Cinema português de animação procura um lugar nas nomeações para os Óscares

Cinco curtas-metragens portuguesas de animação vão ser exibidas a partir de sexta-feira em São Francisco, nos Estados Unidos, numa mostra organizada pela cooperativa portuguesa O Covil, a pensar nas nomeações para os Óscares de 2026.

Lusa /

Inês Mesquita, que preside à recém-criada cooperativa O Covil, explicou à Lusa que os cinco filmes vão ser exibidos na mostra Animalusa, uma iniciativa que já teve duas edições em Barcelona e que acontece agora pela primeira vez nos Estados Unidos, para, entre outros objetivos, que fiquem elegíveis para uma nomeação aos Óscares.

Cumprindo as regras de elegibilidade dos prémios norte-americanos de cinema, os filmes portugueses vão ser exibidos numa sala de exibição comercial, o Roxie Theater, em São Francisco, numa das áreas metropolitanas qualificáveis para os Óscares, até 25 de setembro, no limite da janela temporal do calendário da academia norte-americana.

Na mostra Animalusa em São Francisco vão ser exibidos os filmes "Amanhã não dão chuva", de Maria Trigo Teixeira, "A rapariga dos olhos grandes e o rapaz das pernas compridas", de Maria Hespanhol, "Pietra", de Cynthia Levitan, "T-Zero", de Vicente Niró, e "Saudade, talvez...", de José-Manuel Xavier.

"O nosso objetivo é tentar que tenhamos mais filmes portugueses a serem, em cada ano, pelo menos elegíveis para os Óscares. E depois farão o seu percurso lá, mas é levarmos a animação portuguesa um bocadinho mais longe", disse Inês Mesquita.

A mostra Animalusa é uma das vertentes da cooperativa O Covil, fundada por cinco pessoas ligadas à produção e realização de cinema de animação em Portugal: Alexandra Allen, Laura Conde, Inês Mesquita, Bruno Caetano e Bruno Simões.

Formalizada na primavera, a cooperativa O Covil pretende colmatar lacunas no panorama do cinema de animação em Portugal, envolvendo diferentes intervenientes e profissionais do setor.

Além da vertente de divulgação com a Animalusa, O Covil criou ainda a Olharapo Filmes, uma distribuidora focada em fazer chegar os filmes portugueses -- mas não só - a mais festivais e territórios.

"Sentimos que em Portugal ainda não havia uma distribuidora que se dedicasse apenas ao cinema de animação e sentíamos que a maioria das produtoras tinha de ir a outros países procurar esse serviço. Foi uma das primeiras vertentes que procurámos colmatar, até por necessidade própria. Ou distribuíamos sozinhos ou tínhamos que arranjar alguém para o fazer", explicou Inês Mesquita, que trabalha em Barcelona.

Atualmente, o catálogo da Olharapo Filmes ainda é pequeno, com seis filmes, entre os quais "A cada dia que passa", de Emanuel Nevado, e "The Hunt", de Diogo Costa, mas o objetivo é alargar o naipe de filmes e de géneros dentro da animação.

Em entrevista conjunta à Lusa, Alexandra Allen, Laura Conde e Inês Mesquita explicaram que um dos próximos passos da cooperativa é criar um evento direcionado para estudantes na área da animação.

"Há muitas mostras, há muitos festivais, conseguimos ver os filmes, mas quando vamos trabalhar, achamos que fazem muita falta [encontros] acessíveis para estudantes", explicou Alexandra Allen.

Essas jornadas para estudantes seriam para partilha de conhecimento, com nomes internacionais, para `masterclasses`, para apresentação de portfólio, para treino de `pitching` de projetos, para atenuar "o fosso" entre quem estuda e quem já é profissionalizado, disse Laura Conde.

"É aproximar os estudantes da indústria, ganhar competências em áreas em que as faculdades não ensinam, por exemplo. Não sinto que haja propriamente eventos para trazer os estudantes mais para perto, para fomentar esta aprendizagem, esta forma de mover neste meio", acrescentou Inês Mesquita.

O modelo de trabalho de O Covil em cooperativa permite que todos os envolvidos estejam "em pé de igualdade, sejam produtores, realizadores, gente que trabalha sozinha, em estúdios. É uma estrutura mais horizontal" na utilização dos conhecimentos, disse Inês Mesquita.

Questionada sobre a escassa exibição de curtas de animação fora do circuito dos festivais ou dos cineclubes, Inês Mesquita e Laura Conde admitiram que "é difícil encher salas em Portugal com animação, sobretudo portuguesa".

Em 2023, por causa da nomeação de "Ice Merchants", de João Gonzalez, para os Óscares, o público português manifestou interesse no filme quando teve estreia comercial em sala, com quase 14.000 espectadores, mas as responsáveis da cooperativa O Covil dizem que ainda há trabalho a fazer.

"Falta um bocadinho esta educação para o cinema de animação. Há de ser uma lacuna que podemos tentar colmatar. Mas ainda é tudo muito recente, ainda estamos a começar e temos que montar estruturas de base", defendeu Inês Mesquita.

 

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