Em declarações à Lusa, Inês Pedrosa precisou que o item em questão - a contracapa do livro "As doutrinas anarquistas", de Paul Ezerbacher, traduzido por Manuel Ribeiro - contém anotações em inglês que prosseguem um texto iniciado por Fernando Pessoa na página final do livro.

A capa e o livro propriamente dito constam do acervo pessoano actualmente em poder da Casa Fernando Pessoa.

"Está-se a leiloar a capa de um livro que é nosso. E a contracapa de um livro faz parte da integridade do livro", frisou.

Informada dos aspectos jurídicos e criminais do caso, Inês Pedrosa soube que, "do ponto de vista do direito civil, isto é uma transacção nula, porque não pode ser vendido segunda vez um livro que já foi vendido".

Do ponto de vista criminal, prosseguiu, "a insistir-se nesta venda", estar-se-á perante "aquilo a que se chama roubo".

Questionada pela Lusa sobre as circunstâncias em que esta "mutilação" da obra teria ocorrido, a responsável observou que, independentemente do que judicialmente possa ser apurado, a classificação do espólio a leiloar quinta-feira "não foi feita por especialistas".

Inês Pedrosa referiu, ainda, que se apercebeu hoje do ocorrido ao consultar, no catálogo do leilão, a parte referente a "papéis". À Casa Fernando Pessoa, que tem Biblioteca de Pessoa, interessam apenas livros e revistas.

O leilão - de poemas inéditos, cartas, livros, documentação vária do poeta dos heterónimos - está marcado para as 21.00 de quinta-feira na Galeria P4, em Lisboa.