De Património Mundial da UNESCO a zona de guerra. Depois de Assad, os sírios regressam a Palmira
Palmira reabriu ao público esta semana, trazendo visitantes e a esperança de restauro da antiga "Pérola do Deserto". O complexo arqueológico foi parcialmente destruído pelo Estado Islâmico durante a guerra civil, nos últimos 13 anos. Expulsos os islamitas, a Síria de Bashar al-Assad permitiu que a Rússia e o Irão instalassem bases militares nas proximidades, impedindo o acesso público.
O nome oficial sírio de Palmira é Tadmor, a cidade das tâmaras.
Conhecida desde o II milénio antes de Cristo, de acordo com a UNESCO, o complexo urbano já era um oásis para as caravanas entre o Golfo e o Mediterrâneo e incluía uma etapa na Rota da Seda.
A conquista romana, a partir do século I a.C. e durante os quatro séculos seguintes, deu um impulso a Palmira - cidade das palmeiras – aumentando a importância do ponto de encontro das rotas comerciais de especiarias, perfumes, seda, marfim, estátuas e produções de vidro fenício.
É Património Mundial da UNESCO desde 1980.
Adriana Palmira e os ventos da guerra
Embora esteja localizada no deserto, o imperador romano Adriano fez dela uma cidade livre e deu-lhe o nome de Adriana Palmira. Por essa altura, em 129 d.C. foram construídos os principais templos, como o de Bel, e o de Baal-Shamin foi ampliado.
Desta forma, a antiga cidade de Palmira abrigava alguns dos monumentos clássicos mais bem preservados do Médio Oriente antes da guerra civil da Síria, na última década.
No ano de 2015, Palmira caiu nas mãos dos extremistas do Estado Islâmico, que reduziram vários templos, colunas e outros tesouros arqueológicos a escombros.
Após decapitar o homem que dirigiu durante meio século o serviço de Antiguidades da cidade, Khaled al-Asaad, de 82 anos, o Daesh fez explodir dois dos principais templos de Palmira - Bel e Baal-Shamin.
Em setembro, o grupo extremista destruiu várias torres funerárias da cidadela e, antes de dinamitarem o Arco do Triunfo, saquearam o museu e desfiguraram estátuas e sarcófagos. Em março de 2016, o Estado Islâmico foi expulso da cidade pelo exército sírio e aliados, mas voltou a ocupá-la em dezembro do mesmo ano.
Com a ajuda russa e iraniana, a força do então presidente Bashar al-Assad conseguiu que o Daesh abandonasse a região. Perto da área arqueológica, Assad permitiu a instalação de bases militares da Rússia e Irão, interditando o espaço ao público por completo.
Palmira também sofreu com ataques israelitas. Desde o começo da guerra na Síria, em 2011, que Israel perpetrou centenas de ataques sobre o território, visando atingir o exército e grupos apoiados pelo Irão.
A partir de 7 de outubro de 2023, Telavive intensificou os ataques na Síria, à medida que a escalada das hostilidades entre Israel e o Hamas alastraram ao Hezbollah xiita libanês, alinhado ao Irão.
A partir de 7 de outubro de 2023, Telavive intensificou os ataques na Síria, à medida que a escalada das hostilidades entre Israel e o Hamas alastraram ao Hezbollah xiita libanês, alinhado ao Irão.
No final de novembro de 2024, a agência estatal síria SANA relatava vários ataques israelitas que visaram prédios residenciais na cidade síria de Palmira. Morreram pelo menos 36 pessoas e 50 ficaram feridas. O bombardeamento causou "danos materiais significativos", reportou o Ministério da Defesa da Síria.
Renascimento cultural. Otimismo desde a queda de Assad
Antes de o ano de 2024 terminar, combatentes sírios antigovernamentais levaram a cabo uma ofensiva-relâmpago, derrubando o Governo do presidente Bashar al-Assad.
Antes de o ano de 2024 terminar, combatentes sírios antigovernamentais levaram a cabo uma ofensiva-relâmpago, derrubando o Governo do presidente Bashar al-Assad.
O antigo líder rebelde Ahmed al-Sharaa foi nomeado presidente interino da Síria e, no fim de janeiro, anunciou as prioridades da administração: "preencher o vazio de poder de forma legítima e legal" e "manter a paz civil”.
Adnan Habbab, proprietário do hotel Beit Zafran, na Cidae Velha de Damasco, esboça um sentimento de esperança para o turismo, depois de “o regime de Assad presumir que todos os turistas eram espiões até que provassem o contrário”. Entretanto, a agenda de ocupação hoteleira começou a encher e Zafran afirma que “agora os turistas que vêm à Síria já podem falar e andar livremente”.
Adnan Habbab, proprietário do hotel Beit Zafran, na Cidae Velha de Damasco, esboça um sentimento de esperança para o turismo, depois de “o regime de Assad presumir que todos os turistas eram espiões até que provassem o contrário”. Entretanto, a agenda de ocupação hoteleira começou a encher e Zafran afirma que “agora os turistas que vêm à Síria já podem falar e andar livremente”.
Em 2010, mais de dez milhões de turistas visitavam a Síria. Embora a reviravolta do regime seja muito recente, os operadores turísticos também se mostram esperançosos.
Wilcox, da agência Untamed Borders, alega que os níveis atuais de “estabilidade relativa” são promissores e para quem já recomeçou a andar no terreno testemunha que este momento “é o mais seguro dos últimos 14 anos”.
Reabertura de Palmira
Um dos sinais de paz é a reabertura ao público do complexo arqueológico de Palmira, esta semana. A Pérola do Deserto sírio voltou a ser palco de passeios e piqueniques.
Yasser al-Mahmud, enquanto serve o chá, explica: "Costumávamos vir aqui todas as sexta-feiras". "Agora estamos de volta e podemos reencontrarmo-nos com as nossas memórias", acrescenta.
Entre as ruínas, muitas outras famílias também apreciam o sítio arqueológico.
"Sentimos muita falta dos lugares antigos. Não vínhamos aqui desde 2015", diz Mahmud, que espera reabrir a loja de souvenirs em Palmira.
Perto, erguem-se duas enormes colunas, formando um arco quadrado. Ao redor, um mar de escombros. Isto é tudo o que resta do Templo de Baal, destruído pelos jihadistas, explicam os visitantes.
Antes da guerra, Palmira atraía mais de 150 mil turistas por ano.
Perto, erguem-se duas enormes colunas, formando um arco quadrado. Ao redor, um mar de escombros. Isto é tudo o que resta do Templo de Baal, destruído pelos jihadistas, explicam os visitantes.
Antes da guerra, Palmira atraía mais de 150 mil turistas por ano.
Khaldun al-Rubaa, um ex-combatente rebelde de 32 anos, relembra como Palmira se tinha tornado uma "zona militar". "Palmira e as suas ruínas viram horrores. O Estado Islâmico, o Irão, os russos e todas as milícias imagináveis passaram por aqui", acentua.
Antes da guerra, era guia e trabalhou nos sítios antigos de Palmira, oferecendo passeios de camelo aos turistas. Agora que voltou para casa, Khaldun espera trocar as armas por um camelo.
Tópicos
UNESCO
,
Palmira
,
Património
,
Reabertura
,
Público
,
Assad
,
Estado Islâmico
,
Bel
,
Baal-Shamin
,
Turismo