Colosseo e Porta Metronia. Novas estações-museu de metro em Roma

A área do icónico Coliseu de Roma já tem uma estação de metro. Em dezembro, a capital italiana inaugurou duas estações da linha C. À paragem Colosseo, soma-se a Porta Metronia e apresentam-se como autênticos museus ao preservarem e exporem os achados arqueológicos descobertos nas escavações durante as obras.

Carla Quirino - RTP /
Entrada para a estação do metro Colosseo Remo Casilli - Reuters

“Metro C Colosseo, la stazione metropolitana più bella al mondo!” (Colosseo, a estação de metro mais bela do mundo). É assim que o Parque Arqueológico do Coliseu considera a nova estação da capital italiana que passou a servir a zona histórica.
Estação do metro Colosseo | Remo Casilli - Reuters

Precisamente nas profundezas do icónico Coliseu encontra-se a "modernidade do transporte de alta tecnologia com artefatos de outros períodos históricos". A linha de metro Metro C, que funciona sem condutor, transformou-se numa “linha arqueológica”. 

Está em construção há duas décadas e tem sido um quebra-cabeça para a engenharia. O resultado é uma estrutura que não esconde o passado: integra, expõe e valoriza, explica a equipa que idealizou o projeto.

“O desafio era construí-la debaixo uma quantidade imensa de águas subterrâneas e, ao mesmo tempo, preservar todos os achados arqueológicos que encontrámos durante a escavação, e mais, preservar tudo o que está por cima”, declarou Marco Cervone, gestor da obra do consórcio que constrói a linha de metro, liderado por Webuild.

Telas com a explicação do processo arqueológico nos corredores das estações | Parque Arqueológico do Coliseu do Ministério da Cultura

Para trabalhar na delicada área arqueológica, a empresa empregou diversas técnicas como o congelamento do solo para o estabilizar. Foram também construídas paredes de betão, perpendiculares às paredes mestras, e que foram demolidas à medida que a escavação avançava.

Com máquinas de perfuração especiais foi possivel escavar túneis profundos sem danificar os monumentos históricos da superfície, como o Coliseu e o Fórum Romano, que fazem parte do grande Parque Arqueológico.

O custo total das 31 estações da linha, das qual três quartos estão agora operacionais, atingirá cerca de sete mil milhões de euros e tem o prazo previsto de conclusão a 2035, de acordo com a assessoria de imprensa da empresa contratada.
Os utilizadores e turistas que entram na estação viajam pelas várias camadas da história de Roma | Remo Casilli - Reuters

"É uma intervenção importante para valorizar o património cultural dentro de uma infraestrutura fundamental para a mobilidade dos cidadãos e turistas, um exemplo de como a arqueologia preventiva pode ser transformada numa oportunidade de partilhar novos conhecimentos com a comunidade”, comentou o chefe de Departamento para a valorização do património cultural de MiC, Alfonsina Russo.
Estações-museu

Escavar perto do centro de Roma significa entrar no contato com, pelo menos, três milénios de civilizações construídas umas sobre as outras. Até então, o consórcio WeBuild que está a construir a Linha C encontrou mais de 500 mil artefatos.

Sendo este subsolo rico em património de períodos antigos, as escavações arqueológicas foram cruciais para analisar as ruínas subterrâneas das civilizações romanas e medievais soterradas.

Artefatos arqueológicos em exposição | Remo Casilli - Reuters

Na estação do Coliseu, entre as áreas arqueológicas preservadas, estão as ruínas de uma piscina de banhos frio e banho termal de uma habitação do século I

Ao percorrer a estação pode-se observar a exposição de vasos e pratos de cerâmica e baldes suspensos

A escavação também revelou pelo menos 28 poços romanos, mosaicos e uma diversidade de outros materiais arqueológicos que fariam parte do quotidiano. Ganchos de cabelo, lucernas, diversas estátuas,  como a cabeça de Medusa em mármore, fazem parte do grande espólio exposto.
Cabeça de Medusa | Parque Arqueológico do Coliseu do Ministério da Cultura

Para mostrar o processo de escavação, as paredes das estações foram cobertas por telas com vídeos que têm a utilidade tanto para encantar os entusiastas da arqueologia, como para mostrar porque as obras demoraram para abrir a estação.

Tal como Colosseo, a estação Porta Metronia localiza-se a uma profundidade de quase 30 metros.

Durante as escavações arqueológicasas para a Porta Metronia, foi encontrado um quartel militar de quase 80 metros que data do início do séc. II d.C.. Estas estruturas estão a uma profundidade de entre 7 e 12 metros, de acordo com Simona Moretta, diretora científica da escavação.

“A certeza de que era um edifício militar é dada pelo fato de que as entradas para os quartos não estarem voltados uns para os outros, mas sim desencontrados, para que os soldados pudessem deixar os quartos e entrar na fila sem colidirem uns com os outros no corredor”, explicou a arqueóloga.
Edifício militar romano ainda em processo de escavação na estação Porta Metronia | Gabinete de assessoria da construtora/Pasquale Sorrentino

Os soldados teriam feito parte da guarda do imperador ou estariam estacionados nesse quartel para garantirem a segurança da cidade, acrescentou. O antigo complexo inclui um corredor com 39 quartos decorados com paredes com frescos e pisos de mosaico em preto e branco bem preservados e fará parte do museu dentro da estação a inaugurar em 2026, declarou Moretta. 

“Com estas estações-museu ligamos um pedaço muito grande de Roma, desde os seus arredores até o centro da cidade e, ao mesmo tempo, mostramos ao mundo maravilhosos lugares de cultura”, anunciou o presidente da câmara de Roma, Roberto Gualtieri.

Os trabalhos continuam para a estação Piazza Venezia, no centro de Roma, que circulará a uma profundidade de 48 metros quando for inaugurada a 2033, declarou Cervone.

Exposição na estação do Coliseu. Fragmentos de colunas | Simona Moretta

Quando a obra terminar, a Linha C percorrerá um total de 29 quilómetros, das quais 20 estarão no subsolo. As autoridades estimam que por aqui circularão diariamente até 800 mil passageiros.

“É dito que a arqueologia é inimiga do crescimento e do desenvolvimento, mas aqui temos a prova de que, com trabalho, foi possível colocá-la ao serviço dos cidadãos”, acrescentou o ministro da Cultura, Alessandro Giuli.
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