Cinema no Museu de Etnologia reflete passado colonial e identidade guineense
O Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa, acolhe, a partir de hoje, um ciclo de cinema promovido pela Casa da Cultura da Guiné-Bissau para refletir sobre o passado colonial e dar voz às narrativas do povo guineense.
A diretora da Casa da Cultura da Guiné-Bissau, Rita Ié, disse à Lusa que o Ciclo de Cinema "Imagens da Guiné-Bissau: Memória, Consciência e Futuro", que decorre a partir de hoje até 18 de outubro, tem como objetivo "consciencializar e trazer novas narrativas para cima da mesa que não foram contadas", permitindo que o povo guineense conte a sua própria história.
Rita Ié sublinhou a importância de usar o cinema para refletir sobre "o passado colonial e tudo aquilo que ficou por fazer ou que ficou por realizar após a independência da Guiné-Bissau e também nos outros países da lusofonia".
"O cinema, assim como qualquer outra forma de arte e de cultura, é algo que realmente permite-nos preservar essa memória histórica e ao mesmo tempo [a] mostrarmos", declarou a diretora da Casa da Cultura da Guiné-Bissau (CCGB), acrescentando que é importante ter a noção daquilo que é a própria identidade guineense, bem como as suas raízes.
A possibilidade de o povo guineense contar a sua própria história remonta ao ideal de Amílcar Cabral, fundador da nação guineense, destacou.
"A intenção que Cabral tinha na altura era que nós pudéssemos contar a nossa própria história, (...) do nosso ponto de vista e não do ponto de vista do outro", acrescentou.
Amílcar Cabral decidiu, no início da década de 1970, enviar alguns jovens guineenses para Cuba estudar cinema, para que filmassem as frentes de batalha na Guiné-Bissau, para documentarem a guerra.
Entre estes jovens encontravam-se Sana Na N`Hada, Flora Gomes, Josefina Lopes Crato e José Bolama, com obras presentes na mostra.
Para Rita Ié, é fundamental que a sociedade, sobretudo as novas gerações, conheçam a sua história, "para que possam fazer algo diferente" e que não cometam os mesmos erros e que não caiam nas "mesmas armadilhas" que as gerações anteriores.
De acordo com a diretora da CCGB, este evento acontece no âmbito das comemorações das Independências dos países africanos lusófonos, que este ano assinalam os 50 anos, à exceção da Guiné-Bissau, que declarou unilateralmente a independência em 24 de setembro de 1973, bem como no âmbito do centenário de Amílcar Cabral.
A colaboração entre o Museu Nacional de Etnologia e a Casa da Cultura da Guiné-Bissau visa desconstruir preconceitos históricos através do interesse mútuo das duas instituições.
A seleção de filmes, com a curadoria de Onésio Soda e Welket Bungé, inclui obras de realizadores como Flora Gomes, Sana Na N`Hada, José Magro, José Bolama, Djalma Fettermann e Josefina Lopes Crato.
Além das exibições, cada sessão contará com um momento de conversa com convidados especiais, criando um espaço para reflexão e partilha sobre memória, consciência e futuros possíveis.