Crítico, escritor e académico. Morreu George Steiner

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
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O crítico literário George Steiner morreu esta segunda-feira aos 90 anos na sua casa de Cambridge, Inglaterra. Nascido em Paris, em abril de 1929, no seio de uma família judia, George Steiner, que gostava de se pensar acima de tudo como professor, morreu três dias após a consumação do Brexit, que via como uma séria ameaça à Inglaterra, e 75 anos depois da libertação de Auschwitz, uma questão que sempre o acompanhou.

George Steiner, tido como um dos mais importantes críticos literários das últimas décadas - a par de Harold Bloom, falecido em outubro passado -, dedicou parte da sua vida ao ensino em universidades como Princeton, Yale, Nova Iorque, Cambridge e Genéve.
O seu tema de eleição era a capacidade do ser humano de escrever e falar. Daqui sai uma obra-chave em 1967: “Linguagem e silêncio”.

As suas reflexões abririam caminho à discussão nos campos da religião, música, pintura e história. Muitas das vezes não sem polémica. Por exemplo, ao abordar a literatura de Franz Kafka numa série de programas que conduziu na televisão, Steiner lembrou assim o judeu checo que escrevia em alemão: “A letra K é Kafka da mesma forma que S não é Shakespeare” (in "Nenhuma Paixão Desperdiçada").“Tolstoi ou Dostoievski” e “Gramáticas da Criação” são duas das suas obras de referência.

Antecedido ou seguido de adjetivos e superlativos à altura, o nome de George Steiner ocupa esta terça-feira muitas páginas do Twitter. Junto ao nome do pedagogo e teórico da literatura comparada surgem os termos de “mestre”, “gigante” ou “humanista”.

“Com o desaparecimento de George Steiner perdemos um pensador maior. A sua erudição literária imensa deu felicidade a todos os que o leram ou ouviram”, escreveu no Twitter o ministro francês da Educação, Jean-Michel Blanquer.

O Le Monde atribui-lhe uma “ironia mordaz que não poupa a civilização contemporânea”.


O New York Times lembra-o como uma figura de clivagens: “Os admiradores de Steiner considerarão brilhantes a sua erudição e argumentação. Os detratores irão vê-lo como demasiado palavroso, pretensioso e muitas das vezes impreciso”.

George Steiner era ainda um admirador confesso de António Lobo Antunes, que considerava um dos maiores escritores vivos. Steiner manifestou o desejo de um encontro com o escritor português e o pedido acabou por se concretizar há pouco mais de oito anos. Da conversa entre ambos nesse dia 9 de Outubro de 2011 ficou o registo que pode ser encontrado no YouTube.




George Steiner deixa a sua mulher Zara Alice Shakow, historiadora de relações internacionais e também ela professora, uma filha, um filho e duas netas.
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