Clarinetista português vence concurso internacional em Itália
A casa dos avós, numa recôndita aldeia alentejana, foi o ponto de partida para um jovem músico português chegar a Itália e arrebatar um prémio internacional, na categoria de clarinete, batendo concorrentes de vários pontos do mundo.
Como prenda antecipada pelos seus 19 anos, festejados segunda- feira, a meias com o seu irmão gémeo, também ele músico, José Miguel Conde é o único português premiado no Concurso Internacional de Música "Marco Fiorindo", realizado este ano entre 09 e 13 de Dezembro na cidade italiana de Turim.
"Vi na Internet a informação sobre o concurso. Falei com o meu professor (Nuno Silva) e ele incentivou-me a ir a Turim", explicou à agência Lusa o jovem instrumentista português, que frequenta a Academia Nacional Superior de Orquestra, a escola da Orquestra Metropolitana de Lisboa.
Para se preparar e ambientar ao frio de Turim, onde as temperaturas têm oscilado, nos últimos dias, entre os dois graus negativos (mínima) e os 06 ou 07 positivos (máxima), José Miguel Conde optou por passar alguns dias na casa dos avós na aldeia de S. Pedro do Corval (Reguengos de Monsaraz), em pleno interior alentejano.
"Com alguns dias de antecedência, fui para casa dos meus avós em S. Pedro do Corval, terra sem o rebuliço de Lisboa, para me preparar calmamente e habituar ao frio que iria encontrar em Itália", disse.
Sem ajudas oficiais, mas sempre com o estojo do clarinete dentro da mochila, às costas, José Miguel seguiu depois para Turim:
"Graças aos meus pais que pagaram a viagem e a estada em Turim", agradeceu.
Perante um júri presidido pelo italiano Alessandro Carbonare, da Orquestra S. Cecília, de Roma, José Miguel Conde chegou e derrotou, na categoria de "Clarinete Jovem" (até aos 18 anos), os concorrentes de França, Eslovénia, Grécia, Japão e Itália.
De regresso à casa dos avós para passar o Natal, e antes de mais um estágio na Casa da Música, no Porto, integrado na Orquestra Nacional de Jovens, o instrumentista alentejano, que antes sonhava ser engenheiro agrónomo, mostra-se satisfeito pelo "reconhecimento do seu esforço".
"Quando trabalhamos e nos esforçamos para algo, com dedicação, as coisas acontecem naturalmente e conseguimos sempre alguma coisa", garante.
A opinião é partilhada por Nuno Silva, seu professor de clarinete, que considera o prestigiante prémio, conquistado, pela primeira vez, por um português, uma "prova da qualidade do trabalho que se faz em Portugal".
"A classificação do Zé Miguel vem premiar o trabalho que ele tem desenvolvido nos últimos anos", elogiou.
Para se garantir um prémio internacional, disse Nuno Silva à agência Lusa, é necessário "conjugar vários factores", como o "talento e trabalho do aluno", ser-se "orientado numa boa escola" e existir estabilidade no ambiente familiar.
A frequentar a mesma escola da Orquestra Metropolitana de Lisboa, o irmão gémeo, André Manuel Conde, optou pelo Trombone de Vara, mas, tal como o irmão, já se esqueceu de ser veterinário e, agora, também quer abraçar uma carreira na música.
Apesar de ainda não ostentar prémios internacionais como o irmão, André também já ultrapassou as fronteiras ao ser admitido, este ano, na Orquestra de Jovens do Mediterrâneo, a par de músicos de diferentes países, como Egipto, Marrocos, Israel, Itália e Grécia.
Filhos de professores do ensino superior, os gémeos alentejanos apresentam um percurso de vida idêntico, depois de terem iniciado, aos cinco anos, os estudos musicais na Academia de Música Eborense, já fechada.
Após completarem o ciclo de estudos no Conservatório Nacional de Música, ambos frequentam o curso de instrumentista de orquestra na Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa e nos tempos livres sempre regressam a casa dos avós no interior alentejano.