa, Pizarro não tem projectos imediatos, além do concerto marcado, e já esgotado, para Bona, onde actuará pela primeira vez, a 11 de Janeiro.
"Iremos voltar a gravar a quatro mãos, mas não escolhemos ainda o repertório, e continuaremos a realizar recitais. Estou numa excelente altura da minha carreira, em que tanto toco a solo, a dois pianos, como música de câmara, com orquestra ou com a Vita. O que preciso é desta variedade", disse ainda.