Desenhos minimalistas do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque em Serralves

Porto, 08 Mai (Lusa) - O Museu de Serralves inaugura sexta-feira uma exposição com desenhos de arte minimalista da colecção do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (Museum of Modern Art - MoMA), organizada sob os auspícios do Conselho Internacional deste Museu.

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O comissário da exposição, Christian Rattemeyer, conservador de desenho daquela instituição, referiu que esta mostra, intitulada "Linhas, Grelhas, Manchas, Palavras", reúne desenhos da colecção do MoMA que "partilham os vocabulários de composição, aparentemente simples e impessoais, da arte minimalista".

Ao entrar na exposição o público poderá estranhar a aparente simplicidade das propostas estéticas ali apresentadas, que vão desde os "Mental Exercices" de Mel Bochner (com propostas tão simples como um quadro branco com uma "Linha vertical centrada" e outro com uma "Linha diagonal de canto a canto"), às obras mais elaboradas de Christopher Wool.

Em "Untitled" (1995) este artista propõe uma composição com uma frase simples com um fecho enigmático ["O espectáculo acabou, as pessoas recolhem os seus casacos e regressam ao lar - voltam-se para trás e já não há casacos, nem lar"], tratada graficamente com espaços no meio das palavras e sem espaços entre as mesmas, de modo a demorar a leitura.

Impressiona também a extrema simplicidade de alguns processos usados, como acontece na obra de Leon Polk Smith "Torn Drawing" (1966), que é constituída por papel pintado a guache azul escuro, em que o artista efectuou um rasgão com forma circular, deixando a descoberto o branco do interior do papel de suporte.

Christian Rattemeyer explicou que, avessos aos vistosos e expressivos gestos do expressionismo abstracto, os artistas minimalistas tentaram eliminar a mão do criador da obra de arte, utilizando frequentemente técnicas de fabrico e materiais industriais.

As obras expostas enfatizam não só a escala, mas também questões relativas à percepção, processos pelos quais os minimalistas procuraram privilegiar a experiência física do observador em detrimento da expressão da individualidade artística.

Embora totalmente conseguidos na escultura, estes objectivos suscitam desafios de maior complexidade no caso das obras sobre papel, onde muitas vezes o físico e o táctil só são evidentes nas pequenas inconsistências que suavizam o aspecto anónimo de linhas e grelhas.

A mostra acompanha a evolução de estratagemas formais específicos (linhas isoladas, grelhas, monocromatismo e texto) e de procedimentos particulares (rasgar, dobrar, esborratar e garatujar), desde a expressão experimental até à sua codificação enquanto convenções passíveis de serem apropriadas por outros artistas.

Outro exemplo é constituído pela grelha fina executada a lápis, com um desenho impreciso, de Agnes Martin (1964), marcado pelo contraste entre o toque pessoal da mão e a estética impessoal da régua em evidência.

Para o director do Museu de Serralves, João Fernandes, a atitude dos artistas minimalistas dos anos 60 aqui presentes representa, até pela simplicidade de processos e a sua impessoalidade, um "corte abrupto" com tudo aquilo que até á época se considerava arte.

"Estes mesmos processos são hoje usados pelos jovens artistas contemporâneos elementos correntes dos respectivos vocabulários plásticos, talvez sem se dar conta da ruptura que representou nos anos 60", sublinhou.

Christian Rattemeyer considera que o corte que esta atitude representa é equiparável ao dos impressionistas do final do século XIX e ao dos surrealistas dos anos 20 do século passado.

No final do percurso desta mostra, em complemento - e em diálogo com ela, como diz João Fernandes - o Museu de Serralves apresenta esta exposição, a colecção de desenho da Fundação de Serralves.

João Fernandes, comissário deste sector da exposição, refere a este propósito que desta forma o público pode "confrontar desenhos provenientes de experiências coleccionistas diferenciadas dentro da experiência do desenho na arte contemporânea".

António Palolo, José Pedro Croft, Jorge Martins, Ana Hatherly, Jorge Pinheiro, Dimitrije Basicevic Mangeloos, Robert Morris, Diogo Pimentão, António Sena e Helena Almeida são alguns dos artistas da colecção de desenho de Serralves presentes neste sector da exposição.

PF.

Lusa/Fim


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