Beleza natural e gente acolhedora atraem estrangeiros a Ferreira do Zêzere
Ferreira do Zêzere, Santarém, 15 Abr (Lusa) -- Foi da janela de um avião que o músico irlandês Brian Mackay descobriu o local onde queria viver: Ferreira do Zêzere, um concelho do interior do país que tem vindo a perder população.
O verde da floresta, mas sobretudo o vasto azul dos lagos do rio Zêzere, levaram-no a procurar no mapa o local onde viria a descobrir a casa para onde se mudaria, há pouco mais de dois anos, com a mulher, cantora lírica brasileira, e os seus quatro filhos.
Brian Mackay é dos mais recentes membros de uma comunidade estrangeira que representa já cerca de 3 por cento da população deste concelho do Norte do distrito de Santarém e que se destaca pelo dinamismo económico, mas também pelo envolvimento na vida comunitária.
No verão de 2011, o músico irlandês organizou o I Festival de Ópera de Ferreira do Zêzere, evento que se vai repetir nas duas semanas primeiras semanas de agosto, trazendo para a vila cantores líricos de toda a Europa em final de formação e oferecendo um conjunto de espetáculos únicos na região. Acabou por ficar e dirige um coro infantil e um juvenil.
"Chegámos aqui quase sem pensar sobre o trabalho", disse à Lusa, contando que as oportunidades apareceram naturalmente "porque crianças são crianças e pessoas são pessoas e todos querem ouvir e saber música".
Patrícia Norman, inglesa, é outro exemplo de envolvimento com a comunidade local. A residir em Ferreira do Zêzere há 25 anos já se sente portuguesa por inteiro.
Com uma paixão assumida pelo futebol, desde criança, é no Sport Clube de Ferreira do Zêzere que passa os seus dias. Depois de mais de 20 anos na direção, esta mulher "brincalhona", como se define, ocupa-se da roupa das equipas, desde os infantis aos seniores, cuida do campo e de todos os pormenores dos jogos.
"Quando eu mudei para cá foi a vida mais simples, a qualidade daqui. Agora é como uma família para mim", disse à Lusa.
Teunie Verheij e o marido, Gert, descobriram Ferreira do Zêzere num anúncio de jornal, ainda na Holanda. Foi há mais de nove anos que decidiram ver se a quinta do anúncio era o local que sonhavam para abrir um parque de campismo.
Com três apartamentos, um pequeno campo relvado para tendas e caravanas, uma piscina, um bar e uma pequena loja onde vendem cerâmica do Alentejo, ficaram.
Hoje, os quatro filhos, com idades entre os 18 e os 24 anos, estão perfeitamente integrados, muito graças ao apoio que encontraram nas escolas locais.
No Centro Cultural, onde Brian dá aulas, Mariana Boian Lopes, uma moldavo-romena casada com um português, ocupa-se da Universidade Senior e dos seus 38 alunos, quatro dos quais são, como ela, estrangeiros.
"Estão cá para estudar português, mas a dona Margaretha (holandesa) está muito ativa em quase todas as aulas", disse à Lusa.
Margaretha Koekebakken, 78 anos, é conhecida pela população por todos os dias atravessar o rio a nado na companhia dos seus dois cães, mas também por, desde há 10 anos, ser a tocadora de flauta do rancho folclórico.
Há 16 anos vendeu o seu hotel na Holanda e foi em férias com a irmã que descobriu o lugar onde ficou a viver. Enquanto conversa com a Lusa convida Delfina, a colega espanhola que foi casada com o anterior presidente da câmara, para um café.
"Para mim a universidade representa muito. São amigos, quase como família", disse, sublinhando Mariana o acolhimento que sentem junto dos alunos portugueses e da população em geral.
Sorridentes, Gunther e Regina Bohm, o casal de alemães que reparte agora a sua vida entre Ferreira do Zêzere e Hamburgo, confessam que a integração "foi fácil". Compraram há 16 anos o terreno onde cultivam hortícolas e fruta, produzem vinho, branco e tinto, e azeite.
"Gosto do tempo, das frutas, do fado, de bacalhau", confessa Gunther, enquanto Regina, que "tem mão" para as flores, aponta a especialidade do marido na produção de tomate.
"As pessoas aqui são mais hospitaleiras, mais acolhedoras, carinhosas", dizem.