Centenas de artistas contra ameaças do governo dos EUA à liberdade de expressão

Centenas de artistas norte-americanos, incluindo atores como Robert DeNiro e Meryl Streep, subscreveram a carta aberta da União Americana pelas Liberdades Civis, em defesa da liberdade de expressão, contra a suspensão do programa televisivo de Jimmy Kimmel.

Lusa /

Nesta carta, atores como Ben Affleck, Ben Stiller, Jennifer Aniston, Kerry Washington, Selena Gomez e Tom Hanks, afirmam que os cidadãos norte-americanos "jamais devem aceitar" ameaças do governo à liberdade de expressão.

A carta foi publicada cinco dias depois de o programa de Jimmy Kimmel, um dos mais populares da televisão norte-americana, ter sido suspenso por tempo indeterminado pela cadeia ABC, por causa dos comentários do comediante sobre o uso político do assassinato do ativista ultraconservador Charlie Kirk.

O cancelamento do programa de Kimmel ocorreu horas depois de o presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr, nomeado por Donald Trump, ter sugerido que o governo poderia tomar medidas contra as afiliadas da estação que transmitissem o programa do comediante.

Kimmel foi visado pelo comentário feito na noite de 14 de setembro, em que disse: "Tivemos alguns novos momentos difíceis no fim de semana, com o `gangue MAGA` a tentar desesperadamente caracterizar o miúdo que assassinou Charlie Kirk como algo diferente deles e a fazer tudo o que podiam para `ganhar pontos` políticos com isso".

O comediante exibiu ainda um `clip`, já viral na Internet, que mostrava o Presidente dos EUA a discutir obras na Casa Branca, quando questionado sobre a morte de Kirk.

A carta da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla original), hoje divulgada, afirma que as tentativas de pressionar artistas, jornalistas e outros profissionais das artes e dos meios de comunicação, com retaliações pela sua atividade, "atingem o cerne" do que significa viver num país livre.

"Independentemente da nossa filiação política, ou de participarmos ou não na política, todos amamos o nosso país. Partilhamos a convicção de que aqueles que estão no poder nunca devem silenciar as nossas vozes, porque se isso acontece a um de nós, acontece a todos nós", lê-se na carta.

Entre as centenas de signatários estão figuras latinas proeminentes, como os atores Pedro Pascal ("The Last of Us") e Diego Luna ("Star Wars: Secrets of the Empire").

Anthony D. Romero, diretor executivo da ACLU, disse que o silenciamento de Kimmel e a pressão exercida sobre os meios de comunicação social através de processos judiciais e ameaças às suas licenças fazem lembrar o `maccarthismo`, período da década de 1950 conhecido como "caça às bruxas", em que a oposição ao comunismo e à antiga União Soviética, em plena Guerra Fria, levada ao extremo, alimentou uma campanha de repressão, impulsionada pelo senador Joseph McCarthy.

A política persecutória das audições no Congresso, as denúncias e o controlo ideológico, sufocaram diferentes setores da sociedade norte-americana, em particular em áreas da ciência, do ensino e das artes, com muitos dos criadores de Hollywood a serem perseguidos e impossibilitados de trabalhar nos Estados Unidos, como o realizadpr Joseph Losey ("O Rapaz do Cabelo Verde"), o argumentista Dalton Trumbo ("Roman Holiday", "Exodus", "Spartacus") e o próprio ator e realizador Charlie Chaplin, que regressou ao Reino Unido.

"Devemos lembrar, no entanto, que o senador McCarthy foi finalmente neutralizado quando o povo americano se mobilizou e o enfrentou. Devemos fazer o mesmo hoje porque, juntos, as nossas vozes são mais altas e, juntos, lutaremos para ser ouvidos", enfatizou Romero.

A carta da ACLU, publicada hoje no `site` da organização, já soma mais de 25 mil assinaturas.

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