Chinês está a emergir, Francês e Alemão a morrer
O Francês e o Alemão são línguas "quase a morrer " e o Chinês "está a emergir". Quem o diz é Francisco Almeida, 17 anos, o jovem aluno português mais graduado em Mandarim numa escola do Porto.
Estuda a língua nacional chinesa, o Mandarim, há oito anos no Colégio Luso-Internacional do Porto (CLIP) e está prestes a entrar na Universidade, para seguir Física.
O seu actual professor, João Canuto, natural de Macau, filho de português e de macaense, diz que Francisco Almeida "já atingiu um nível semi-fluente em Mandarim", o que é "uma grande vitória".
Francisco tem três horas de aulas de Mandarim por semana no CLIP, colégio pioneiro no ensino da língua chinesa em Portugal, mas o "grande salto" foi dado num curso intensivo de seis semanas que frequentou em Pequim.
"Foi um bocadinho por vontade minha e um bocadinho vontade dos meus pais. Achava que ia ser diferente, que ia ser giro", afirma Francisco, explicando as razões que o levaram a escolher o Mandarim como língua opcional quando transitou para o quinto ano.
A directora da "Upper Scholl" (do oitavo ao décimo segundo ano de escolaridade) do CLIP, Lydia Silva, refere que já há 16 anos que o colégio tencionava introduzir o ensino do Mandarim, mas só oito anos depois reuniu condições para o fazer, e, mesmo assim, no primeiro ano apenas se inscreveu um aluno, o Francisco.
Actualmente, 40 alunos portugueses e dois chineses nascidos em Portugal frequentam aulas de Mandarim no CLIP, metade dos quais na "Middle School" (do quinto ao sétimo ano), o que demonstra que são menos os pais que colocam entraves à opção dos seus filhos pela aprendizagem da língua chinesa.
"Os meus pais queriam que eu fizesse Francês, mas eu e o meu irmão preferíamos aprender Mandarim. Como entrei no CLIP para o sétimo ano e fui obrigada a fazer Francês, assim faço o que quero e ao mesmo tempo agrado aos meus pais", diz Yolanda Carvalho, 14 anos, agora a frequentar o nono ano.
Francisco, Yolanda e os colegas Martim Bettencourt (17 anos), João Costa (14 anos) e João Pedro Silva (14 anos) são unânimes em afirmar que a escolha do Mandarim foi, sobretudo, decisão deles, ainda que, nalguns casos, os pais tivessem tido influência.
"O pai do Francisco é um `business man` [homem de negócios]. Corre o Mundo inteiro. Ele percebeu a importância de saber Mandarim", salienta Lydia Silva .
A directora realça que, além da importância estratégica de dominar uma língua que está em expansão no Mundo, a aprendizagem do Mandarim desenvolve os dois lados do cérebro, ao contrário de uma língua ocidental como o Inglês.
Segundo Lydia Silva, a necessidade de aprender a desenhar os caracteres da escrita chinesa desenvolve a zona artística do cérebro, o lóbulo direito, o que contribui para uma aprendizagem rápida e equilibrada de todas as disciplinas .
O CLIP quer agora antecipar o início do ensino do Mandarim, criando turmas a partir dos cinco anos, para ajudar as crianças a desenvolver a sua parte motora, ao mesmo tempo que assimilam a língua como quem nasceu e vive na China.
"O Francisco já tem alguma competência, mas nunca vai falar Mandarim como uma pessoa bilingue. Precisamos de aprender uma língua logo nos primeiros anos de idade para a podermos dominar", afirma a directora.
João Canuto, professor de Mandarim no CLIP há quatro anos, defende que a língua chinesa devia ser introduzida no ensino público português "como disciplina curricular obrigatória".
"O Mandarim está a tornar-se a segunda língua mais utilizada no Mundo. Dentro de cinco anos, será a maior língua na Internet. Já é disciplina obrigatória numa escola de Brighton, no Reino Unido. Fomos o primeiro país europeu a tomar contacto com a China, mas, infelizmente, Portugal corre o risco de ser ultrapassado nesta matéria, porque tem outras prioridades", lamenta o docente.
João Canuto salienta que "o Chinês não se aprende em três horas por semana", dada a sua estrutura gramatical, completamente diferente da das línguas europeias, pelo que deveria ser ensinado mais cedo e com maior intensidade.
"No Chinês, não há género nem número, mas a dificuldade maior é a escrita. Há 35 traços básicos e 10 regras para escrever os caracteres do Mandarim. Há oito línguas distintas na China, uma das quais nacional, o Mandarim, mas a escrita é a mesma para todas", explicou o professor.
O desejo de João Canuto de ver o Mandarim ensinado às crianças de todo o país parece, contudo, estar longe de ser alcançado, tendo em conta o reduzido número de escolas que oferecem esta língua no seu plano curricular.
Segundo os responsáveis do CLIP, só outra escola básica e secundária do Porto, o Colégio do Rosário, tem alguns alunos a estudar Mandarim, e há alguma oferta no Ensino Superior, nomeadamente nas faculdades de Letras de Lisboa e Porto e nas universidades Católica e do Minho.
A Universidade do Minho criou recentemente o primeiro curso de Estudos Asiáticos da Península Ibérica, dirigido por Sun Lin, a primeira professora de Mandarim do CLIP.