Crónicas de Machado de Assis "descobertas" no centenário de sua morte

São Paulo, Brasil, 26 Set (Lusa) - As mais de mil crónicas escritas por Machado de Assis, ao longo de 50 anos, e publicadas em periódicos do Rio de Janeiro no século XIX, estão a ser reunidas por especialistas da obra machadiana.

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As crónicas ganharam especial destaque no centenário da morte de Assis, um dos mais importantes autores brasileiros, assinalado no dia 29 de Setembro.

"Esse material disperso vem sendo reunido", disse à agência Lusa o professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), Hélio de Seixas Guimarães.

"Queremos entender melhor como essas crónicas dialogavam com o entorno delas, com paródias e comentários sobre os próprios periódicos onde foram publicadas", salientou.

Leitor aplicado dos periódicos da época, Machado de Assis transportou para as suas crónicas uma "espécie de ruminação" sobre o que estava a acontecer no Brasil e no mundo de sua época.

"Esse diálogo era estreito, pontual e quotidiano, o que afasta a tese de um autor afastado do mundo, uma vez que mostra um Machado no `corpo a corpo` com seus leitores e com o meio literário", disse.

Nascido no Rio de Janeiro, então capital de um Brasil recém-independente de Portugal, Machado de Assis era filho de uma família simples, pai pintor e mãe lavadeira, e neto de escravos libertos.

Ao morrer vítima de um cancro na boca, sem nunca ter deixado fisicamente o Rio de Janeiro, deixou uma extensa obra literária, com mais de 200 contos e dezenas de livros, entre romances, poemas e peças de teatro.

"Trata-se de uma obra variada, com todos os géneros da literatura, e que possibilita leituras díspares, pouco usuais no seu tempo", realçou Seixas Guimarães.

O centenário da morte de Machado de Assis está a ser assinalado por uma série de eventos, em diferentes cidades brasileiras, com lançamento de livros, colóquios e exposições fotográficas e de manuscritos.

O ponto alto da homenagem será a promulgação pelo presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, do acordo ortográfico da língua portuguesa, que entrará em vigor em 2009.

A solenidade decorrerá, no dia 29 de Setembro, na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, entidade cujo primeiro presidente foi Machado de Assis.

"Com esses actos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem. E, do outro, a assinatura pelo presidente Lula dos decretos que promulgam o acordo ortográfico dos sete países lusófonos", salientou o presidente da ABL, Cícero Sandroni.

Em São Paulo, a efeméride foi assinalada esta semana no colóquio de literatura brasileira "Machado de Assis 100 anos depois", com a participação de especialistas na USP.

A ABL iniciará a publicação da correspondência completa de Machado de Assis, devendo o primeiro volume (1860-1869) ser lançado em Novembro.

A Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro apresenta a exposição "Cartografia Inacabada", com cerca de 200 peças entre manuscritos, periódicos, livros e cartas do acervo do autor.

No Instituto Moreira Salles, a exposição "O Rio de Janeiro de Machado de Assis" apresenta umas 60 fotografias de artistas consagrados da época.

A lista de romances de Machado de Assis inclui clássicos da literatura brasileira, como "Memórias Póstumas de Brás Cuba", "Dom Casmurro", "Quincas Borba", "Esaú e Jacó" e "Memorial de Aires".


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