David Lynch aconselha jovens realizadores a ser autênticos
O realizador norte-americano David Lynch enalteceu, no Estoril, os benefícios da meditação transcendental para lidar com "o mundo violento e turbulento em que vivemos", e deixou um conselho aos jovens cineastas, instando-os a ser autênticos.
Conhecido do grande público sobretudo pela série de televisão "Twin Peaks" e os filmes "Wild at Heart" e "Lost Highway", David Lynch esteve este sábado pela primeira vez em Portugal a convite do produtor Paulo Branco, director artístico do European Film Festival, que encerra à noite no Centro de Congressos do Casino Estoril.
"Sejam verdadeiros convosco próprios, não aceitem uma má ideia, mas nunca recusem uma boa ideia", afirmou o realizador no Centro de Congressos do Estoril, perante uma audiência de mais de 600 pessoas, sobretudo jovens, que vieram ouvi-lo numa masterclass aberta ao público.
A passagem "relâmpago" de David Lynch por Portugal, segundo o programa, resumiu-se a esta masterclass e a uma conferência de imprensa onde chegou meia hora antes, com o seu habitual visual de fato escuro e camisa branca apertada até ao colarinho, com uma fina gravata amarela.
O cineasta referiu que esta é a 26ª cidade por onde passa nos últimos dois meses no âmbito de uma digressão que está a realizar na Europa para fazer conferências sobre Meditação Transcendental (MT), uma técnica que pratica há mais de 20 anos.
Questionado pela Agência Lusa sobre o impacto da MT na vida pessoal, em particular como artista, David Lynch comentou que começar esta prática foi um grande investimento: "Eu era uma pessoa afectada pela depressão e pela raiva. Com a meditação consegui ultrapassar emoções negativas como o medo e a ira, libertei a minha consciência e a criatividade começou a fluir", descreveu.
"A depressão e a raiva é uma atitude muito típica, sobretudo entre jovens artistas, porque pensam que assim podem conquistar mais mulheres", comentou, provocando o riso na assistência.
Lynch acredita que a MT o libertou da negatividade e conseguiu ter um maior acesso à criatividade e à intuição: "O cinema não é só uma coisa intelectual, é muito emocional e tem também a ver com a intuição. É com a intuição que conseguimos saber se algo está certo ou errado. E se temos a mente limpa de negatividade, temos melhor acesso à intuição", advogou.
A MT é uma técnica de meditação originária da Índia que começou a ser introduzida no ocidente nos anos 60 por Maharishi Mahesh Yogi e envolve o uso de um mantra (uma palavra que é repetida pelo praticante e cujo som tem propriedades psicoativas) e que, segundo os seguidores, lhes permite atingir um estado transcendente de consciência.
"Tenho observado uma grande transformação nas escolas onde a meditação está a ser introduzida. Os níveis de violência baixaram e as crianças começam a aprender melhor e a desenvolver o seu potencial", referiu o realizador que possui uma fundação de MT a trabalhar em vários projectos nos EUA.
Na masterclass foram muitas as perguntas da assistência sobre os seus filmes, nomeadamente "Inland Empire" (2006), numa nítida tentativa de decifrar significados e intenções do cineasta, cuja obra, premiada em Cannes e nomeada por diversas vezes para óscares nos EUA, tem sido considerada bizarra e até incompreensível por alguma crítica e público.
Apesar do sucesso da série "Twin Peaks" - que agarrou audiências nos anos 90 e seria depois retomada pelo realizadro no grande ecrãn - outros filmes, como "Dune", viriam a revelar-se um fracasso de bilheteira.
Actualmente com 61 anos, David Lynch continua a ser muito activo tanto na área do cinema, das artes plásticas - estudou pintura quando era jovem - e também como produtor de música, mas o entusiasmo em prol da MT tem estado em destaque, nomeadamente com a digressão que tem efectuado e que o levou a encontrar-se há pouco tempo com Shimon Peres, presidente de Israel.
Nesse encontro, afiançou a Peres que se colocasse cerca de duas centenas de mestres em meditação em Israel seria o suficiente para acabar com o conflito no Médio Oriente.
"Primeiro pensou que eu era louco, mas depois ouviu-me com atenção", disse aos jornalistas sobre a conversa com o presidente israelita. Hoje, Lynch voltou a defender entusiasticamente essa receita para a paz, "não só em Israel mas para todo o mundo".