Choix Goncourt Portugal premeia romance "Jacaranda" de franco-ruandês Gaël Faye

O romance "Jacaranda", do escritor franco-ruandês Gaël Faye, que aos 13 anos fugiu do seu país natal rumo a França, acompanhado pela irmã, é o vencedor do Choix Goncourt du Portugal 2024, anunciou hoje o Institut Français, em Lisboa.

Lusa /

A escolha foi feita por um júri constituído por oito estudantes de oito universidades portuguesas, presidido pelo escritor e cineasta francês Philippe Claudel, presidente da Academia Goncourt, numa deliberação que decorreu esta tarde na Embaixada de França, em Lisboa.

Rapper, cantor, autor, compositor e intérprete, Gaël Faye escreveu um romance "que conta, com o olhar de quatro gerações, a história terrível do Ruanda, um país que tenta, apesar de tudo, o diálogo e o perdão", como uma árvore -- no caso o jacarandá -- "que se ergue entre a escuridão e a luz", celebrando a humanidade, descreve o júri do prémio.

"Jacaranda" acompanha Milan, um jovem franco-ruandês que cresceu em Versalhes, França, nos anos 1990. Filho de mãe tutsi e pai francês, Milan testemunha, durante a infância, os horrores do genocídio de 1994 no Ruanda (país natal da sua mãe), através da televisão.

Confrontado com o silêncio obstinado da mãe sobre o passado e determinado a compreender as suas raízes e história familiar, Milan viaja já adulto para o Ruanda, onde estabelece laços com amigos de infância e sobreviventes, que o ajudam a reconstruir o passado e a refletir sobre a identidade, a memória e a herança do trauma.

Ao longo da narrativa, Milan descobre os segredos ocultos sob a sombra do jacarandá e confronta os silêncios que permeiam a sociedade ruandesa pós-genocídio.

O romance percorre quatro gerações e alterna entre Versalhes, Kigali, Butare e Kibuye, à beira do lago Kivu.

A versão portuguesa de "Jacaranda" chega às livrarias em julho pela editora Relógio d`Água, que recebeu apoio financeiro do Programa de apoio à publicação de livros do Institut Français Paris.

"Jacaranda", que já vencera o Prémio Renaudot, foi selecionado pelos estudantes portugueses entre quatro obras finalistas do Prémio Goncourt 2024.

Entre as obras finalistas estavam também "Madelaine avant l`aube", de Sandrine Collette, "Archipels", de Hélène Gaudy, e "Houris", de Kamel Daoud, vencedor do Prémio Goncourt, que se viu depois envolvido numa polémica, por acusações de alegadamente ter usado a história de uma paciente da sua mulher, psiquiatra, para a escrita do romance.

O Choix Goncourt du Portugal funciona como "um prémio do público" em que os estudantes universitários das áreas da língua francesa e literatura comparada são convidados a selecionar a obra vencedora por entre quatro finalistas do último Prémio Goncourt, neste caso referindo-se à edição de 2024.

Ao todo, o Choix Goncourt du Portugal contou com a participação de 32 estudantes de língua francesa e literatura comparada, acompanhados pelos seus professores, provenientes das oito universidades portuguesas participantes: Universidade do Algarve, Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Aveiro, Universidade da Madeira, Universidade de Coimbra, Universidade do Porto e Universidade do Minho.

Num primeiro momento, os estudantes universitários debatem e selecionam a sua escolha entre colegas e professores da sua universidade. Num segundo momento, um representante de cada universidade integra o júri nacional responsável pela escolha da obra vencedora.

Esta foi a terceira edição do Choix Goncourt du Portugal. No ano passado, o romance escolhido foi "Velar por ela", de Jean-Baptiste Andrea, o mesmo que venceu o Prémio Goncourt.

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