Centro histórico de Évora é dos "mais bem preservados" do país, diz UNESCO

O centro histórico de Évora, um dos 13 sítios portugueses classificados como Património Mundial, foi apontado por uma representante nacional da UNESCO como "um dos mais bem preservados" núcleos urbanos do país.

Agência LUSA /
Lusa

"Os elementos marcantes deste centro histórico, que levaram à classificação, mantêm-se. Évora, num balanço global, será dos centros históricos portugueses mais bem conservados", garantiu Manuela Galhardo, secretária executiva da Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

A representante da UNESCO, entidade responsável pelo reconhecimento daquele centro histórico alentejano como Património Mundial (ou da Humanidade), falava à agência Lusa à margem do colóquio internacional "Évora 20 Anos Depois", que arrancou hoje na cidade.

O encontro, que termina sábado, com a sessão comemorativa que assinala a classificação da cidade, reúne especialistas portugueses e estrangeiros para uma reflexão em torno, não só do balanço de Évora, mas também do futuro para as cidades Património Mundial.

Manuela Galhardo explicou à Lusa que, nos últimos 20 anos, a cidade alentejana, apesar de ter enfrentado "problemas ligados ao desenvolvimento", alguns dos quais "já corrigidos" pela "actuação intensa e visível" do Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), nunca precisou de qualquer "chamada de atenção" da UNESCO.

"Mesmo com 830 sítios classificados a nível mundial, a UNESCO está muito atenta a tudo e há sempre chamadas de atenção para que um Estado-membro, quando `pisa o risco`, corrija a situação. Para Évora nunca houve essa necessidade", disse.

A representante da UNESCO realçou o papel da cidade na conservação do seu centro histórico, mas também a cooperação transfronteiriça que tem mantido com congéneres de outros países, um caminho que é o que "deve ser seguido".

"Não devemos olhar apenas para a questão de receber e corresponder aos requisitos propostos e impostos, os quais aceitámos, mas também para as capacidades que aqueles que aqui vivem e trabalham podem oferecer a outros bens classificados, em Portugal noutros países", frisou.

Neste plano, Manuela Galhardo salientou a colaboração com as "famílias naturais" de Portugal, a europeia e a dos países de língua portuguesa, lembrando que também a Comissão Nacional da UNESCO tem cooperado com os Estados que possuem os "21 sítios classificados com origem portuguesa e espalhados pelo mundo".

Relativamente ao futuro dos núcleos Património Mundial, a responsável defendeu que, cada vez mais, a orientação deve ser a de "articulação entre o património edificado e as cidades criativas, encaradas como um tecido vivo", já que o objectivo primordial da classificação assenta no "desenvolvimento humano".

"A personalidade e a marca das cidades devem fazer-se sentir, não somente no imóvel e no construído, mas nas vivências e experiências da população. Ao critério primordial do valor universal excepcional, podem-se juntar mais-valias imateriais, como a literatura, música ou a própria gastronomia", precisou, garantindo que Évora tem dado "provas de dinamismo" neste sector.

Já o presidente da Câmara Municipal de Évora, José Ernesto Oliveira, sustentou, durante o encontro, que os 20 anos da classificação da cidade pela UNESCO devem servir para "comemorar", mas também para "reflectir sobre o balanço" da experiência e das "fragilidades" detectadas.

Sob o ponto de vista demográfico, apesar de Évora, globalmente, ter "contrariado a tendência de perda de população que é comum ao Alentejo e ao interior do país", o centro histórico já só tem cerca de 5.600 habitantes, "maioritariamente idosos" e "bipolarizados em termos de classes sociais", já que a classe média "rumou" para a periferia da cidade.

"A perda de vitalidade do centro histórico é o nosso principal problema, aliás, comum a praticamente todos os centros históricos do país, mas temos de inverter esta tendência e criar condições para atrair a população mais jovem e a classe média, que é um motor importantíssimo da economia local", argumentou.

Em termos económicos, baseando-se em dados dos últimos censos, o autarca referiu que, de 1981 a 2001, o número de empresas sedeadas no concelho cresceu 10,8 por cento, sendo "metade" das novas "ligadas ao ramo da hotelaria", o que fez Évora duplicar a sua capacidade hoteleira (de cerca de 600 camas para 1.200).

"A hotelaria e o turismo são os grandes motores do desenvolvimento económico, neste momento, do concelho", frisou, realçando que Évora, sobretudo graças à Universidade, tem "uma taxa de analfabetismo inferior às médias regional e nacional" e é das cidades "com níveis culturais e académicos dos mais elevados do país".

Évora, com um centro histórico com 104 hectares, passou a ser Património Mundial em 1986, quando a UNESCO a reconheceu como "o melhor exemplo de cidade da Idade do Ouro portuguesa", permitindo compreender "a influência que a arquitectura portuguesa exerceu no Brasil, nomeadamente em cidades como São Salvador da Baía".

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