Dez anos depois, o Prémio Camões volta a distinguir África
Pela terceira vez desde 1989, o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, no valor de cem mil euros, foi atribuído a um escritor africano, o angolano Luandino Vieira.
A escolha não foi unânime, mas a preferência do único dos seis membros do júri que votou vencido, Agustina Bessa Luis, ia também para um autor africano, o cabo-verdiano Germano Almeida.
"Há dez anos que o galardão não distinguia um autor africano", salientou o presidente do Júri, o escritor brasileiro Ivan Junqueira, referindo-se ao pr émio atribuído em 1997 ao angolano Pepetela.
Luandino Vieira, 71 anos, é "uma voz originalíssima na literatura de lí ngua portuguesa" e o seu "trabalho de recriação" do português "viria a influenciar gerações de escritores" em Angola e nos outros países de língua portuguesa, considerou o Júri.
José Samarago, o único Nobel português da Literatura, e também Prémio Camões, em 1995, disse que o prémio atribuído a Luandino Vieira "demorou, mas a justiça foi feita".
"A sua obra, importantíssima, foi percursora da literatura angolana e tem raízes na terra e na cultura do país", disse Saramago.
Germano Almeida afirmou que "já era tempo de o prémio Camões ser entregue a um africano", mas preferia que o galardão fosse para o seu compatriota João Varela, que considera "o novo Fernando Pessoa das ilhas", ou para o angolano Rui Eduardo Carvalho.
O ensaísta Eduardo Lourenço, que também já ganhou o Premio Camões, em 1996, manifestou-se "contente" com a escolha de Luandino Vieira, mas também surpreendido por se tratar de um autor há algum tempo "fora da cena literária".
O editor de Luandino Vieira em Luanda, Arlindo Isabel, considerou que o Prémio Camões 2006 distinguiu "todos os angolanos", salientando que o escritor "dedicou toda a sua vida ao povo angolano" e "através dos seus escritos, exprimiu o sofrimento e as alegrias do povo".
"Hoje é também um dia feliz para a comunidade dos escritores de países falantes da língua portuguesa, pois vêem um dos seus confrades a ser meritoriamente reconhecido", disse o secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Moçambicanos, Luis Cezerilo.
A notícia da atribuição do Prémio Camões 2006 a Luandino Vieira foi tam bém recebida com "alegria" pela escritora brasileira Lygia Fguindes Teles, que recebeu o mesmo galardão o ano passado.
"Luandino Vieira é uma pessoa excelente, um escritor sério, profundo, preocupado com as causas sociais. Envio do Brasil um abraço entusiasmado ao Luand ino Vieira", disse a escritora brasileira.
José Eduardo Agualusa, um dos membros do júri, classificou a atribuição do prémio a Luandino Vieira, "um reconhecimento da dinâmica das literaturas das literaturas africanas e do vigor da língua portuguesa em Africa".
Luandino Vieira, que reside actualmente em Portugal, já publicou dez títulos de ficção, entre os quais "Luuanda", "No Antigamente, na Vida", "Macandumba", "Vidas Novas", "A Cidade e a infância".
Em Novembro, a sua editora portuguesa, a Caminho, publicará um novo romance de Luandino Vieira, "O livro dos Rios", o primeiro de uma trilogia intitula da "De Rios velhos e Guerrilheiros".
O Premio Camões foi criado em 1988 pelos governos de Portugal e do Bras il.
Desde então já foram galardoados dezoito escritores: oito portugueses, sete brasileiros e três angolanos.