As linguagens dos cinemas nazi e soviético na génese do cinema do Estado Novo

por Cláudia Almeida - Antena 1
Fundação António Quadros

Num novo ensaio, a investigadora e jornalista Maria do Carmo Piçarra sintetiza o papel do cinema nazi e soviético, no cinema de propaganda do Estado Novo em Portugal.

Reaparece um país de tradições rurais, com gente trabalhadora sem meios para trocar as voltas à sorte e exposto ao discurso que a máquina política de Portugal dos anos de 1930 começava a fabricar: é este o guião do mais recente livro da autora, intitulado "Projectar a Ordem - Cinema do Povo e Propaganda Salazarista 1935-1954".

Desde 2006 que Maria do Carmo Piçarra tem publicado ensaios sobre a utilização do cinema na propaganda do Estado Novo.

A apresentação do livro decorre esta quarta-feira na Livraria Linha de Sombra (na Cinemateca Portuguesa em Lisboa), às 19h00. Segue-se, às 21h30, a apresentação na Esplanada dos filmes "Jornal Português nº 52" e "Aniki-Bobó", numa reconstrução de uma sessão do "Cinema do Povo" - mais de 80 anos depois das primeiras, realizadas em Lisboa em 1936.

Maria do Carmo Piçarra analisou profundamente o Fundo do SNI - Secretariado Nacional da Informação na Torre do Tombo.

Num livro dividido por cinco capítulos, começa por enquadrar a forma como o cinema acaba por ser o veículo perfeito para a "política do Espírito" de António Ferro. Com falta de produção nacional, o Governo português de então estabelece contactos com a Alemanha para mostrar erm Portugal «filmers que façam a apologia dos Estados fortes», refere MaRia do Carmo Piçarra.
Foto: José da Costa Ramos

Há dois filmes que se destacam, na história do cinema ambuulante em Portugal: "A Revolução de Maio" (1937) e "O Feitiço do Império" (1940), ambos realizados por António Lopes Ribeiro. Ele que se assumiu como o realizador do regime salazarista, tinha grandes projectos para uma expansão internacional do cinema português, mas não convenceu o regime a suportar os gastos desse grande projecto.

Mesmo assim, viajou até à Alemanha e depois à então União Soviética. E de lá trouxe o modelo do cinema soviético que, noutros países como França e Inglaterra, já fazia caminho - na forma de veicular a propaganda das diversas potências europeias. Ironias da história: o Estado Novo usa a linguagem do cinema soviético para enfraquecer e imobilizar o progresso da ideologia comunista em Portugal.
Foto: José da Costa Ramos

O "Cinema do Povo" está na estrada a partir de 1936 e até 1954. Percorre as aldeias e vilas de Portugal, com o objectivo de combater o comunismo, promover o corporativismo e as Casas do Povo. Um método eficaz, sem muitos meios financeiros envolvidos.
Foto: Cine-Jornal
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