Cal gratuita "branqueia" casas alentejanas durante o Verão
Vários municípios do Alentejo estão a distribuir gratuitamente cal e materiais de pintura aos moradores para que estes possam caiar muros e a frontaria das casas, numa tradição que marca a arquitectura da região.
Em Beja, segundo informou a Câmara Municipal, a campanha de oferta de cal e pincéis decorre até Setembro, podendo os interessados solicitar esses materiais no viveiro do Jardim Público e no Parque de Materiais.
Já nas aldeias do concelho, os proprietários dos imóveis que queiram obter a cal e pincéis gratuitos devem solicitá-los nas sedes das juntas de freguesia.
A iniciativa, assegura a autarquia, procura "preservar a brancura das habitações" que, de forma singular, "caracteriza a paisagem alentejana", ajudando a manter a tradição.
"No Alentejo, esta é uma prática transmitida de geração em geração e o ritual repete-se anualmente. Assim que o tempo `levanta` o povo sai à rua para caiar a frontaria das suas casas", realça o município.
A cal foi sempre usada pelos habitantes da região por se tratar de um "material acessível a todas as bolsas", proporcionando, além da brancura, a protecção do interior das habitações do "intenso calor do Verão", já que funciona como espelho para expulsar o Sol.
Numa ronda efectuada junto de várias juntas de freguesia rurais, a agência Lusa detectou que algumas ainda não receberam cal para disponibilizar os moradores, como é o caso de Baleizão, mas outras até já pediram "reforço".
"Até já tivemos que pedir mais cal por duas vezes devido à elevada procura por parte das pessoas da terra", garantiu uma funcionária da junta de freguesia de S. Matias, aldeia a poucos quilómetros de Beja.
Segundo a mesma funcionária, esta campanha "é habitual, todos os anos", despertando interesse porque coincide com as festas de muitas aldeias.
"Nestes meios pequenos, como S. Matias, estamos na altura das festas. As pessoas têm o hábito de andar a limpar e a caiar as suas casas, para ficar tudo num `brinco`", disse.
Também na junta de freguesia de Quintos, de acordo com uma funcionária, o cenário é semelhante.
"Recebemos cal e os habitantes têm vindo buscá-la, há uma boa adesão. Não recebemos foi pincéis", disse.
Santiago do Cacém, no litoral alentejano, é outro dos municípios que está a oferecer, até ao final de Outubro, cal, pigmentos e pincéis para que a população local possa caiar as casas.
A campanha é destinada aos moradores do centro histórico e da freguesia da sede de concelho.
A cal resulta da decomposição do calcário pelo calor, com perda de peso, devido à libertação de anídrico carbónico, refere o município de Santiago do Cacém.
A sua utilização remonta à civilização Mesopotâmica, mais concretamente à antiga cidade de Ur, onde escavações arqueológicas permitiram descobrir o primeiro forno de cal, datado de 2.000 a.C.
Alguns fornos de cal, que se obtém através da cozedura do calcário, ainda subsistem no concelho de Santiago do Cacém.
A caiação é um processo de pintura a água, muito económico, ao qual se podem adicionar pigmentos para a obtenção de diversos tons.