Ciclo "Cuidar de um País" mostra em Coimbra as várias dimensões da arquitetura

A segunda exposição do ciclo "Cuidar de um País" mostra, no Convento São Francisco, Coimbra, várias dimensões da arquitetura, sustentadas em quatro leituras distintas do território português e baseadas nos elementos clássicos Ar, Terra, Água e Fogo.

Lusa /

Em foco estarão duas investigações - uma que incide sobre o elemento Terra, os solos alimentares da região de Lisboa, outra devotada ao Ar em transformação pela descarbonização da antiga refinaria em Matosinhos - e dois projetos de intervenção, um relativo ao impacto do incêndio de 2017 em Pedrógão Grande (o elemento Fogo) e outro, versando a Água, relacionado com a evolução da linha de costa da Figueira da Foz, todos da autoria de arquitetos.

"A exposição tem, acima de tudo, aquilo que pode ser a contribuição dos arquitetos em relação às grandes questões ecológicas e de sustentabilidade. Temos projetos, temos investigação, temos propostas de caráter ativista, temos propostas mais de caráter curatorial, há uma grande diversidade nas respostas", disse à agência Lusa Luís Santiago Baptista, curador da mostra "4 Elementos", em conjunto com Maria Rita Pais.

O arquiteto e docente universitário vincou a existência de "uma mensagem muito importante na exposição" - que será inaugurada no sábado, pelas 17:00, integrada na programação da bienal Anozero - "que é a de como os arquitetos podem contribuir para cuidar de um país".

"Esta mensagem não é, obviamente, até porque seria absurdo, uma crítica à prática profissional, em ateliê, com as suas competências, a forma tradicional até como as universidades e faculdades de arquitetura continuam a ensinar. A mensagem da exposição é a de que, para dar resposta às grandes questões que hoje temos em cima da mesa, do meio natural à ecologia, alguns arquitetos começam a sentir a necessidade de sair fora dos procedimentos tradicionais a que estão habituados na arquitetura", argumentou.

"Não é uma rejeição do trabalho tradicional que os arquitetos têm, mas para certas respostas e para conseguirem realizar esses projetos têm de estar informados e isso envolve uma ideia de interdisciplinaridade. Se quiserem dar resposta e tentarem perceber um campo expandido da realidade na qual atuam não podem alhear-se das múltiplas influências que existem ao seu redor". 

"E o arquiteto, hoje, numa conceção contemporânea, já não é só aquele que desenha projetos. O mundo complexo que hoje temos implica que os arquitetos também se dediquem à investigação e à tentativa de compreensão dos fenómenos", enfatizou Luís Santiago Baptista, dando o exemplo dos espaços virtuais e das componentes digitais e tecnológicas.

Segundo os curadores da exposição "4 Elementos", a Terra é trabalhada por Mariana Sanchez Salvador, que desenvolve "uma investigação cartográfica e um aprofundado trabalho de campo sobre as paisagens alimentares e os sistemas de produção agrícola da área metropolitana de Lisboa".

Já o elemento Ar é explorado pelas arquitetas Inês Moreira e Joana Rafael, numa investigação realizada "de forma performativa e curatorial", sobre as políticas de descarbonização associadas ao encerramento e desmantelamento da refinaria de Matosinhos.

O Fogo incide sobre a reconstrução de casas destruídas nos incêndios de Pedrógão Grande em 2027, uma intervenção do coletivo `Trabalhar com os 99%/ateliermob` que propôs "respostas arquitetónicas de proximidade à catástrofe ecológica e humana vivida na região".

O elemento Água, por seu turno, está representado pela proposta de Miguel Figueira de reposição da deriva litoral da Figueira da Foz, mediante um sistema fixo de `bypass` que permita a passagem para sul das areias retidas pelo molhe norte do rio Mondego.

Este projeto é o mais antigo da exposição - cumprirá 17 anos em 2026 sem ter, ainda, sido executado - estando a sua concretização inscrita no Orçamento do Estado de 2026.

 

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