Cinemateca ultrapassou objetivo de digitalização de mil filmes portugueses

A Cinemateca Portuguesa já ultrapassou o objetivo de digitalizar mil filmes do cinema português, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e deverá chegar aos 1.300 no próximo trimestre, disse hoje à Lusa o diretor, Rui Machado.

Lusa /

A Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, assinalou hoje simbolicamente o cumprimento da meta definida no PRR, com a exibição de um excerto do milésimo filme digitalizado, "Três Dias sem Deus" (1946), de Bárbara Virgínia, e com o anúncio de uma página `online` onde ficarão disponíveis os dados de todos os filmes digitalizados.

"Queríamos mostrar que cumprimos a medida dentro do prazo estabelecido, mas isto não quer dizer que o projeto acabou, porque vamos ter pelo menos até março a possibilidade de digitalizar mais filmes. (...) Podemos chegar facilmente aos 1.200, 1.300 filmes digitalizados", explicou Rui Machado.

De acordo com a Cinemateca, entre 2022 e 2025 foram digitalizadas, e em alguns casos alvo de restauro digital de som e imagem, 333 longas-metragens e 697 curtas-metragens, num total de 1.030 filmes, ou seja, 43.645 minutos digitalizados, de mais de 283 autores.

A medida do PRR tinha uma dotação de 10,8 milhões de euros, com prazo final de execução até 31 de dezembro de 2025 - segundo informações no Portal da Transparência - e envolveu a participação de 30 a 40 profissionais externos.

Segundo Rui Machado, esta medida do PRR "era essencial" para salvaguardar o património do cinema português, "apesar de não resolver estruturalmente o problema do laboratório da Cinemateca", nomeadamente a falta de recursos humanos e constrangimentos burocráticos de gestão.

O diretor da Cinemateca ressalvou que "sem a digitalização, a maior parte dos filmes deixaria de ser visto rapidamente. Tirando a Cinemateca e muito poucos cinemas, nenhum cinema consegue projetar uma cópia de 35mm".

A medida do PRR abrange mais de um século de obras cinematográficas e, por consequência, da História do cinema português, do cinema mudo à atualidade, de diferentes géneros e épocas.

Na página https://digital.cinemateca.pt/ estão disponíveis informações sobre os filmes digitalizados, servindo como "ferramenta de consulta" para quem os quiser programar, como "festivais, cineclubes, distribuidoras, museus, universidades ou outras entidades, tanto nacionais como internacionais".

Rui Machado lembra que, a partir de agora, haverá um catálogo de filmes portugueses com possibilidade de chegarem a mais públicos tanto em sala de cinema, como canais televisivos e `streaming`.

A Cinemateca cede o uso dos novos suportes digitais dos filmes mediante um contrato com os titulares dos direitos das obras cinematográficas, que inclui o pagamento de uma verba, consoante a duração dos filmes.

"Temos mais de 200 filmes com contrato assinado e não temos mais porque, para este tipo de trabalho, não tivemos apoio de PRR, temos uma pessoa a tratar disto", disse Rui Machado, esclarecendo que há ainda casos em que as obras cinematográficas estão sob a tutela do Estado ou no domínio público.

O diretor admitiu que alguns produtores discordam das cláusulas do acordo e que, na maioria dos casos, a discordância relaciona-se com os valores pedidos pela cedência.

Segundo a minuta dos acordos, que está disponível para consulta `online`, o titular de direitos de um filme digitalizado compromete-se a pagar à Cinemateca entre 200 euros (para um obra com menos de 10 minutos) e mil euros (para um filme com mais de uma hora) "pela cedência definitiva da cópia digital".

"Isto é um bem económico. Estamos a pedir uma única quantia para todo o sempre. A matriz [digital de cada filme] vai ser responsável pela exploração do filme em sala, televisão, plataforma durante todos os anos que for possível explorar. (...) Há coisas de pormenor que podemos negociar no clausulado, mas outras não", sublinhou.

Para Rui Machado, esta medida do PRR de digitalização do cinema português vai facilitar a sua circulação, "mas não basta ter uma sala com um projetor digital".

"Sempre acreditámos que a digitalização poderia ajudar a encher um bocadinho as programações das salas de cinema em Portugal, para não falar no resto do mundo, mas tudo depende de quem está do lado de lá", disse.

A sessão de apresentação do milésimo filme contou com a presença da ministra da Cultura, Juventude e Desporto, Margarida Balseiro Lopes, para quem a digitalização do cinema português "é um primeiro grande passo", mas é preciso "consolidar o acesso público a este património coletivo, garantir a sua circulação sustentada".

 

 

Tópicos
PUB