De terrorista a herói de banda desenhada

As aventuras da vida real do ex-militante da al-Qaeda, Nasir Abas, transformaram-se num livro aos quadradinhos na Indonésia, onde o herói relata a sua jornada desde inimigo do mundo ocidental a valioso aliado na luta contra o terrorismo.

Joana Tadeu, RTP /
Primeiras páginas do livro sobre o herói contra o terrorismo DR

A história do homem de 42 anos, natural da Malásia e descrito pela Associated Press como "bem-falante e de modos brandos", foi bem divulgado na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo. Nasir Abas é quase sempre reconhecido nas ruas de Jacarta e chegam a pedir-lhe autógrafos.

Ao longo dos últimos dez anos, Abas passou de apoiante dos extremistas islâmicos, alguns dos quais associados aos mais violentos atentados do sudeste asiático, entre os quais os famosos das discotecas de Bali em 2002, a informador da polícia sobre o trabalho interno da rede terrorista Jemaah Islamiyah.

Atualmente o herói de banda desenhada participa, na vida real, num programa governamental de Jacarta que tem por objectivo convencer terroristas de que é errado matar civis desarmados em nome da fé. "Quero que as crianças aprendam com a minha experiência», diz a personagem de Abas em I Found the Meaning of Jihad (Descobri o sentido da Jihad), o livro de banda desenhada de 137 páginas que apareceu nas bancas na sexta-feira e que em breve será distribuído por escolas e bibliotecas do país. "Não quero que cometam os erros que cometi".

O livro está disponível online, no site da editora Lazuardi Birru e foram até agora impressas 10 mil cópias sobre a vida de Nasir Abas desde os seus primeiros dias numa escola islâmica até à sua contratação como soldado contra a opressão ocidental no Afeganistão no final de 1980 e, sobre a transformação radical que viveu depois de, em 1998, Bin Laden, o número um da al-Qaeda, emitir um pedido de vingança contra os americanos, "independentemente de serem alvos militares".

Alguns dos membros da organização, incluindo o herói desta banda desenhada, não concordaram com as novas diretrizes, mas continuaram a apoiar os seus irmãos. Até que, a 12 de Outubro de 2002, alguns homens da célula de Abas ajudaram nas explosões de duas discotecas em Bali, matando 202 pessoas. "Considerei aquilo um desastre para a religião", disse à Associated Press.

"Esta é o minha 'jihad' agora"
Em 2003 foi capturado pelas autoridades, esperando ser torturado e, provavelmente, morto. Mas foi surpreendido. Com o convívio e a discussão com outros terroristas presos, compreendeu porque não apoiava aqueles ataques. "Olhe para os meus olhos, pareço-lhe hostil em relação ao Islão?", diz o chefe do esquadrão antiterrorismo, o Coronel Bekto Suprapto no livro. "Se não concorda com os bombardeamentos, vamos pará-los juntos." Foi assim que Abas começou a transmitir detalhes sobre a célula Jemaah Islamiyah à polícia.

"Este é a minha jihad agora", diz ele, referindo-se à sua luta pelo conceito perfeito de fé e acrescentando saber que fez muitos inimigos perigosos e que tem que ser cuidadoso.

Desde o 11 de Setembro de 2001, a Indonésia viu morrer 260 pessoas no seu país devido a atentados terroristas, o que levou à atual luta intensiva contra o terrorismo. Informadores pagos e antigos militantes extremistas "convertidos" pelo governo da Indonésia,  garantiram, até agora, a captura de perto de 680 suspeitos, a maioria julgados e condenados em tribunal.

A Associated Press descreve a reação das crianças de uma escolar primária na Indonésia, à chegada do livro, cuja distribuição não terá fins lucrativos. Correram para receber uma cópia, chamaram os amigos para verem e folhearam o livro. "Ohhhh, este tem que ser Osama Bin Laden", disse Anif Ahmad Aulia, de 10 anos de idade, apontando para uma imagem de um religioso islâmico de barba branca.
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