Cinema e documentário de expressão portuguesa

Apesar da falta de verbas do pós-pandemia, o FESTin continua a juntar em Lisboa realizadores dos países da CPLP.

Diana Palma Duarte /
"O objetivo é mostrar filmes em língua portuguesa", conta a organizadora Léa Teixeira. Com menos filmes em competição porque o confinamento provocou uma diminuição da produção de curtas e longas metragens, o festival acontece fora do mês habitual, Abril e Maio, e é levado às salas de Lisboa entre 9 a 14 de Dezembro.
O actual presidente da EGEAC, Pedro Moreira, prometeu na abertura que em 2023 as verbas retiradas serão repostas.

Entretanto as contrariedades não fizeram desistir a organização de programar histórias reais e ficcionadas vindas do Brasil, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Portugal.

Léa Teixeira diz que "a parte africana do festival tem pouca ficção mas sempre foi assim. É dificil porque falta incentivo para fazer filmes e as pessoas fazem com o seu próprio dinheiro. São filmes independentes mesmo assim conseguimos o Ludvania, bem atual que fala da nova escravatura e do sequestro das pessoas usadas sexualmente na prostituição". São Tomé disputa a melhor curta-metragem com Cereais de Filipe Anjos e Henrique Sungo.

Quanto aos brasileiros, há mais produção para mostrar: "No filme de abertura tivemos um filme - Através dos seus olhos - que é sobre um iraquiano que conhece uma brasileira e aprende português por causa dela. Outro, intitulado Vermelho Monet , foi feito numa co-produção entre Portugal e Brasil".

África podia beneficiar de mais filmes com conexões entre realizadores. "Acho que devia haver produções entre Portugal, Brasil e os países africanos. O último que me lembro foi o Grande Kilapy, realizado com o Brasil, Angola e Portugal". Léa Teixeira, organizadora do FESTin acrescenta, "se pensarmos bem, a história de todos os países africanos é muito rica. Se você for para Africa e falar de Amílcar Cabral ou da Raínha Ginga, ou seja, dos heróis, terá filmes fabulosos".
Estreia de novo realizador angolano que é também engenheiro
O filme angolano "Ludvania" concorre entre os principais e é exibido ao público no dia 14 de Dezembro no Museu das Comunicações.

A RTP África entrevistou o engenheiro instrumentista. Descobriu que trabalha numa plataforma petrolífera e que também faz filmes.

Autor desta obra a concurso, escreveu uma história centrada na problemática das redes sociais e na exploração sexual que sucede aos encontros virtuais.

"Sou formado em engenharia eletrotécnica e trabalhei numa empresa produtora de televisão durante 13 anos como electricista. Ali fui assistindo e vendo como se constroem filmes. Antes disso já tinha câmaras e fazia filmes de família, casamentos, etc, nos anos 90".

Em 2012 foi fazer uma formação audiovisual em França, depois começou a fazer videoclips e vídeos institucionais até sentir que podia escrever, "tenho muitas ideias na cabeça".

Vieram então as experiências com curtas-metragens que ficariam guardadas no computador.

Em 2021 João Pedro participou num festival organizado pela Unitel em Angola, o Angola Move e depois escreveu o seu filme Ludvania. "É um filme independente. Fiz tudo. Produzi, financiei com economias próprias porque em Angola não existe apoio".

Gravou durante a pandemia e trabalhou com actores amadores. "Posso dizer que foi tudo improvisado. Em Angola é assim, nós improvisamos porque não nos dão condições. E posso dizer também que o cinema em Angola não é respeitado. É inexistente. Os canais de televisão dizem que passam os nossos filmes mas não querem pagar".

Mesmo sem apoios, João Pedro vai seguir a sua viagem sozinho e até já tem uma série no prelo.
Geração Oitenta, escola para diretora de fotografia Kamy Lara
Em Luanda há um coletivo de realizadores e gente ligada ao cinema cujo nome é bastante conhecido dentro e fora do país: "Geração Oitenta".

Por lá passou Kamy Lara, angolana agora em Lisboa para representar o documentário concretizado com a cubana Gretel Marín.

Intitulado " Um Sopro no quintal", só teve mulheres envolvidas na criação com o propósito de incentivar mulheres a criar num meio tão masculino como o do cinema.

Kamy Lara formou-se em Portugal na Escola Superior de Comunicação Social e na RESTART.

Após dez anos a trabalhar com a "Geração Oitenta" num projecto ligado à luta de independência decidiu seguir como "freelancer": "Não há apoios do Estado. A Geração Oitenta faz auto-investimento dos lucros que retira da publicidade. Os apoios que há são privados".

E sabe que foi graças ao Instituto Mosaiko que o novo documentário ficou pronto: " Um Sopro no Quintal é um filme que foi a concurso porque a Gretel concorreu pelo Instituto de Direitos Humanos Mosaiko. Eles tinham orçamento de curtas para refletir sobre políticas de género e deram carta branca para um documentário que refletisse sobre isso".

O filme foi visto em Angola. São três histórias sobre as aldeias e terras onde o Mosaiko actua. Depois de verem o documentário, o público tem uma sessão de debate e essa é uma caraterística presente porque deixa espaço para discussão. "O filme fala muito em transformação e o objectivo é que influencie a vida das pessoas. A transformação não é imediata mas há uma semente que está a ser deixada".

A música é de Aline Frazão.

No total são 40 os filmes do FESTin. Há uma mostra de cinema brasileiro e as sessões fora do Cinema São Jorge são gratuitas.
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